Capítulo 3

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Adolescente/ Adulto

Numa manhã fria, onde Bugre e eu ficamos dentro da tapera, agora mais arrumadinha e fechada, ouvimos Lua e o Cavalo de Bugre bufarem. Aquilo chamou nossa atenção, apesar de mal o sol ter aparecido, nós já mateávamos ao redor do fogo. A agitação dos cavalos aumentou e nós começamos a ouvir um rangido, não conseguimos identificar de começo, pois o vento insistia em soprar e atrapalhar nossa audição. Depois de poucos momentos, percebemos que o rangido parou, mas ele estava próximo, bem próximo. Quando, do nada, um grito ecoa do lado de fora da tapera.

— Oh de casa!

Não sabíamos quem poderia ser, pois estávamos há anos morando ali, e nunca ninguém tinha ido nos visitar. Chegamos, em certa feita, que fomos a cidade para trocar um pouco de erva e alguns quilos de charque por outros mantimentos, ouvir que algumas pessoas comentavam para tomar cuidado com os monstros da tapera, que eram dois monstros deformados que espreitavam as pessoas e quando ficavam com fome, era certo que alguém desapareceria. Pois aqueles monstros comiam gente.

Bugre e eu nos divertimos com aquilo, e também gostamos dessa fama, pois assim ninguém se arriscaria a nos importunar.

Não demorou para o grito se repetir.

— Oh de casa!

Desta vez acompanhado de algumas batidas de palmas. Então eu e Bugre saímos da beira do fogo e fomos até a rua, e bastou sairmos na porta para vermos uma grande carroça, com uma lona arredondada por cima, um cavalo enorme a puxava, e em frente a ela, se apresentava um senhor encapotado, que com barba rala e melena desgrenhada por recém ter tapeado o chapéu se apresenta:

— Bom dia. Me chamo Antônio, mas sou mais conhecido como Tonho Mascate. Desculpem o infortúnio, mas que a noite a geada foi forte, eu parei aqui por perto, mas não sei para que lado fica a cidade, e ao ver a fumaça saindo da casa de vocês pensei em parar para me esquentar um pouco. Quem sabe tomarmos um café...

Bugre, desconfiado, perguntou:

— Mascate? Vocês já não vendem para o bolicho do Tonico? O que quer para cá?

— Desculpe, mas é a primeira vez que venho para estas querências, eu estava lá pra banda oriental, mas com o começo da revolução, achei mais prudente e lucrativo, vir para esses lados. E se bolicho é mesmo que eu conheço, eu trago um aqui na minha carreta. Olhem.

Ao levantar um pouco a lona, podemos ver muitas mercadorias de tudo que possa imaginar. De cuias a bananas, de charque até umas guampas que pelo jeito transportavam algum liquido. Havia muita coisa, mas ao ver um objeto em especial minha atenção foi pega. Ali naquela carroça do tal mascate, haviam algumas bombachas e coletes novos.

***

— Pois me deixa explicar. Naquelas andanças pela cidade, eu ouvia muito falar em baile do morto, e todos que falavam sobre, estavam com um sorriso de estampa. Aquilo parecia ser muito bom, e eu queria muito ir até lá e conhecer tal baile. Mas ao comentar isso com Bugre, ele falou que isso seria complicado. Pois além de custar alguns cobres (as moedas eram feitas de cobre naquela época), eu não tinha roupa para ir em um local desses. Bugre chegou a dizer que já havia visto escravos com roupas melhores que as nossas.

A Morte então termina o seu chimarrão, e pega uma dose da guampa, vira em um gole e diz:

— Tá, estou entendendo a história, mas o que é esse baile do morto? É algo em minha homenagem?

O velho Gaúcho, colocando mais uma tora de lenha para assar a costela ri:

— Chê vivente, vai saber! Quem duvida?

O Gaúcho e A MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora