Capítulo 14

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Benedict

- Por favor me diga que você não fez eu atravessar o campo só para vir neste balanço. – disse Eloise, indignada.

- Tenho cigarro. –

- Um pouco melhor. – Agora que Benedict se residia na Casa Bridgerton, pensou que o balanço onde brincavam quando crianças era um bom lugar para conversarem.

- Sinto muito por Penélope. –

- Não poderia ligar menos para Penelope. – Nesse momento, ele decidiu que nunca mais iria tentar entender a espécie feminina. – Eu adoro Penélope, mas sei que você não teria deixado ela para trás se ambos não tivessem envolvidos nas complicações. –

- Por que diabos você não me escreveu por três anos então? –

- Você nos deixou. – Benedict arfou, cansado.
– E ainda se despediu de Francesca e não disse nada para mim. –

- E você teria me deixado ir? – sussurrou.

- Não. Não mesmo. –

- Eloise, você estava casada. E feliz. Porque precisava de mim aqui? – rebateu.

- Para ter certeza que você não acabasse no caixão como papai e Anthony. Eu me lembro do dia em que Edmund morreu. Anthony perdeu um herói que admirava e se tornou automaticamente o chefe dos Bridgertons, mas estava tão atordoado que não conseguia expressar qualquer reação. E mamãe estava grávida de Hyacinth, pelo amor de Deus, e ela só conseguia gritar e chorar. Você quem teve de tirar um tempo para me colocar na cama e Daphne cantou para eu dormir. Mas quando Anthony morreu... – Eloise suspirou, nunca era fácil falar disso. – quando Anthony morreu eu vi você virar ele. E ninguém me consolou ou cantou para eu dormir naquele dia. Mas no outro dia de manhã, você já era o Visconde e mesmo assim ficou o dia inteiro comigo nesse balanço até o maldito funeral. –

- Anthony tinha uma percepção de morte diferente de nós. Ele acreditava que era tão próximo do nosso pai que teria o mesmo destino. –

- Ele te disse isso? – perguntou Eloise.

- Eu nunca acreditei. Mas ele ficava falando para eu tomar conta de vocês, principalmente dos três mais novos. Acho que é por isso que eu fugia de Francesca, Gregory e Hyacinth. E você estava aqui, mesmo que nossas diferenças, inclusive de idade e maturidade, eram grandes. – admitiu. – Sinto muito, Eloise. – Eloise não encontrou as palavras certas para demonstrar seu alívio e aceitar o arrependimento do irmão.

- Quer conhecer minha filha, Bene? –

- Adoraria. Mas preciso falar com uma pessoa primeiro. – Eloise abriu um sorriso de gato e deixou que ele fosse.

Penélope

- Por Deus, Penélope, vá logo. –

- Estamos sozinhas aqui. E se alguém me ver? – Portia e suas duas filhas mais velhas haviam ido a um sarau dos Smythe-Smith naquela noite.

- O que acontecerá? Sua situação não pode ficar pior. – ponderou Felicity, irritada.

- Humpf, não foi tão ruim assim. Eu já era invisível. – Penélope estava enrolando e ambas sabiam, enquanto olhavam do segundo andar para a porta da Casa Featherington. – Ele não bateu. –

- Não importa. Vá. Ou vou subornar o cozinheiro e não teremos bombas de chocolate por um mês. Estou disposta a sofrer também se você não criar coragem. –

- Está bem. – Penélope desceu as escadas apressada e chegou na porta no mesmo momento em que Benedict bateu.

- Penélope. – Ele esperava vê-la, obviamente, mas não que atendesse a porta.

- Eu escrevi. – declarou subitamente.

- O que? –

- Você disse que eu era boa nisso. Mas não achei o que dizer. – Penélope entregou o papel amassado que estava em sua mão. A única mensagem era "sinto muito".

- Foi por isso que você não foi? Por causa do jornal? –

- Lady Whistledown não teve a ver com isso. –

- A colunista nunca mais escreveu depois que eu fui embora. – Benedict se aproximou para desafiá-la. – Você já queria se aposentar e ia comigo de toda forma, o que houve? –

- Não foi minha escolha aposentar Lady Whistledown. – contrapôs Penélope.

- O que aconteceu, Penélope? –

- Eu fui descoberta, Benedict. – Ele já sabia que o beijo tinha sido visto, mas Penélope se referia a sua identidade secreta. – Cressida Cowper pegou meu jornal. –

- Ela roubou seu glorioso trabalho. – pensou alto.

- Ela foi destruída, Lorde Bridgerton. Cressida nunca mais foi vista, e isso tem três anos. Eu não sabia o que estava pensando quando tentei cair na armadilha de Eloise. –

- Você teria a mim para proteger sua reputação. –

- Cressida me ameaçou. Mas esse não era o problema; eu só fiquei temerosa. Você poderia me deixar. – Benedict sentiu o coração ser arrancado do peito. Era engraçado, porque certa vez ele vira Colin fazendo a mesma coisa com Penélope quando disse que nunca se casaria com a moça.

- Você estava duvidando que eu me casasse com você? – Que tipo de homem ela acha que sou? pensou Benedict.

- Você poderia se arrepender. Eu não tenho o necessário para ser uma viscondessa e te dar herdeiros perfeitos. –

- Eu quero filhos, não só homens que ficarão com meu título depois de minha morte. – argumentou.

- Você só está complicando. Não importa mais, Lorde Bridgerton. – Penélope se sentia péssima porque tentava fazer com que Benedict saísse culpado. Mas Cressida, por mais cruel que fosse, tinha razão.

- Minha nossa, quanta formalidade para quem já fez muito mais do que o permitido para mocinhas. – ironizou para atacá-la. – Talvez você não me conheça nem um pouco, senhorita Featherington.

- Benedict, você não é o problema. – admitiu Pen. – Eu só estou acostumada a viver fora do altar onde pessoas como os Bridgertons ficam estampados. –

- Eu discordo. Acho que você só é covarde. – afrontou. – Você sempre foi apaixonada por um irmão Bridgerton e sabia que não podia tê-lo, mas só teve certeza no dia em que Colin disse que nunca se casaria com você. – Benedict percebeu que queria machucá-la com suas palavras, e era por isso que devia ir embora neste instante. Mas continuou. – Acho que tem razão. Eu não poderia me casar com alguém que tem medo da própria sombra. –

- É o suficiente. Vá embora. – rugiu Penélope, cansada da situação.

- Com prazer, senhorita Featherington. –

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Nota da autora: Fiquei angustiada escrevendo esse capítulo kk
A Penélope claramente não se acha boa o suficiente, e parte disso é culpa dos padrões inatingíveis impostos para mulheres; vemos isso o tempo todo no século 21. As debutantes tinham que se comportar de um jeito, falar de um jeito, ter certa postura, se vestir cobrindo seu corpo porque o mínimo toque a arruinaria. Além de que a maior conquista para uma mulher era arrumar um bom casamento, porque elas não tinham espaço na sociedade para qualquer outra coisa. Pen também não vem de uma família influente e popular como os Bridgertons, ela não tem esse privilégio de se proteger por ter um título.
Penélope ainda vai crescer e ter outro pensamento sobre si mesma, mas é uma fic e não posso dizer que na realidade uma menina conseguiria fazer isso sozinha, sem apoio de outras mulheres; nesse contexto, certamente outras sentem as mesmas inseguranças. Acho que o Benedict não devia ter lidado com ela dessa forma, mas ele vai tentar fazer o melhor que pode para Penélope perceber que é uma deusa ;)
A pressão que mulheres têm ainda hoje em dia é muito grande, mesmo que estamos começando a nos conscientizar. Eu ainda sou nova, mas sou mulher e posso falar o pouco que sei. Só quero dizer que você pode atingir tudo o que desejar na vida e não deixe ninguém dizer que voce não é bastante bonita ou talentosa. Com determinação é possível.

Chame meu nome, Penélope. Onde histórias criam vida. Descubra agora