Capítulo 14 - The Albatross

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Wise men once said

One bad seed kills the garden

One less temptress, one less dagger to sharpen

Locked me up in towers

But I'd visit you in your dreams

And they tried to warn you about me

The Albatross (Taylor Swift)

Nestha

O cheiro acre levemente enferrujado é a primeira coisa a atingir meu olfato e faço uma leve careta de desgosto, apertando os dedos de Cassian um pouco mais forte à medida que ele me conduz através do corredor estreito e mal iluminado de paredes porcamente rebocadas.

Ele caminha com seus ombros largos bem esticados, numa pose intimidadora, seu queixo apontando para a frente como se estivesse caminhando pela própria casa.

Olho para cima e para os lados, capturando com os olhos os grafites estranhos feitos no chapisco, nomes de lutadores, desenhos confusos em um preto desbotado e representações de sangue espirrado na parede.

Ou talvez não sejam representações.

Olho para o rosto de Cassian quando finalmente paramos na frente de uma porta de ferro chumbada ao fim do corredor.

Seu maxilar está duro, o perfil pétreo, os lábios franzidos e as sobrancelhas baixas sobre olhos frios de emoção.

Engulo em seco e percebo que meu estômago está revirando.

Instintivamente, puxo sua mão para trás comigo ao recuar um passo, mas o corpo dele nem sequer se move.

Sua cabeça, no entanto, vira em minha direção.

Uma nuvem de calor cobre seus olhos ao me encarar.

Seus dedos apertam os meus.

— O que houve? — Sua voz é baixa e seu outro punho para no meio do caminho de bater no metal da porta.

Torço os lábios e desvio o olhar, vendo quando Emerie dá um passo para mais perto, pairando bem do meu outro lado.

O olhar dela é vago, mas posso ver um medo escondido na pose confiante que ela tenta vender.

— Vai ser mais rápido do que você possa imaginar. — Seu sorriso é tão forçado que me dá vontade de soltar uma gargalhada histérica.

Tínhamos passado em Illyria para almoçar antes de virmos.

Ela estava esperando por nós no balcão com comida suficiente para alimentar um pequeno exército, o que, pela reação de Cassian, era um ritual antigo entre os dois.

Eles se conheciam de uma época muito mais turbulenta, onde almoços como esse aconteciam com tanta frequência que ela parou de questionar as marcas no rosto e nos punhos dele e apenas o enchia com mais comida para garantir que continuasse forte para treinar ou, no pior dos casos, que tivesse uma última refeição saborosa.

Nenhum dos dois jamais me contou como acabaram se aproximando, ambos vivendo fora do acampamento illyriano como párias de uma sociedade marginalizada nas montanhas. Eu também não fiz perguntas.

Enquanto assistia Cassian comer, meu apetite inexistente deu espaço para minha mente frenética.

Não conseguia parar de olhar para ele e prestar atenção nas cicatrizes em seu rosto, nos nós de seus dedos, ou olhar para seu torso coberto pela camiseta de mangas compridas e visualizar mentalmente as marcas que sabia estarem espalhadas por baixo do tecido.

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