Não me lembro que horas eram quando a minha crise finalmente diminuiu o bastante para eu poder limpar a cozinha. Podia ouvir o choro da minha mãe, era baixo, mas no silêncio da madrugada era possível ouvir até seus socos lentos no travesseiro.
Tente limpar uma cozinha cheia de cacos de vidro e água estando com o corpo mutilado logo depois de ter uma crise de ansiedade, acredite, não é nem um pouco agradável essa situação.
Parei várias vezes por ter relembrado o que tinha acontecido. Uma faca estava no meu pescoço. Uma faca!
"Se não houvesse consequências, eu juro."
Ela tentou, tentou mesmo... Minha própria mãe pegou uma faca e colocou na droga do meu pescoço. Minha garganta ardia pela vontade de chorar, mas eu me segurei, como sempre faço quando ela vai embora depois de acabar comigo. Chorar não ajuda quando a situação está assim, nunca ajudou.
Quando finalmente terminei de limpar a cozinha passavam das duas da manhã. Saí mancando da cozinha para o meu quarto tentando a custo de tudo não fazer barulho para não acordar minha mãe, que a essa hora já dormia de tanto chorar.
Abrir a porta do quarto cor de rosa, o meu quarto. Tirei minha roupa molhada e me olhei no espelho. Corpo magro e frágil, como uma garota. O rosto delicado, como uma garota e o cabelo grande só ressalta isso. Mas eu não sou uma garota, mesmo tendo tantos traços femininos.
Não sou uma menina aqui e nem em outra realidade.
Prestando atenção no meu reflexo eu conseguia ver os vários hematomas no meu corpo, principalmente nas costelas e pernas, que tinham cortes pequenos de vidro. Meu coro cabeludo também estava doendo. Mas o meu rosto estava intacto, como eu achei que estaria.
Aceitar sair com o Karma foi uma ótima escolha, se não fosse por ele eu nem teria forças para andar. Só que eu não estou mentalmente bem para agir normalmente daqui algumas horas, claro que ele me ajudaria a me distrair sobre tudo isso, mas... Seria tão cansativo fingir que nada de ruim aconteceu.
Passo a mão no meu rosto em frustração depois de ter deixado algumas lágrimas teimosas escaparem. Depois de um longo tempo eu saio de perto do espelho e caminho até o meu armário, sempre deixo um kit de emergência aqui.
Sentei no chão do quarto com certa dificuldade e comecei a tratar os meus machucados. Limpei e passei pomada em alguns e nos outros mais sérios, curativos. Já estava acostumado a fazer isso, então não foi tão difícil assim.
Quando terminei me deitei no chão frio, não tinha nem um pouco de vontade de deitar na cama. Ficar ali sem fazer nada era um saco, meus pensamentos correm soltos quando não tenho mais nada para fazer em dias como esse. Infelizmente eu deixei o meu caderno na escola então não posso continuar minhas histórias nele. Por sorte minha mãe não pegou o celular, então eu poderia ler algum livro.
Engatinho até minha calça e pego o aparelho no bolso. Eu tinha desligado ele assim que estava perto da casa do ruivo. Quando eu o liguei fui atordoado com várias mensagens, isso não acontece todo o dia.
Eram mensagens da Rio e do Karma. Já estava tarde mas eu visualizei mesmo assim, abri cada uma por ordem.
"NAGISA! Vc devia ter me contado que foi para Londres, cara."
"Mas tudo bem, eu te perdoo. Eu tenho novidades, assim que der me manda mensagem."
Droga, só me lembrei disso agora. Tinha tantas preocupações na cabeça que nem me lembrei de avisar ela. Amanhã cedo eu respondo, já está muito tarde.
A mensagem seguinte era do ruivo. Cruzes, 8 mensagens.
"Senhor Senhora, ansioso para sair comigo?"
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Complicações
RomanceNagisa é mandado para um colégio interno pela sua mãe. Sua vida não é fácil, seus colegas de classe o perseguem por conta de sua aparência andrógina. Mas sua vida pode mudar com a chegada de um certo ruivo, essa mudança seria boa? Baseado em Handsom...