Fogo Incontrolável

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         Uma das vantagens de ser acompanhante é que não precisamos ficar nos oferecendo para nossos clientes como as garotas de programa fazem. O que vale é o que está no contrato. Se o cliente quiser apenas minha companhia, então ele a teria. Sem relações físicas? Sem relações físicas.
        Por essa razão devíamos nos manter informada sobre vários assuntos pra não sermos acompanhantes somente de corpo presente. Também devíamos saber conversar e nos comportar em público e em reuniões.
        Quem é acompanhante não deve expor seu cliente, não comentar sobre sua vida e sempre se manter em sigilo. O que acontecia nos eventos, ficava nos eventos. E se reconhecêssemos alguém, não podíamos expor essa pessoa. Fosse ela quem fosse.
       Entre as garotas de programa haviam várias regras. Não beijar na boca era uma delas. E nisso eu já havia pecado. Beijar Pietro estava além do que eu podia fazer, segundo as garotas. Mas não havia sido intencional. Foi tudo tão rápido que eu sequer ousei fugir.
      Meu corpo o queria. O desejo era insano e eu não podia fugir da minha realidade. Beijar um cliente podia nos levar a algo muito sério e íntimo, diziam as prostitutas. Agora, depois de quase dezoito anos nessa vida, me vi entalada até o pescoço por causa disso.
      Jamais me envolvi tanto com um cliente quanto estava me envolvendo com Pietro e eu me perguntava o porque, já que mal nos falamos, mal nos tocamos e sequer tivemos relações sexuais.
      Era incrível o poder que ele exercia sobre mim e eu me via envolvida numa teia de desejo e loucura misturada com sedução. Ele parecia sentir prazer por eu estar ali. Parecia querer me testar. Não sei. Seus olhos sempre fixos em mim por onde eu ia me deixavam sem entender o porquê tanto me observava.
       Não que eu não gostasse. Eu gostava de saber que ao menos desejo eu despertava nele. Eu sabia que ele me queria também, só não entendia porque não consumíamos logo aquele fogo na cama de uma vez.
      Depois que o beijei e percebi seu fogo, concluí que talvez eu devesse fazer alguma coisa. Eu não sairia como errada se o procurasse, até porque manter relações não estava claro no contrato. Eu estava ao dispor dele. Talvez eu devesse fazer algo, antes que eu me afundasse a um fracasso sexual por não ter me deitado com alguém que eu queria. Foram poucas vezes na vida que me deitei com que eu realmente quis. Mas dessa vez, pensei comigo, seria diferente.

        A visita de Pietro foi breve. Apareceu apenas pra me dizer que naquela noite havia um evento que precisava comparecer e que queria minha presença. Não me tocou, nem me beijou. Apenas falou e saiu com seu copo de uísque com gelo. E eu fiquei pensando no que fazer e o que vestir.

         Enquanto me arrumava, liguei pra Alex e conversamos um pouco. Ele me deu uma ideia boa de investir meu dinheiro em ações da Bolsa de valores e eu até gostei daquilo.
        Eu precisava investir e já estava com um bocado de dinheiro parado, o que não era bom.
        - Podemos comprar algum imóvel, ou até mesmo montar uma loja ou algo assim - Alex opinou do outro lado da linha. - Vamos ver o que será mais proveitoso pra você. Beijos e boa sorte com seu italiano.
        Desligamos e depois de uma hora me arrumando, saí do quarto esperando encontrar Pietro na sala, mas quem estava por lá era Igor.
        - Sei molto bella signorina - ele me elogiou assim que me viu. - Mister Moretti nos encontrará mais tarde - justificou ao perceber que eu procurei por Pietro.
       - Tudo bem. - respondi, meio decepcionada.

        Pra minha sorte, o vestido que havia escolhido era ideal pra onde estávamos indo. Do lado de fora, parecia uma mansão normal. Mas, por dentro, era uma boate bem moderna e requintada.
       Muitas luzes, pessoas dançando e homens bem trajados por todos os lados. Um lugar típico que pessoas com muito dinheiro iam pra se distrair de verdade. Um lugar pra quem tinha muito dinheiro. Lugar de segredos. Muitos provavelmente.
       Igor parou numa mesa onde havia alguns homens e mulheres bem vestidos, pessoas com quem Pietro fazia negócios, talvez. Alguns deles não eram brasileiros e eu fui apresentada a todos. A maioria conversou comigo em inglês e eu respondia com naturalidade. Os anos estudando inglês não haviam sido em vão.
       Trouxeram uma bebida pra mim e eu falei com Igor que iria me sentar no bar. Ele me acompanhou. Achei desnecessário, mas logo entendi que ele só estava cumprindo ordens de Pietro, que por sinal ainda não havia chegado.
       O Martini na pequena taça balançava em minha mão enquanto eu me misturava no meio do povo dançando. Meu vestido curto e com muito brilho me destacava. O salto me acompanhava como sempre e meu cabelo solto repicado estava em ondas nas minhas costas. Não coloquei sutiã, apenas um adesivo no mamilo pra não marcar sobre o tecido do vestido. As alças finas faziam um detalhe na costas enquanto um pequeno decote mostrava o vale entre meus seios.

A Acompanhante do Italiano ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora