Capítulo 1

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Piá

Eu estava sentado na grama, de frente à casa de madeira, mas muito bem-acabada, entre algumas folhagens de minha mãe, existia um espaço de terra, sem grama, e ali eu brincava com minha tropa de ossos, como eu gostava daquilo, passava horas, muitas horas brincando no meu ranchinho, e a cada osso que encontrava minha tropilha aumentava. Eram poucas as coisas que me faziam sair de meu cantinho de brincar, pois ali eu era patrão, tinha minhas tropas que obedeciam a toda que qualquer ordem que eu dava. Mas bastava ouvir o som da marreta ressoando sobre o aço quente que eu parava o que estava fazendo e ia até o galpão de meu pai. Galpão de trabalho, de pau a pique, mas de grandes lembranças. Eu chegava lá perto, a certa distância, e ficava só observando e admirando aquela cena.

As faíscas voavam pelo ar, eu observava a certa distância, mas me maravilhava a cada marretada, o ferro em brasas começava a ganhar novas formas, mas o que eu gostava de ver era o aço sendo espancado e pequenas fagulhas voarem. Via estrelas cadentes surgir e morrer enquanto uma faca ou ferradura surgia.

Meu pai, homem forte, fazia de tudo, mas ao que mais se dedicada era em ser ferreiro, ele fazia desde facas, ferraduras, freios para os cavalos, pregos entre outras coisas. Sempre trabalhou muito para garantir o nosso sustento, e como ele sempre dizia: Tu sempre vai vencer se sabe onde quer chegar!. E ele sempre soube, o destino dele era dar uma boa vida para nossa família, e com muito trabalho ele fazia isso.

Depois de muitos sabres e facões que foram para alguns confrontos, ele conseguiu adquirir um pedaço de terra que podia chamar de seu, e ali, ele começou a construir e assim como eu na tropa de osso, aos poucos ele foi crescendo, e tínhamos uma vida boa, ele até me deu um pingo zaino de nome Caudilho, me presenteou em meu aniversário de sete anos e eu adorava aquele cavalo.

Meu pai também gostava de cavalos e seguidamente saiamos para desbravar alguns campos e matos, me lembro como se fosse hoje, saiamos de casa sob o olhar de minha mãe, e assim que ganhávamos distância ele me olhava e saímos em disparada, em carreira, fazendo uma cancha reta imaginária. Meu coração dispara ao me lembrar disso, a emoção que eu sentia, a felicidade estampada no semblante de meu pai, o vento esparramava nossas melenas, e ali nos sentíamos livres. Após uma carreira e outra parávamos em algum banhado para os cavalos matarem a sede, e sempre, por de baixo das encilhas, ele carregava um matambre, que ficava salgado pelo suor do cavalo, e em qualquer lugar que parávamos, podíamos fazer um fogo de chão e assar, para assim matar nossa fome.

Nessas oportunidades, meu pai sempre me ensinava algo novo, me ensinou a fazer mundéu, arapuca, entre outras coisas para caçar, me mostrou muitas coisas e algumas lições dele fazem eu ser o que eu sou hoje. Por certa feita, eu e meu pai estávamos comendo nosso matambre a sombra de uma figueira, e deixamos nossos cavalos pastando perto de nós, e de repente ele percebe que o Caudilho relinchou diferente, e nisso percebeu que um bugre pular e tentar sair em disparada com o Caudilho, ele não pensou duas vezes, saiu correndo montou em sua égua baia e foi a caça daquele bugre. Eu de longe observava tudo. Meu pai em um galope já estava na cola do bugre, que pareceu se assustar, tentou despistar e fugir de meu pai, entrando em um capão e dando a volta, mas não conseguiu, e meu pai no encalço do bandoleiro, pedia para ele parasse, mas o bugre não deu de ouvidos e parecia assustado com a situação se bandeou para um pequeno morro de pedra que existia a poucos metros de onde eu estava, percebi meu pai diminuir o galope e demorei pouco para perceber o porquê, mas após segundos o galope de Caudilho virou uma nuvem de poeira, eu pude jurar que vi faíscas saírem dos cascos de meu cavalo, e então meu pai se aproximou, e viu o bugre no chão, ele pegou o Caudilho que já se estava de pé e falou algo para o bugre, não consegui ouvir o que foi, mas então ele estendeu o braço e ajudou o bugre a se levantar, e os três começaram a andar em direção a sombra de figueira onde eu estava. Ao chegarem perto, pude ver que o bugre estava bem machucado, mas isso não importava para mim, pois ele queria roubar meu cavalo, queria que ele tivesse morrido, mas meu pai trouxe os cavalos a cabresto, os deixou agora pastando na soga, e então me perguntou:

O Gaúcho e A MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora