Prólogo

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Nestha

Suor escorre entre meus seios e por minhas costas quando me sento de forma brusca sobre a cama.

O mesmo suor gelado de todas as últimas três noites.

Bem devagar, ergo minhas mãos à frente do meu rosto e observo meus dedos tremerem sob a luz tênue do luar, filtrada pelo vidro embaçado do pequeno basculante na parede oposta.

Engulo em seco e me jogo outra vez contra o colchão, tentando voltar a respirar normalmente e expulsar as imagens do pesadelo da minha cabeça. Minha garganta está áspera, como se eu tivesse gritado, e me pergunto se realmente o fiz.

Toda a casa parece silenciosa agora, então suponho que não acordei ninguém afinal.

Tomo fôlego mais uma vez e ergo novamente as mãos para meu rosto, dessa vez limpando as lágrimas ridículas que se acumularam sob meus olhos.

Meu estômago protesta, a fome me roendo de dentro para fora.

Eu não conseguia me lembrar da minha última refeição.

Encaro o teto de madeira polida do meu quarto e lembro do som de risadas serpenteando escada acima enquanto minhas irmãs e seus amigos jogavam cartas na sala de estar. Por um milésimo de segundo, me perguntei o que aconteceria se eu descesse também.

Elain havia subido e batido algumas vezes na minha porta. Eu fingi que estava dormindo.

Também ouvi os passos de Feyre, sua pisada levemente arrastada pelo chão, dando uma ou duas voltas à frente da porta antes de desistir de bater.

Eu me pergunto quanto tempo mais falta para que elas desistam de vez. E, mais uma vez, não consigo me importar. Não consigo me importar com mais nada. Já faz um tempo que não consigo.

Viro a cabeça para a parede de madeira e conto os vincos, como já fiz várias vezes, sempre que minha mente se torna oca ou turbulenta, às vezes os dois ao mesmo tempo.

Feyre não entendia porque eu tinha escolhido o sótão dentre todos os quartos amplos e decorados da casa.

Elain tinha se oferecido para decorar o sótão.

Eu só quero um lugar onde eu consiga me esconder e ficar em paz.

Não que eu tenha muita paz, ainda assim.

Rio secamente para isso e meu estômago volta a se manifestar.

Estico o braço para o celular sob meu travesseiro e aperto um pouco os olhos para o brilho na tela.

02:17hs da madrugada. Nenhuma notificação brilha. Não depois que eu bloqueei Thomas em todas as minhas redes sociais. Estalo a língua para o pensamento.

Antes que possa protelar mais uma vez, estico minhas pernas para fora das cobertas, meus dedos encolhendo contra o piso frio.

Faço uma careta e puxo a alça da camisola para cima outra vez, tomando impulso e me levantando. Enrolo meu cabelo no topo da cabeça e pego meu celular.

A porta range um pouco quando abro, mas até onde consigo ver, não há luzes acesas nesse andar e nem serpenteando pelas escadas. Ótimo.

Não me preocupo em calçar nada quando passo para fora e começo a descer o mais silenciosamente que consigo.

As escadas formam um gracioso espiral até os andares de baixo e reviro os olhos para isso. Tão requintado. A casa inteira.

Ou eu deveria dizer a mansão inteira.

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