Um objetivo em comum

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Depois da saída do professor, já de pé, Hinata olhou para Sasuke sem entender ou querendo que não fosse o que ela entendeu. 
- O que ele disse? - o moreno perguntou com a mesma cara dela.
- Ele é maluco, não deve ser nada - disse pegando o esfregão - Vamos terminar isso logo. Antes que eu acabe tendo que perder mais tempo.
O Uchiha apenas pegou o outro esfregão e começo a ajudá-la. Mesmo que ele se sentisse inabalável, a cena de minutos atrás fez ele perceber algo estranho, algo que fez seu sangue gelar, seu ar travar e seu coração acelerar. Como não queria sentir aquela sensação novamente, como se seus sentimentos estivessem fora de controle, decidiu não mexer mais com a Hyuuga.
Após ter que limpar toda a escola, Hinata se jogou na cama depois de um longo banho. A maior parte do tempo, ela ficou de baixo do chuveiro pensando em Naruto, no que o professor disse, nos seus trabalhos, estava começando a querer pedir a ajuda do moreno.
Quando sentiu seus olhos pesados  finalmente cedeu, os fechando, mas a Hyuuga os abriu imediatamente. A imagem que viera a sua mente, só podia ser loucura. Por que a imagem do rosto do Uchiha estava impregnada no fundo dos seus olhos? Sentiu raiva de si mesma. E procurou por alguma foto do namorado, que ficou olhando por horas até cair no sono.
No dia seguinte, depois da aula, todos os alunos do curso de teatro deveriam comparecer no auditório para a nomeação do papéis para a peça. Sasuke se sentou em uma ponta da segunda fileira enquanto a Hyuuga sentou na outra. Queria estar o mais longe possível da presença dele.
- Sejam, mais uma vez, bem vindos - o professor, por algum motivo abriu um largo sorriso - Hoje vamos anunciar os papéis e entregar suas falas. Vocês teram alguns dias de ensaio para a apresentação que será feita no final do ano para os pais, familiares e será aberto à população - deu um sinal com as mãos para que Lee entregasse as folhas a ele - Vamos começar. A peça a ser apresentada será Romeu e Julieta. Como não temos muitos alunos, tive que fazer algumas adaptações. Para o papel "primo da Julieta, Telbaldo" teremos, Kankuro; para o papel de "primo de Romeu, Benvolio", Shisui; para o papel de "frei", Chouji ; para o papel de pai e mae dos princípais,  Shion e Sasori, serão os Capuletos e Temari e Shikamaru, os Montecchio ; para o papel de Boticário, Shino; para o papel de empregada dos Capuletos, Hana; para o papel de príncipe Escalo, Rock Lee.
- Mas senhor, eu achei que eu seria o Romeu - Lee comentou triste pela notícia.
- Ser um príncipe é muito mais nobre, meu caro Lee - Rock Lee continuou triste por não ser o Romeu enquanto o professor continuou - Para os papéis de Romeu e Julieta, Sasuke e Hinata.
Ambos se entreolharam imediatamente. Naquele momento eles entenderam o motivo de animação do professor no dia anterior. A morena pensou em falar com o professor naquela mesma hora, mas achou melhor deixar para um momento que Sasuke não estivesse por perto. Ele certamente a infernizaria dizendo que ela estava com medo de encenar com ele por ter sentimentos. Ela decidiu esperar pelo momento certo e então o convenceria.
Depois de ter anunciado os personagens, o professor entregou as falas de cada um e os liberando, mas a Hyuuga ficou no auditório. O professor ainda não havia notado sua presença, então ela esperou que ficassem sozinhos para fazê-lo.
- Professor - ele se virou esperando que ela continuasse - Desculpe incomodá-lo, mas eu gostaria de saber se eu posso recusar fazer o papel de Julieta e fazer um papel que seja mais… - procurou as melhores palavras - do meu nível. A Julieta era conhecida por sua beleza e…
- Desculpe senhorita, mas não tem nenhuma outra aluna dessa matéria que tenha mais direito a esse papel - voltou a mexer em seus papéis.
- Mas e se eu me r-recusar a fazer? - sentiu estar sendo muito ousada e temeu pela resposta.
- Então reprovará - ele foi sincero, pois não havia outro papel que ela poderia fazer que já não estivesse ocupado.
Sem contestar a decisão do professor, Hinata saiu da sala se sentindo derrotada. No entanto, apenas a velha Hinata desistiria tão facilmente. Ela levantou a cabeça, estufou o peito e seguiu para seu quarto, pensando em como convenceria o professor a mudar de ideia.
No dia seguinte, após as aulas, a Hyuuga foi para ensaio com tudo planejado. Se ela fosse uma péssima atriz, ele poderia mudar de ideia, já que ele parecia ser um professor que gostava de seus trabalhos bem feitos.
Ao chegar no auditório, viu Sasuke conversando com o professor e ele parecia um pouco zangado. Talvez também estivesse tentando fazer o mesmo que ela. O moreno odiava palcos tanto quanto a Hyuuga.
Após a chegada de todos, o professor pediu que dessem início ao primeiro ato, que correu tudo bem. Todos leram suas falas dando o seu melhor para interpretar, com exceção de Lee que atuou com um desânimo perceptível, que não passou despercebido ao olhos do professor.
Quando chegou a segunda cena, onde o Uchiha entraria, o professor parou as cenas várias vezes pela postura e falta de entusiasmo do moreno. Ele estava disposto, assim como ela, a não participar.
Assim que chegou a vez de Hinata, por ter visto como Sasuke havia sofrido muitas broncas por sua má vontade, tomou outro rumo em seus planos de se livrar daquele papel.
- Q-q-que é q-q-que h-houve? q-quem me cha-chama? - lia o papel fingindo ter dificuldade.
- Vossa mãe - disse a AMA, a empregada dos Capuletos. Hana interpretava bem. Havia ouvido que ela queria o papel de Julieta. Daria tudo para trocar de lugar com ela.
- Se-Se-senhora…
- Parou - o professor deu um grito e subiu ao palco, parando de frente para Hinata - Qual é o problema? Você não é gaga.
- Não sei ler muito bem, senhor - fez uma expressão triste e abaixou a cabeça. Havia ensaiado muito em seu quarto.
- uhm…- respirou fundo pensando no que faria - O ensaio está terminado por hj. Continuamos amanhã - quando Hinata pensou estar livre, ouviu o professor lhe chamar - Hinata Hyuuga e Sasuke Uchiha. Sentem-se - indicava com o dedo onde eles se sentariam no auditório, ambos se acomodaram na primeira fileira com três bancos de distância - Devo acreditar que é coensidencia que ambos os principais que se recusaram assumir seus papéis, tenham dificuldade com a leitura? Sou eu quem vai dizer ao diretor para fazer a carta de recomendação de vocês, acredito que já saibam disso - andava de um lado a outro ainda sobre o palco - Por esse motivo, espero que também saibam que isso depende de seus desempenhos na peça. E se for mesmo verdade que  possuem esses problemas, quero que se juntem e ajudem um ao outro. Não há prática que não leve a perfeição. Estão dispensados.
Hinata pegou sua bolsa e saiu pisando duro. Não viu se o Uchiha havia ficado e tentado mais uma vez convencer o professor ou se havia voltado para seu quarto. Não importava. Aquilo era tudo culpa dele. Sua vida seria muita mais feliz se ele não houvesse a escolhido para corromper sua alma e levá-la ao inferno junto a ele.
A Hyuuga se lembrava de sempre perdoar as pessoas. Procurava não guardar mágoa, mas Sasuke já havia excedido sua cota de bondade. Ela podia sentir que estava se tornando alguém diabólico como ele. Fingir que não sabe ler? Nunca havia feito nada do tipo.
Assim que a morena entrou em seu quarto, colocou  sua bolsa ao pé da cama e se jogou no colchão pressionando seu rosto contra o travesseiro. Odiava o fato de ter deixado que o Diabo em pessoa a influenciasse daquela forma.
Após um tempo se lamentando por sua atitude na peça, Hinata seguiu para o banheiro. Precisava de um banho para ver se limpava sua culpa. Assim que saiu, ouviu batidas na porta, mas não sabia se atendia ou não, já que já estava de pijama. Mesmo com receio de ser vista em uma vestimenta tão infantil como aquela, abriu a porta dando de cara com quem não queria ver.
- O que quer? - falou assim que o viu a olhar, pois antes estava com sua atenção no corredor. Garotos não podiam entrar no dormitório feminino.
- Me deixa entrar - tentou passar, mas a morena se pôs no caminho, o impedindo.
- Nem pensar. Se eles te encontrarem aqui, adeus chances de entrar em uma boa universidade.
- Vai ter problemas se eles me virem aqui fora também - se inclinou aproximando seu rosto do dela - Eu posso dizer que combinamos de nos encontrar - levantou uma das sobrancelhas a provocando, esperando a desculpa que ela encontraria.
- Diz o que quer e vai embora - seguiu para a cama onde se sentou, abrindo caminho para o Uchiha, que entrou e fechou a porta.
- Vim pedir que desista da peça - disse sério.
- O que? Você tem minhocas na cabeça? Nem pensar - se arrependeu no mesmo instante de ter permitido sua entrada.
Sasuke continuou a observando, não tinha argumentos para convencê-la. 
- Você me fez ficar sem amigos, sem namorado e longe da minha família, e vem me pedir pra desistir da minha chance de ter uma boa recomendação?
- Eu prometi aos meus pais que faria uma boa faculdade para ajudar meu irmão e se você desistir, talvez a peça não aconteça, já que ele quer exclusivamente você - não se alterou.
- Então diga a eles que você deve essa vaga a mim.
- Eles estão mortos.
Silêncio. Hinata ficou algum tempo o olhando e então desviou o olhar procurando alguma forma diferente de resolverem aquilo, mas veio a raiva assim que lembrou o motivo de estarem naquela situação.
- Isso foi tudo culpa sua. Se não tivesse tido aquela ideia idiota de ficar escorregando no sabão, eu não teria caído em cima de você e o professor não teria tido essa genial ideia - caminhava em direção a ele até que parou frente a frente e ficou nas pontas dos pés para finalizar a frase e voltou ao chão.
O Uchiha continuou sem dizer nada. Ele a encarava e Hinata podia ver nos olhos dele o quão importante aquela promessa era pra ele.
- Olha, eu não vou desistir, mas se quiser, podemos nos unir para fazer o professor trocar nossos papéis. Pode ser? - ficou o encarando enquanto esperava por uma resposta, mas ele apenas continuou a olhando e ela poderia dizer que ele analisava cada canto de seu rosto. Corou por se lembrar do que Sakura havia dito, desviou o olhar se afastando e voltando para a cama - Pode ser ou não, Uchiha? - disse ainda de costas, não havia coragem para olhá-lo novamente. 
- Pode ser. Amanhã terminamos essa conversa.
Quando se virou para olhá-lo, viu a porta sendo fechada. O sem educação nem havia se despedido. 

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