Pedaços de Nós

Capítulo 15 - Arcade

A broken heart is all that's left

I'm still fixing all the cracks

Lost a couple of pieces when

I carried it, carried it, carried it home

I'm afraid of all I am

My mind feels like a foreign land

Silence ringing inside my head

Please, carry me, carry me, carry me home

— Arcade (Duncan Laurence)

Nestha

Meus joelhos tremem, batendo um contra o outro, a tensão se retorcendo por baixo da minha pele e escorrendo como suor frio por minhas costas. Meus olhos não saem do ringue por um único segundo, separado de nós apenas pelo vidro espelhado da sala especial, feita para os espectadores de alto nível.

Sequer consigo ouvir ou registrar o que acontece à minha volta, cada poro do meu corpo exalando um nervosismo gutural.

A cada golpe que acerta Cassian, uma parte de mim se quebra de medo. A cada golpe que ele dá, um pedaço meu se desfaz, incapaz de reconhecer aquela besta que tomou o lugar do homem mais sensível que já conheci.

É como um teatro macabro que se desenrola na frente dos meus olhos, essa versão animalesca de Cassian ameaçando manchar de forma irreparável a imagem que tenho dele em meu coração e que quero proteger dele mesmo.

Agora entendo o que ele quis dizer quando falou que não queria que eu assistisse o que ia acontecer neste maldito clube de luta.

Meu coração está apertado como que por um punho fechado, sangue bombeando e zumbindo dentro dos meus ouvidos.

Mal consigo respirar quando vejo o sangue que mancha o chão do ringue. Sangue que tiraram dele. Sangue que ele arrancou de outros lutadores.

Minhas mãos apertam com força os braços da cadeira onde estou sentada quando anunciam a última luta.

Só mais uma luta.

Mas nada consegue me tirar do estado de extrema tensão em que me encontro.

Não sei se algum dia poderei respirar sem sentir esse peso que agarra meu ventre depois de ver esses homens se atacando como bichos, ao ver o lado mais sombrio de um ser humano que se dispõe a despedaçar outro ser humano, sem culpa ou consciência.

O barulho rítmico de uma sola contra o chão finalmente captura minha atenção para longe da visão de Cassian ensanguentado e suado se balançando de um lado para outro, esperando por seu último adversário.

Rhys.

Seus sapatos caros batem contra o chão de taco sem parar, num tique nervoso que nunca imaginei vindo de um homem como ele, tão seguro e confiante.

Seus olhos também estão travados à frente, as mãos juntas, com os dedos firmemente entrelaçados à frente da boca. Suas sobrancelhas estão apertadas uma contra a outra num olhar soturno e angustiado.

Azriel está em pé, uma das mãos apertada num punho fechado contra o vidro, como se quisesse atravessá-lo e acabar logo com isso.

Por um instante, nossos olhares se cruzam e seus olhos avelã ficam mais suaves.