3: Não Conte Pra Sua Namorada

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Soluço sabia extatamente como aquela noite acabaria, ele apenas não esperava que tudo se desenrolasse tão rápido depois de chegarem a suíte de hotel onde era a festa. Uma dose de tequila, algumas risadas, três músicas inteiras, vinte minutos de calmaria, uma taça de champanhe foi tudo o que precisou acontecer antes que os dois tropeçassem para dentro do quarto - que até então estava trancado - e nem mesmo os comentários indiscretos de alguns colegas, a música excessivamente alta - como ainda não tinham sido expulsos do hotel era um milagre - ou o forte cheiro de maconha seria capaz de distrair Soluço do gosto de pêssego, tequila e champanhe que explodiu em sua boca assim que beijou a loira.

Soluço não mentiria dizendo que nunca em sua vida tivera fantasias com aquele momento, Astrid era o tipo de garota que conseguia despertar as mais nefastas fantasias em qualquer um e Soluço, é claro, nunca foi uma exceção mas Astrid sempre foi apenas aquilo - apenas uma fantasia imoral e proibida - e Soluço não era do tipo que se perdia em suas fantasias impossíveis por tempo demais, de modo que ele nunca imaginou com detalhes como aquela noite seria até ouvir o click da porta do quarto sendo trancada. Sua imaginação correu a um milhão de quilômetros por hora, seu coração tropeçava nas próprias batidas, a adrenalina queimava suas veias e o deixava tonto e parecia que todos os seus sentidos aguçados demais se misturavam o confundindo mais ainda. 

Era a pior e a melhor coisa que já tinha experimentado. 

Era o melhor toque, o melhor beijo, a melhor euforia.

Era seu pior desejo, sua pior loucura, seu maior vício. 

Soluço estava certo se que Astrid Hofferson arruinaria sua vida naquela noite porque como ele seria capaz de simplesmente viver como se nada tivesse acontecido? Como ele a veria pelos corredores e resistiria a vontade de tê-la outra vez? Nada daquilo era justo e mesmo assim, mesmo sabendo que aquele seria talvez o maior erro de sua vida Soluço ainda não tinha forças o suficiente para se afastar.

Foi Astrid quem quebrou o beijo para a infelicidade de Soluço que grunhiu em descontentamento. A separação durou apenas o suficiente para que Astrid lhe arrancasse a camisa branca, mas Soluço não a puxou novamente para um beijo desesperado como parte de si queria, ao invés disso, usou aqueles poucos segundos para adquirir o mínimo de controle que conseguia e com a voz arrastada e rouca demais que causou arrepios em Astrid disse:

- De joelhos.

Astrid estremeceu, sentindo o  próprio coração quase sair pela boca. E como ela poderia recusar?

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Já era muito depois da hora do jantar, beirando ao horário do toque de recolher e Soluço ainda não havia voltado. Mas bem, ninguém que estaria na festa havia voltado ainda e a escola apenas começaria a se preocupar depois que o relógio chegasse às meia noite.

Todas as noites de jogos eram assim e até aquela noite todos os alunos - mesmo bêbados e intoxicados com todo tipo de drogas possíveis - conseguiam chegar antes que a escola começasse a ligar para os pais, mesmo que para entrarem no campus precisassem ser carregados pelos amigos mais sóbrios.

Por isso Perna-de-Peixe não se preocupou com a ausência tardia do amigo, Soluço simplesmente devia voltar com os outros. Então Perna-de-Peixe se manteve no sofá de um dos salões comuns se distraindo com o celular.

- Perna, - ele se assustou com a voz de Rebecca se aproximando do sofá onde estava, a garota tinha a testa franzida e olhava para os lados como se procurasse alguém - você viu o Soluço? Estou tentando falar com ele o dia todo.

Perna-de-Peixe tentou se manter calmo, pensando em como responder para não acabar ferrando o amigo. Sabia que Rebecca deveria o estar procurando para discutirem o "término" e se a garota houvesse o procurado naquela manhã Perna-de-Peixe teria certeza de que Soluço não hesitaria em reatar o relacionamento.

Mas agora com Astrid Hofferson correndo atrás dele feito um cachorrinho? O garoto duvidava até mesmo que Soluço pensaria em rejeitar as tentativas de reconciliação de Rebecca. Mas ele não podia dizer nada daquilo, não queria magoar a garota, então apenas respondeu.

- Ele foi numa festa depois do jogo.

Rebecca ergueu uma sobrancelha em confusão. Soluço nunca ia em jogos, muito menos em festas e por um momento ela se perguntou quem o havia convidado - porque Soluço certamente não teria aquela ideia sozinho - mas deu de ombros.

- Pode pedir pra ele me procurar quando voltar?

Perna-de-Peixe assentou e os dois de despediram. O garoto voltou sua atenção ao celular novamente e torceu para que o amigo não estivesse fazendo nenhuma besteira.

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Os beijos de tornaram mais lentos e preguiçosos a medida que seus corpos esfriavam. Nenhum dos dois percebeu o momento em que a música alta havia parado ou os primeiros raios de sol que apareciam no horizonte.

Foi Soluço quem quebrou o beijo, saindo de cima da garota para se deitar ao lado dela e levou longos minutos para que os dois voltassem completamente aos sentidos.

- Que horas são? - Foi a loira quem perguntou e Soluço precisou se esforçar para enxergar os números no relógio de cabeceira.

- Cinco e meia.

Um segundo inteiro se passou com os dois em silêncio enquanto seus cérebros ainda meio dormindo processavam o que aquilo significava, foi Astrid quem entendeu primeiro.

- Da manhã?

E então os dois estavam de pé em um salto, procurando as roupas jogadas pelo chão, as vestindo sem se importar de ficavam desgrenhadas ou do avesso e com os dedos entrelaçados um no outro os dois saíram do quarto correndo em direção ao elevador.

Astrid nem mesmo olhou em direção à recepção enquanto os dois atravessavam o lobby e voltavam para o conversível, ela nem mesmo esperou que Soluço prendesse o cinto de segurança antes de ligar o motor e arrancar com o carro, dirigindo como se fizesse parte de uma corrida ilegal e Soluço realmente se perguntou se era daquele jeito que morreria, mas ao menos e direção descuidada de Astrid conseguiu com que os dois chegassem no internato antes do amanhecer.

Soluço respirou fundo, aliviado quando o carro finalmente parou, ela desligou o motor e se inclinou sobre o banco, amassando ainda mais a camisa de Soluço ao puxá-lo para um beijo de despedida que acabou sendo longo demais.

Os dois desceram do carro, trocaram um breve "boa noite" e cada um correu em uma direção diferente para chegarem aos dormitórios.

Perna-de-Peixe acordou com o barulho que Soluço fez ao fechar a porta do quarto e não precisou pensar muito para saber que o amigo sem dúvidas havia feito uma besteira.

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