Nestha
— Eu sabia! — Meus olhos crescem e minhas sobrancelhas escalam minha testa quando Feyre abre um sorriso, batendo palmas e dando alguns pulinhos no sofá.
Olho para Cassian, mas ele apenas dá de ombros e enfia uma maçã na boca para esconder o sorriso maldito que eu sei que vi em seus lábios.
— O que diabos você sabia? — Pergunto, áspera. Cassian me acerta com seu joelho na lateral do corpo, sentado no braço da poltrona onde estou.
Mas Feyre não parece ter notado meu tom, pois continua tão empolgada quanto uma criança entupida de açúcar.
— Eu sempre soube que tinha algo no ar entre vocês. — Ela diz, com um olhar de quem sabe tudo e um sorriso ainda maior.
Fazia muito tempo que Feyre não sorria para mim.
Para ser honesta, eu não me lembro da última vez em que a vi sorrir na minha direção, e por algum motivo me sinto incomodada que o único motivo para ela estar sorrindo agora é exclusivamente por causa de Cassian.
Cassian, que continua mastigando ruidosamente ao meu lado para não ter que se pronunciar.
— Não tinha nada ent-... — Mais um empurrão de joelho em meu braço e eu lanço um olhar assassino para ele. — Não sei do que você está falando. — Reformulo para ela.
Tínhamos dirigido até a minha casa após o treino e eu agradeci aos céus que Feyre era a única nas redondezas. Elain estava no estágio e Rhysand tivera que resolver alguns problemas na administração da Academia.
Feyre estava no ateliê, mas quando abriu a porta e viu nossas mãos juntas, ela alegremente deixou tudo de lado e nos arrastou para a sala de estar do andar de baixo, ainda vestida em seu macacão sujo de tinta.
Cassian tinha prometido que deixaria que eu fosse a única a contar, e ele estava se entupindo de frutas desde então, para conseguir manter a boca fechada. Reviro meus olhos para ele quando olho novamente em sua direção e recebo um dar de ombros de falsa inocência.
O desgraçado está se divertindo.
— Sei lá, o jeito como vocês encaravam um ao outro só podia significar um ódio mortal ou um tesão muito mal reprimido. — Feyre explica, fazendo um gesto de dispensa com a mão.
Cassian engasga ao meu lado e sinto que meu rosto inteiro está quente, de vergonha ou raiva, não sei ao certo.
Viro-me para ele e pode ser que eu esteja batendo com um pouco mais de força que o necessário em suas costas, até que ele recupera o fôlego.
Seu rosto está tão vermelho como acho que o meu está.
Nunca pensei que essa conversa pudesse ser tão desconfortável.
— Ódio mortal era uma boa aposta. — Murmuro para Feyre e ela ri.
Para mim.
Como se de repente eu fosse uma pessoa diferente. Só por estar com Cassian. Como se ele me tornasse mais digna de seu afeto.
Tensão se espalha por meus ombros e eu aperto meus punhos, meu maxilar doendo para dizer algo que mostre para ela que ainda sou a mesma, que ela já pode parar de fingir que gosta de estar conversando comigo. Rindo para mim.
A mão de Cassian encontra meu ombro, como que sentindo meu estado de espírito mudar pela minha espinha endurecida.
Feyre, no entanto, não parece notar nada nesses segundos. Ela ainda está sorrindo. Seu sorriso que enfia agulhas sob minha pele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pedaços de Nós
RomanceFragmento: substantivo masculino 1. pedaço de um objeto que foi desfeito, quebrado; pedaços. 2. aquilo que resta de uma obra antiga. Nestha Archeron jamais se permitiu um único gesto de fraqueza. Um pedido de ajuda. Ela não precisava de ajuda. Mas a...