Adulto Trabalhador
O trecho que eu andava até o potro era relativamente longo, e a cada passo que dava, ouvia palavras que na realidade não serviam de incentivo, pois ninguém acreditava em mim o que mais se ouvia era: coitado desse rapaz, esse ai vai bolear a perna, e nem bem alçou, vai cair, tomara que não se machuque muito, é, pelo jeito, vamos ver sangue hoje entre outras palavras não muito acolhedoras. Mas isso nem me atingia, o que começava a me preocupar era o fato de ao olhar para o potro, ele estava enlouquecido, mesmo sendo magrão, estilo um galgo, era forte e potente, a cada batida de pata no chão podia sentir a certa distância a força que ele tinha em suas longas pernas.
O malacara não acalmava, e ao me aproximar, Mariano me ataca:
— O Bugre, tu tens religião? Pois se tem, olha pra essa cruz branca, pode ser a última coisa que vai ver na vida.
O capataz, debochado, apontava para o zaino, que era todo negro, a não ser a mancha branca em forma de cruz em seu rosto.
— Tô Brincando, Bugre, Boa sorte, se bem que acho que nesse caso a sorte vai ajudar muito pouco.
Acenei com a cabeça, pois na minha mente já estava naquele embate, vi eles tapando o rosto do Zaino malacara, nem assim ele parava de trocar pata no chão, grama já não existia onde o potro batia com os cascos. Sem esperar por auxilio, pulei para o lombo do bicho, já caí no lombo, enforquilhado. Senti a força do zaino, pois ele se puxava no palanque que chegava se arquear, o palanque tremia, parecia que seria arremessado longe a qualquer momento. A força do zaino era tamanha que o laço que o prendia no palanque ficou tão apertado que não era mais possível desatar. O potro se puxava, envergava mais que uns arco que Bugre me ensinou a fazer, meu coração pulava, mas os braços e pernas são firmes, uma mão nas crina e a outra com um mango, as garroneiras, não eram as que eu queria, pois só tinham de aço, eu queria as minhas, feitas por Bugre, na nossa primeira caçada, mas isso só era um detalhe, um pequeno detalhe.
O potro continuava se puxando, mas nada de conseguirem desamarrar do palanque, ele afrouxou um pouco e logo se puxou com mais força, o palanque pareceu ceder um pouco, e então o potro refaz esse movimento, afrouxa e puxa cada vez com mais força. Eu estou quieto, concentrado, mas ouço gritaria na volta, o potro afrouxa mais uma vez, nesta puxada ele faz muito mais força, a ponto de suas patas enterradas no campo deslizarem e ele quase tombar. Antes de deixar o potro tombar, Mariano toma uma atitude, puxa de sua faca, e com um golpe, atora o laço...
O potro voa pra trás comigo enforquilhado nas costas. Antes de o potro pôr as patas na grama do campo, o mango já começou a comer, de um lado e do outro, eu ouvia gritos e risadas, não sei se por aquilo me contagiar, ou por estar muito carregado daquela energia do momento, começo a gritar, de minha garganta sai um sapucai, tal qual aqueles que Bugre por muitas vezes fazia, acho que aquilo foi um chamado para ele, ou quem sabe ele me mostrando que estava ali.
O Potro era maleva, a cada pulo ele se jogava prum lado diferente, e mais se aquele bicho tivesse asa, ia longe, pois o que gostava de tirar as quatro patas do chão.
O potro berrava, bufava, queria de alguma forma me tirar de seu lombo, mas por outro lado, acho que ele também estava gostando da peleia, pois apesar de muitas vezes erguer as patas da frente, ficando completamente na vertical, não se jogou com as costas no chão, isso poderia ter acabado com a peleia rápido, mas o potro jogava limpo, nessa altura, apesar do suador, eu ria sobre ele, e ele parecia rir a cada bufada.
Aquele bicho já havia me levado pra longe, mas além dos peões que nos acompanhavam de cavalo, várias daqueles que assistiam também seguiram.
O Potro então se pôs a galopar, e saltar, quase se quebrando ao meio, então voltava a correr e parar bruscamente, e para completar, aquele bicho escondia a cara entre as mãos, e então saltava e tudo aquilo recomeçava.
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O Gaúcho e A Morte
Historical Fiction"As histórias de vida de um velho Gaúcho podem tocar o coração da Morte?" A Morte, em forma de homem, vai de encontro a um velho Gaúcho, pois está curiosa em saber do porquê, mesmo estando já debilitado pela idade, o velho não quer morrer e descan...