Capítulo 7

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Adulto IV

Os dias iam passando lentamente, mas também voando, trabalhava motivado, sempre pensando no futuro, e assim parecia que não daria tempo de fazer tudo que eu queria para quando o piá, ou prenda chegar. Mas ao mesmo tempo, os dias custavam a passar, pois estávamos ansiosos para conhecer nosso tão amado filho.

O rancho foi mudando, em várias coisas preparando para a chegada, mas não éramos só nos que preparávamos tudo, aquele casal de joão-de-barro já estava com sua casinha pronta também, eles desistiram da janela, e fizeram o ninho num galho não muito alto do tarumã, e sempre que estávamos sentados à sombra daquele árvore, eles vinham e nos recebiam naquele que parecia ser o ranchinho deles. A minha vida nunca foi tão boa, e diferente que eu pensava até alguns meses atrás, avida pode ser maravilhosa...

Os meses passaram, as estações mudaram, e a barriga de Ana já estava bem grande, o dia tão esperado se aproximava. Não éramos os únicos a ansiar por este dia, José estava tão ou mais impaciente que nós, e esse desassossego ia além de só esperar, passando pelo que já passou, sei que ele estava também com medo do que pudesse acontecer, mas a felicidade de ganhar um neto falava mais alto.

Já tínhamos enxoval pronto, berço num quarto novo, só estava faltando o cavalo pra piá, e então encontrei o que eu queria, era irmão do zaino que montei naquele dia. cavalo forte, de raça, mas com boa índole, aquele potro ia ficar uma carruagem para meu piá ou prenda. Levei ele para o rancho e comecei a amansa-lo e em breve ia começar a doma. Primeiro eu comecei tirando as cocegas e qualquer balda que ele tinha, depois amansei a ponto de ele ficar de nosso lado como se fosse o cusco de casa. Deixei manso e dei confiança, aquele cavalo era um cavalo para patrão.

Comecei fazer a doma, e o bicho era inteligente demais, se fosse cria de Lua eu não iria estranhar, pois os dois se tornaram inseparáveis, e muito parecidos, Lua praticamente o adotou. Era lindo de se ver, ao amanhecer o dia, sair no campo e ver Lua e o Potro pastando, quando não correndo e pulando como se brincassem, ou talvez aquilo fosse lições que uma mãe estava passando para seu filhote, não sei dizer ao certo, mas o fato é que aquelas cenas me enchiam ainda mais de alegria, era realmente algo lindo de se viver.

Numa madrugada fria, víamos que levantou um tempo feio, Mariano e eu tínhamos que terminar um piquete, pensamos que conseguiríamos antes de o tempo desabar, pois assim já poderíamos recolher o gado e deixa-lo pronto pra próxima entrega, assim ganhávamos tempo e depois de tempo feio, ainda mais no inverno, é complicado buscar esses desgarrados nos banhados que ficam.

Saímos e começamos a trabalhar rapidamente, afinal de contas, era pouco trabalho até finalizarmos a lida, a gadaria que ficou antes ali, tinha um touro brabo que fez muito estrago nos alambrados, mas como grande parte estava inteira e de pé, acreditamos que daria tempo.

Logo que começamos o trabalho, senti algo ruim, olhei para o horizonte, e as nuvens pretas campeiravam, senti um arrepio, Mariano que olhava pra mim no momento, diz:

— Tá com medo dessa chuva?

Nesse momento um clarão toma conta do horizonte e começa a bater um vento diferente, os relâmpagos que eram longe se aprochegam, mostrando que ia babar água, a tormenta não seria fraca. Mariano então diz com olhos de preocupação:

— Vamos partir, mas antes de ir vou benzer esse temporal...

Ele pegou o machado que havíamos levado junto, e se afastou de onde eu estava em direção ao meio do piquete, lá ele falava algumas coisa enquanto fazia movimentos em forma de cruz com o machado, ao terminar de falar, ele com força golpeia o chão e deixa lá o machado cravado na terra e volta para onde estávamos.

O Gaúcho e A MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora