Coração em pedaços

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           As ruas de Brera eram, praticamente, todas iguais e eu não sabia dizer por quanto tempo andei por elas sem rumo e sem direção. Eu só queria sumir e não ver Pietro nunca mais. Meu coração doía dilacerado e lágrimas ardiam em meus olhos e molhavam minha face.
          O vento soprava frio e agradeci aos céus por estar com minha jaqueta, com calça e sapato fechado. Não havia estrelas no céu e pensei até que fosse chover, mas o tempo era assim mesmo em Milão e eu não poderia dizer que viria chuva.
          Se chovesse ou não, eu precisava voltar pro apartamento de Pietro. Uma vontade louca de sumir daquele lugar queimava em meu coração. Milão, que até dias atrás, me transmitia leveza e paz, agora era só tristeza e frustração.
          Em pensar que eu estava ali pra Pietro brincar com meus sentimentos e querer simplesmente se vingar do que Matteo fizera anos atrás, meu coração doía. Mas uma dor tão profunda que, ao andar, eu colocava a mão sobre o peito como se isso fosse acalmá-lo.
          Já estava anoitecendo e eu temi ficar andando demais e acabar me perdendo. Nesse momento senti meu celular vibrar em minha pequena bolsa Chanel. Era Igor. Quase não atendi, mas eu precisava de ajuda e ele devia estar preocupado.
         - Alexia, por favor, me diga onde você está que estou indo te buscar. - já ia dizer que não precisava, que eu queria ficar só, mas pensei bem. Falei o nome de uma cafeteria que havia do outro lado da rua perto de onde eu estava e ele me pediu pra aguardar que chegaria em instantes.
          Sentei-me numa das cadeiras de madeira que havia do lado externo da cafeteria e aguardei. Eu já estava cansada e com fome de novo. Pensei no que faria ao me encontrar com Pietro novamente e o que poderia acontecer. Ainda faltavam dois dias pra acabar nosso contrato e ele podia fazer o que quisesse de mim pois não tinha especificado no contrato seus serviços.
          Me senti usada e uma terrível idiota pelo que aceitara dele. O tempo todo então ele fora dissimulado. Me fez acreditar que ele era gentil e que me desejava. Na verdade, todo o tempo escondeu de mim que sabia sobre mim e seu pai. Fez nascer um sentimento em mim para que entendesse o porquê de Matteo ter me procurado.
          Por que não me perguntou antes? Porque não perguntava ao seu pai? Pra que tanto ódio e desejo de vingança a ponto de envolver-me em seus assuntos?
O fato era que Pietro pegara as dores da sua mãe e vira seu pai deixá-la doente enquanto se encontrava com garotas de programa.
          Eram tantas dúvidas em minha mente que eu coloquei as mãos no rosto demonstrando cansaço. Eu não aguentava mais pensar. Tentar entender. Suspirei, já não querendo mais saber. Eu me senti tão triste que já nem tinha mais lágrimas pra derramar.
         Um garçom se aproximou e perguntou se eu queria alguma coisa e se eu estava bem. Respondi que sim, ao recuperar o fôlego e me endireitar na cadeira. Pedi um café puro e um croissant, mas nem sabia se tinha dinheiro em minha bolsa.
          Assim que o rapaz saiu, vi a SUV preta estacionando na rua. Era Igor e ele parecia nervoso.
         - Alexia, você me deixou preocupado! - ele disse após puxar uma cadeira ao meu lado e se sentar.
        - Me desculpe Igor, não foi intencional. - eu murmurei e sequer levantei meus olhos para olhá-lo nos olhos. Eu estava tão chateada e triste que não sabia nem o que dizer ou fazer.
        - Estávamos todos preocupados com você. - ele acenou pro garçom trazer um suco natural.
        Eu o olhei surpresa.
         - Todos?
         Ele suspirou e pegou em minha mão, me entendendo.
         - Todos. - Igor apertou minha mão compreensivo. - Alexia, não sei o que deu em Pietro dessa vez. Mas sei que ele gosta de você. - magoada eu tirei a mão e balancei minha cabeça.
        - É meio difícil de acreditar nisso, Igor. - murmurei com a voz fria e sem emoção. Pietro conseguiu acabar com meu sorriso em poucos minutos.
        - Você pode acreditar. - Igor me garantiu - Pode ser que ele não saiba, mas sente algo por você sim. - o garçom chegou com nossos pedidos - Jamais vi Pietro com uma mulher como ele ficou com você. Ele se preocupava e me ligava pra saber como você estava o tempo todo que podia.
        Eu olhei Igor nos olhos tentando acreditar. Bem que poderia ser verdade, mas senti meu coração fechar e não querer aceitar. Bebi do meu café devagar.
        - Na verdade, o que ele queria era isso mesmo. Que eu sentisse confiança nele a ponto de falar sobre seu pai sem problemas. - Terminei de beber meu café e cruzei as mãos sobre a mesa. - Igor, eu sei que você quer ajudar. Então quero te pedir um favor. - Igor me olhou enquanto terminava de beber seu suco rapidamente. - Eu quero ir embora pro Brasil. Vou até o apartamento de Pietro pegar minhas coisas e vou embora.
         Igor me olhou e nada disse. Apenas balançou a cabeça concordando. Minutos depois, saíamos da cafeteria e seguíamos rumo a Porta Nuova.

A Acompanhante do Italiano ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora