Capítulo 2

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Jovem criança

A Morte Observa o velho Gaúcho, ela viu cada cena que o velho contou como se fosse um filme, mas a situação toda fazia ainda menos sentido neste momento, pois, já o início de vida daquele velho foi de forma trágica, o que o prendia com tanta força na vida?

Com uma faca que tirou da cintura o Velho Gaúcho tira uma lasca daquele matambre, a oferece A Morte, que pensa em recusar, mas além da desfeita, ela sentiu que talvez aquilo poderia ser gostoso e por isso aceitou e enquanto pegava falou:

— Enquanto você contava pude sentir a emoção em você, mas me diga, não é por isso que você quer ficar vivo?

— Calma vivente, a história tá só no começo. Tenho muito a te contar ainda, e mesmo nesse tempo ao qual te relatei, aconteceram muitas outras coisas, mas devido ao tempo não consigo lembrar.

O velho calmamente pegou a faca e tirou uma lasca para si mesmo daquele matambre, a botou contra os dentes e mordeu com força, começou a mastigar. A Morte foi comer, mas como não estava habituada a comer, mordeu e sentiu a dureza que tem um matambre assado, mas conseguiu tirar um pedaço da carne e ao mastigar pode sentir o suco da carne misturado com o sal grosso trazer um sabor muito agradável, logo pôs mais um pedaço na boca e em seguida sua lasca já não existia mais.

— Gostou do aperitivo? Isso não é nada comparado a essa costela.

A Morte sorri, pois, aquelas coisas tão simples eram agradáveis, mas não o suficiente para convence-la do motivo que o Gaúcho não desiste da vida seja aquele.

— E então, vai me contar o que te prende aqui?

— Te acalma tchê! Até parece que tá com pressa para me carregar daqui...

E após tomar mais um gole de canha, e servir mais um chimarrão, o velho começa a contar mais um pouco de sua história.

***

Não sei bem dizer quanto tempo se passou, mas já fazia tempo que estávamos parando em uma antiga tapera afastada um pouco do povoado, ali naquela tapera nos protegíamos do frio da noite, inúmeras vezes acordávamos de manhã com os animais no campo em nossa volta, pois alguns também adentravam ali para passar a noite.

Pouco antes do início do inverno, Bugre disse que me daria uma lição, nós já havíamos encontrado essa tapera, mas como era calor, não parávamos muito por lá, mas ele sabia do inverno que estava por vir, e então me disse:

— Curumim, o frio vai chegar e precisamos estar prontos. Vamos ter que dar um jeito de arrumar mantimentos.

De começo não entendi bem o que aquilo queria dizer, mas logo ele me mostrou. Saímos de manhã cedo e voltamos para os arredores do povoado, no caminho ele me mostrou uma trilha que levava a uma fazenda, mas não entramos ali, e seguimos para perto do povoado e ficamos observando. Ele então viu que no bolicho havia chegado a pouco tempo mercadorias, pois além de muito movimento o estoque do mesmo estava cheio. Pensei que agora seria minha vingança contra aquele bastardo, mas Bugre insistiu:

— Curumim, de noite pegamos um pouco de coisas, levamos pra tapera, assim eles não percebem. Vingança vem com seu tempo.

Eu tinha sangue nos olhos, mas obedeci, afinal aquele agora era a única pessoa que estava por mim no mundo, eu lhe devia respeito.

A noite chegou, amarramos os cavalos em uma pequena clareira próxima ao bolicho. Bugre vai na frente, e eu ainda um piá o seguia com uma mistura de medo, emoção e também raiva do dono do bolicho. Em pouco tempo, estávamos num mato beirando a cancha reta aos fundos do bolicho, haviam alguns matungos soltos por ali, então Bugre fez sinal para ficar quieto e andar com cuidado, para não chamarmos a atenção dos animais.

O Gaúcho e A MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora