Inevitável Não Pensar em Nós

758 34 0
                                    

           Parecia tão natural eu contar aquelas coisas a Pietro que mal me entendi. Fiquei em silêncio por uns segundos e ele parecia absorver o que eu havia dito.
          - Você não se envolveu nessa vida porque queria ser rica e casar com um velho rico. - Pietro afirmou e eu o olhei.
          - Não. Nunca quis muito luxo, somente viver bem e ter dinheiro pra quando eu quisesse gastar. - confessei e Pietro olhou para o mar talvez pensando em tudo que eu havia lhe dito.
          - Você é simples e única, como sua mãe - Pietro disse e me olhou. - Você não se importa com riquezas, você tem seu próprio apartamento, acabou de vender seu carro e não se importa de andar com os pés descalços na areia. Isso é ser simples.
          - E isso é ruim pra você? - eu me virei de frente a ele para perguntar. Eu me importava muito com o que Pietro pensava sobre mim, afinal de contas eu sempre fora verdadeira com ele. Além de amá-lo incondicionalmente.
         - Não, não é ruim. Pelo contrário, é muito bom - ele disse em voz baixa e sorriu. Senti meu coração se aquecer com seu sorriso espontâneo.
         - O fato de ter me tornado uma garota de programa não mudou o que eu sempre fui. - dei de ombros enquanto falava - Sempre fui simples e não me importo com luxos. Quando comprei meu apartamento, não olhei o valor, olhei se era próximo à praia ou não, porque era um sonho meu. Meu carro era um popular e, se não fosse por necessidade, não teria vendido porque gostava dele. - eu falava e Pietro me ouvia atentamente.
         Eu sentia um clima muito bom entre a gente naquela noite. Podia sentir a verdade vindo de Pietro e sua admiração por mim mesmo eu não sendo quem ele pensava que eu era.
         - Quando eu te vi a primeira vez, você me fez pensar ser uma pessoa muito diferente do que vejo que é. - ele confessou olhando em meus olhos. - Você me passou ser uma pessoa ambiciosa e que estava comigo pelo trabalho e pelo dinheiro. Por isso me pergunto até que ponto você foi garota de programa comigo?
         Eu fiquei sem fala e sem saber o que dizer. Pietro me encurralou e eu não sabia se confessava a verdade ou não.
        - Por causa do seu jeito, senti liberdade em te levar a lugares que jamais levei outras mulheres. Te deixei em apartamentos que sequer outra pessoa entrou a não ser para fazer uma limpeza. Você não parecia deslumbrada com nada do que via. - Pietro me olhava no fundo dos meus olhos. Tão profundo que senti meu rosto queimar e tive que piscar algumas vezes para não deixar transparecer o que eu sentia. - Você conheceu meus sócios, pessoas que tenho confiança e outros nem tanto, mas mesmo assim, você não agiu levianamente. Você agiu como estava escrito no contrato e, por que não dizer, até mais do que estava escrito.
          Meu coração acelerou ao me lembrar do que acontecera entre nós e de todas as vezes que me entreguei a Pietro. Nenhuma delas foi sem querer, todas foram por desejo e, por que não dizer, amor profundo que eu sentia por ele. Até minhas danças foram para mostrar a ele que eu o queria, nada fora em vão.
          - Eu... - tentei dizer alguma coisa mas as palavras não saíram. Pietro se aproximou de mim e eu olhei para o mar. Era difícil manter meus olhos fixos em Pietro depois do que ele me dissera. - Geralmente as garotas de programa reagem assim.
          - Não, não reagem. Você sabe que não. - Pietro me cortou e eu fiquei nervosa pelo rumo que a conversa estava tomando.
         - Não sei onde quer chegar, apenas cumpri o que eu havia assinado no contrato. - Pietro me olhava desconfiado. - Onde você quer chegar? Me diz. - falei nervosa e Pietro percebeu que meu humor havia se alterado. - Já que está tocando no assunto do contrato, quer dizer que você se lembra que ainda te devo dois dias não é mesmo?
         Pietro não disse nada. Apenas me observava. Eu havia alterado a voz e não queria tocar no assunto do que eu sentia por ele. Eu estava magoada e queria descontar nele minha mágoa pois fora ele mesmo quem havia me feito sofrer.
         - Então, se você quiser, a gente sai, vai pra um hotel, sei lá, pra poder finalizar nosso contrato. - eu jogava as palavras na face dele e ele apenas me olhava. Pietro sabia que eu estava tendo um ataque de raiva e estava sendo inteligente ao ficar em silêncio, mas aquilo estava me matando.
         - Eu não vou levar você pra lugar nenhum pra finalizar o contrato. - Pietro dissera em alto e bom som, como se quisesse finalizar o assunto. De certa forma, ele havia se magoado com o que eu dissera. - Desde que nós conversamos a primeira vez, eu havia lhe falado que não faria nada com você se você não quisesse. Nenhuma relação que tivemos foi sem seu consentimento. Não vamos encerrar esse contrato, até que você mesma queira encerrar.
        Eu me sentia uma idiota a cada segundo que se passava. Minha vontade era de chorar e de sumir. Eu me odiava por querer Pietro ao mesmo tempo que o amava loucamente e, sempre que agia com gentilezas comigo, eu sentia vontade de chorar por não compreender e querer fugir sem tocar no assunto.
        - Não vou te levar pra cama apenas pra dizer que estamos finalizando um contrato. - ele continuou e eu virei o rosto para o outro lado, ficando de costas pra ele. - Eu sei que, se você se deitar comigo agora, vai me deixar louco como das outras vezes. Mas não quero que se sinta obrigada a fazer isso. - suas palavras saíram como que desesperadoras. Havia mágoa na voz dele e eu fiquei sem fala.
         Respirei fundo segurando as lágrimas e suspirei mordendo o lábio inferior. Pietro estava certo, apesar de que, fosse o contrato ou não, eu me deitaria com ele com o maior prazer porque o amava loucamente.
        - Olha, já está ficando tarde. Amanhã será um longo dia. - encerrei o assunto dando meia volta e seguindo para onde o carro estava. O passeio que era pra ser divertido, veio a ser um fracasso graças aos meus sentimentos por Pietro e pela sua insistência em falar sobre o que eu sentia.
        Ele veio andando devagar logo atrás e, quando chegou no carro, abriu a porta traseira e colocou seu sapato dentro. Eu peguei minha bolsa e algumas sacolas que havia ali e esperei.
        As luzes dos postes indicavam um cabelo desalinhado e um rosto triste por ter posto tudo a perder. Era eu.
        - Sabe, descobri uma coisa sobre você que eu não sabia. - Pietro me disse assim que se aproximou. Ele estava descalço e parecia que ia dirigir daquele jeito mesmo.
        - O que é? - perguntei curiosa.
        - Você tem medo de falar sobre sentimentos. Quando se sente pressionada, vira o jogo e quer que a outra pessoa se sinta culpada. - senti meu rosto queimar diante das palavras dele. Eu mal me movia e parecia que o chão ia se abrir a qualquer momento debaixo dos meus pés. - Não estou tirando minha culpa, ainda vamos falar sobre isso, mas também precisamos falar sobre você. - ouvi sua respiração pausar - Boa noite Alexia. - dito isso virou as costas e saiu em direção ao carro.

A Acompanhante do Italiano ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora