Esquecer o inesquecível

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         Quase engasguei com a comida na boca. Ouvir Pietro perguntar se eu estava grávida era o cúmulo do absurdo. Tossi e bebi um gole de suco pra voltar ao normal. Raspei a garganta e olhei para Pietro que continuava a me olhar. Ele ainda esperava a resposta.
        - Você está louco? Que pergunta é essa? - eu coloquei a mão no peito e senti os batimentos cardíacos voltando ao normal. Pietro apenas deu de ombros e bebeu do seu suco.
        - Ora, você está pálida e sem cor. Depois me diz que fez exames de sangue e que se sente fraca. O que quer que eu pense? - Pietro não parava de me observar. Ele parecia achar que eu mentia. - Tenho certeza que você não come direito a dias.
        - Não, Pietro. Eu não estou grávida. - respondi séria. Senti minha face arder ao imaginar carregar um filho de Pietro em meu ventre um dia. Bebi um gole do suco para disfarçar meu embaraço. - É só uma fraqueza por falta de alimentação adequada. Tirei muito sangue hoje e a médica disse que minha glicose está alta.
        Pietro me olhou divertido. Bebeu do seu suco também.
         - Normalmente acontece isso mesmo com quem está começando nos negócios. As pessoas comem pouco e acham que nunca darão conta de tanto trabalho.
         Ele parecia saber muito bem o que dizia pois me descreveu em poucas palavras. Finalizei meu prato e me senti satisfeita. A comida estava deliciosa e senti até meu sangue voltar a correr em meu corpo.
          - Estava tudo muito bom. Obrigada por ter feito isso. - eu agradeci reconhecendo que Pietro não era uma pessoa egoísta como muitos milionários por aí.
         - Agora, vou te levar para casa. Você não vai continuar aqui se sentindo mal. Precisa descansar e fazer repouso.
         - Mas eu já estou bem! - exclamei surpresa. Pietro levantava da cadeira e se aproximava de mim. - Eu comi e posso continuar por aqui até a noite.
         Pietro pegou-me pelo braço e seu gesto não deixou dúvidas. Eu não ficaria mesmo ali e não discuti sobre isso com ele sendo que estava com a razão.
         - Vamos. Vou pedir ao rapaz do restaurante que recolha a mesa.

           - Onde está seu carro? - Pietro perguntou quando saíamos do shopping lado a lado sob os olhares curiosos das pessoas e lojistas presentes. Senti minha face arder de vergonha, mas Pietro não parecia preocupado com isso.
          - Eu o vendi.
          Pietro me olhou surpreso e me levou até seu carro que o manobrista fez questão de trazê-lo em segundos. Uma pessoa como Pietro era uma grande influência para todos. Entrei no Porsche preto novíssimo e fiquei pensando se era mesmo de Pietro ou se ele alugara só pra andar no Brasil.
          - Porque vendeu seu carro? - Pietro perguntou, assim que saímos do estacionamento movimentado. - Estava precisando de dinheiro?
          Eu fechei meus olhos tentando me controlar. Porque Pietro perguntava tanto?
         - Pra quitar o apartamento de Mari. Faltavam poucas parcelas, decidi vender o carro e pagar. - respondi finalmente. Pietro não pareceu muito satisfeito com o motivo da venda.
         - Mas e o seu apartamento? Falta muito? - eu o olhei e ele estava com os olhos fixos na estrada. Com um carro potente daquele, estaríamos em minha casa com poucos minutos.
         - Não precisa se preocupar com essas coisas. Meu apartamento já está pago. - cortei sua curiosidade pela raiz.
         Pietro ficou em silêncio até chegarmos em casa. Sr Alberto não estava na portaria, apenas seu filho mais novo e ele não fez perguntas. O apartamento estava arrumado e a faxineira havia deixado tudo organizado do jeito que eu gostava.
         - Você pode ir agora se quiser. Já estou em casa. - gesticulei com os braços e Pietro balançou a cabeça negando.
        - Você vai tomar seu banho e se deitar. - eu o olhei surpresa. - Só sairei daqui quando você estiver na sua cama deitada e descansando.

         
          Seria impossível me deitar e descansar sabendo que Pietro estava a poucos passos de mim. No banheiro eu relaxava debaixo da água morna. Não lavei os cabelos pois havia lavado mais cedo. Senti uma leve dor de cabeça começar a perturbar e pensei em tomar o remédio pra dor que sempre carregava na bolsa.
          Meu corpo estava cansado e eu tive que me segurar pra não cochilar por ali mesmo. Apesar de que meu corpo pedia por Pietro e sentia falta dele. Era inevitável desejá-lo mesmo depois de tudo o que nos acontecera. Sentia meu sangue correr acelerado em minhas veias devido à aceleração do meu coração ao relembrar nossos corpos suados extasiados de prazer.
         Foi difícil, mas consegui sair do chuveiro e vesti um pijama grande e velho pra não despertar nada em Pietro. Eu não queria que ele soubesse que eu ainda o desejava. Quando me deitei na cama devagar por sentir minha cabeça doer, vi Pietro aparecer na porta do meu quarto com as mãos nos bolsos e me olhar carinhoso.
         - Minha cabeça dói - eu sussurrei - você pode me pegar um copo de água por favor? Preciso tomar um remédio pra dor de cabeça.
         Segundo depois Pietro voltou e eu ainda procurava o comprimido na bolsa. Eu não queria que Pietro tivesse me visto com meu pijama grande e velho, mas foi inevitável e eu senti que ele respirava com dificuldade.
         Era incrível que ainda sentíssemos o mesmo desejo de antes, a mesma intensidade no olhar e a atmosfera entre nós ainda continuava quente. Peguei o comprimido na bolsa com certa dificuldade e bebi num só gole tentando disfarçar meu nervosismo.
        Entreguei o copo para Pietro e me deitei na cama. Ele veio até mim e me cobriu. Tive a sensação de que ele quisesse se deitar comigo também e eu não me atrevi a chamá-lo. Eu ainda devia-lhe dois dias do nosso contrato, mas não seria naquele dia pois estava realmente indisposta. Pietro sabia disso e não me forçaria.
         Deitada na cama eu o olhei e ele se sentou na poltrona ao lado da porta de vidro da sacada. Não parecia ter pressa em ir embora e eu não podia mandá-lo fazer isso porque eu amava sua presença perto de mim. Os travesseiros altos me permitiam olhá-lo admirando a tarde quente pela porta de vidro.
         O ar condicionado ligado soprava fresco e Pietro arriscava me olhar sem me tocar. Sentia-me desejada e querida através dos seus olhos claros. Porque Pietro havia me enganado? Eu estava pensando em como amá-lo e sentir raiva ao mesmo tempo.
        - Você vai ficar aí a tarde toda me vigiando? - perguntei em voz baixa e Pietro me olhou calmo e sorriu sem mostrar os dentes.
        - Porque não? Já fiz isso várias vezes quando estávamos em São Paulo. - a confissão de Pietro me pegou de surpresa e eu fiquei boquiaberta.
        Então não fora sonho! Nas noites em meu quarto, em São Paulo, era mesmo ele quem estava lá! Pisquei várias vezes tentando entender. Pietro estivera o tempo todo me olhando nas noites em que nós não podíamos manter relações sexuais. Ele me observava e me fez entender que eu havia sonhado.
         - A pergunta é: Porque? - questionei olhando-o sentindo o sono chegar devagar. - Realmente há muitas coisas sobre você que eu desconheço.
        Ele apenas sorriu e, quando me viu bocejar, sussurrou.
         - Descanse Petit - eu o ouvi suave enquanto pegava no sono tranquilamente.

A Acompanhante do Italiano ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora