Capítulo 8

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Adulto V

Morte apenas observa, ela sente a dor, a agonia, o sentimento de impotência da perda, mas também, agora tinha um sentimento de dever cumprido. Ela percebe que as emoções mais do que a cognição e polegar opositor, são as verdadeiras razões para o ser humano ser diferente. Todos seres sentem, mas os humanos criaram um emaranhado disso, de tal complexidade, que sem esses sentimentos não são mais capazes de viver. Um desequilíbrio causa depressões, tristezas e dificuldade, no que deveria ser, na realidade, muito simples.

O velho, servindo a carne em uma gamela de madeira, sorri, com lágrimas nos olhos, dor no peito, mas pleno, Morte o questiona:

— é essa tua história? Mas então porquê? Não consigo entender...

— Morte, é simples, muito simples...

***

Na manhã seguinte, acordei com Mariano e mais alguns peões me chamando, acordei, com dores no corpo todo.

— Índio Velho, o que se sucedeu?

Abri os olhos, sorri, e antes de desmaiar novamente falei:

— Mariano, eu me vinguei por todos, Por Meu Piá, por Ana, Lua, Bugre e meus Pais... eu venci...

Depois disso só me lembro de acordar no casarão, com Clara, e José ao meu lado, eles sorriram quando acordei, eu sorri, e depois chorei, chorei muito:

— Clara, José, me desculpem... por favor, me perdoem...

— Calma meu filho, o que aconteceu não tínhamos como evitar, eu sei que dói, mas não tem porque tu se desculpares...

— Não José, não é por isso... é por como eu reagi a tudo isso... eu acabei por trazer mais dor, pois fui fraco, mas José, eu nos vinguei...

Os dois se olharam, Clara mesmo criança, já sabia que o que eu falei não fazia sentido, e fez questão de demonstrar isso, não falando nada apenas olhando, e revirando os olhos, como se aquilo que foi dito fosse bobagem. Eu ri daquilo, pois se me contassem, eu acho que faria o mesmo, então resolvi usar o silencio, tal qual bugre havia me ensinado, afinal de contas, aquilo que vivi não mudaria em nada os fatos.

Sai do casarão, fui andando pela estância, e apesar de estar ali a pouco tempo, em cada pedaço daquele chão, guardo uma recordação, pois foi somente ali que eu realmente vi que viver pode ser bom. Vi a casa de Mãe Maria, onde cuidaram de mim e eu ganhei uma mãe, fui até lá, encontrei Mãe Maria aflita, ela abriu um sorriso ao me ver.

— Mãe, me perdoa... eu sei que te deixei preocupada, que te tirei algumas noites de sono, mas não precisa mais se preocupar, eu entendi, agora eu sei...

Mãe Maria vem e me abraça forte, muito forte, e em meu ouvido diz:

— Que bom meu filho... que bom...

Sai da casa de Mãe Maria, pensei em ir até o meu rancho, mas então lembrei de Anita, já que Mariano insistiu tanto que ela queria me ver, fui até lá. Antes de chegar, Mariano me viu, apeou do cavalo e veio andando de meu lado.

— Vai ver Anita?

— Sim. Vou lá, tu insistiu que Anita queria me ver, agora já posso ir lá...

— Ela vai ficar feliz, ela a dias quer te dar um abraço, pois ela diz que foi tua simplicidade que mostrou que todos são iguais, que mesmo ela tendo a limitação, isso não a faz digna de pena... ela está preocupada contigo.

Eu apenas sorri e seguimos o caminho até a casa dele conversando. Ao chegar na casa dele, Anita estava na rua, ela nem percebeu nós nos aproximando, desenhava, concentrada no que fazia. Mariano ia chama-la, eu não deixei.

O Gaúcho e A MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora