Cap. 14 - Trabalho No Sábado

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No sábado, acordei ansiosa. Não de um modo tenso... Era mais como o tipo de ansiedade que eu sentia por ter um encontro muito esperado. Só que não era um encontro, eu estava trabalhando. Num sábado.

Depois de dar uma corrida para afastar essa sensação, tomei um banho frio para acalmar a cabeça. Deixei a água escorrer pelos ombros e fechei os olhos enquanto cantarolava. Sempre cantei para acalmar a mim e ao Chris, mas quando percebi que estava cantando "Can't Get You Out of My Head", da Kylie Minogue, abri os olhos.

Claro que eles foram parar em um dos produtos da Cabello que agora enchiam meu chuveiro e o banheiro. Eu realmente não conseguia tirar a mulher da cabeça, já que ela estava em meus pensamentos, no trabalho, no chuveiro. O potinho de esfoliante Limpeza Divina estava atrás do xampu, capturando meu olhar. Pensei que era possível que houvesse significado mais profundo: Limpeza Divina, afastar a pele morta, afastar os pensamentos relacionados a ela.

Eu esfreguei o corpo por quase quinze minutos, tentando tirar Camila da cabeça. O novo esfoliante supostamente não só tirava a pele morta, mas também incluía algum composto químico que regenerava a pele. Quando terminei e me sequei, fiquei irritada com o fato de minha pele parecer incrivelmente macia em vez de em carne viva e livre do que eu estava tentando tirar.

Vesti um roupão curto e macio sobre meu corpo nu, deixando-o desamarrado e fui para o quarto passar creme em minha pele regenerada e macia. Meu vibrador estava escondido no fundo da mesa de cabeceira, na qual eu também guardava meu óleo corporal favorito.

Colocando a mão sobre ele, considerei me dar um pouco de satisfação. Eu poderia fazer isso? Funcionaria para tirar Camila da minha cabeça? Talvez eu precisasse exatamente disso. Fazia muito tempo desde que estive com alguém. Acho que cerca de oito meses.

Eu estava me dando um pouco de prazer, pensando em um cara bonito, porque estava sexualmente frustrada. Mas por que não estava desesperada para alcançar o orgasmo pensando em Bryant? Ele era bonito. E fofo. E agradável. E me queria. E não era meu chefe, droga.

Deixando o roupão cair, peguei meu pau de pilha da gaveta e me deitei na cama, fechando meus olhos.

Bryant. Bryant. Pense em Bryant.

Uma visão de Camila no dia em que a encontrei na academia surgiu em minha mente. Ah, ela é linda!

Não. O que você está fazendo?

Bryant. Pense em Bryant. Bryant. Bryant. Bryant. Bryant, que me comprou flores na semana passada sem motivo, além de querer me fazer sorrir. Bryant, que me manda mensagens fofas. Pensando em você. Espero vê-la em breve. Como está a sua gatinha? Espere. Não. Essa última foi da Camila. Quem manda esse tipo de mensagem a uma mulher, mesmo que estivesse falando sobre uma gata?
E por que é que eu gosto quando ela faz isso?

Bryant.
Camila.
Bryant.
Camila.

O zumbido suave do vibrador me relaxou enquanto eu fechava os olhos.

Bryant.
Bryant. Pense em Bryant.

Água pingando entre os seios firmes de Camila.
Aquela barriga ... Aquela barriga esculpida.
Piercing no mamilo.
Pare com isso.

Bryant.

Camila.
Bryant.
Camila.
Camila.
Camila.

Argh. Gemi, frustrada com minha mente enquanto levava a mão pelo corpo.

Eu precisava parar de pensar naquela mulher, acabar com os pensamentos sexuais com minha chefe. Tentei todo o resto. Por que não tentar convencer minha cabeça a parar de pensar nela? Afinal, esse método era mais divertido.

****************

O prédio de pedra marrom em que Camila morava tinha três andares. Eu havia presumido que ela morava em um edifício alto e elegante com porteiro, talvez até em uma cobertura. Mas, quando desci pela linda rua arborizada, o bairro de fato combinava melhor com ela. Ela sempre me surpreendia.

As escadas íngremes subiam do nível da rua até uma entrada quase secundária. A porta da frente era enorme. Deveria ter, pelo menos, quatro metros e meio de altura com vidro grosso, chumbo e madeira de mogno escura. Três campainhas se alinhavam uma ao lado da outra dentro do arco da porta, mas só uma tinha nome: Cabello. Respirei fundo, toquei e esperei.

Depois de alguns minutos, toquei uma segunda vez. Como ninguém atendeu, olhei para o relógio. Três minutos para as onze. Eu estava adiantada, mas muito pouco. Mais algum tempo se passou e ficou claro que não havia ninguém em casa. Me afastando alguns degraus, verifiquei o número da casa, que estava fixada nos fundos da escada do terceiro andar. Trezentos e vinte e nove – definitivamente, eu estava no lugar certo.
Talvez seja a campainha errada. Pressionei a que ficava à direita da que estava escrito Cabello e esperei. Nada.

Tirando o celular da bolsa, passei pelos e-mails para encontrar o que a secretária de Josh me enviou para que eu pudesse verificar o endereço, apesar de ter certeza de que estava no lugar correto. Me lembro de ter pensado que era uma grande coincidência que o número da casa de Camila fosse o mesmo número do meu apartamento, trezentos e vinte e nove.

Abrindo o e-mail, verifiquei o endereço... mas depois vi o problema. O e-mail dizia: Venha com roupas confortáveis, com fome e traga apenas sua criatividade. Nos vemos à 1! Merda. Olhei muito rápido da primeira vez e li o ponto de exclamação como 11. Cheguei duas horas mais cedo. Não é de admirar que ninguém estivesse lá ainda.

Consegui descer as escadas quando ouvi o som de uma fechadura. Olhando para trás quando a porta se abriu, eu gelei ao ver Camila usando um top e apenas uma toalha enrolada na cintura.

— Não, sério, eu posso ir embora. Tenho vários recados que ando evitando responder e isso foi um erro meu. Estou duas horas adiantada e tenho certeza que você tem coisas para fazer.

Camila insistiu para que eu entrasse.
Ela segurou meus ombros.

— Você vai ficar. Vou subir, me vestir e fazer algo para comermos. — Ela apontou para uma enorme sala de estar à esquerda. — Fique à vontade. Volto logo.

Assenti e fiz meu melhor para não olhá-la. Mas ela estava só de toalha e top, pelo amor de Deus, seria preciso ter muita disciplina. Contra o meu melhor julgamento, dei uma olhada rápida. Quando vi uma protuberância naquela área da toalha, meus olhos se demoraram, e Camila percebeu.
Ela arqueou uma sobrancelha.

— A menos que você queira que eu fique assim.

Envergonhada, balancei a cabeça e entrei na sala para esconder meu rubor. Acho que a ouvi rir enquanto subia as escadas.

Conforme ela saiu, aproveitei a oportunidade para observar a sala de estar. Havia uma enorme lareira com uma chaminé acima. Algumas fotos emolduradas estavam espalhadas e peguei todas para dar uma olhada. Camila e aqueles que deveriam ser seus pais na formatura da faculdade – eles sorriam com orgulho e ela estava com o cabelo bagunçado e um sorriso torto. Havia outras fotos de família e uma foto dela com o prefeito. Mas a imagem no fim da prateleira roubou meu coração. Era um ultrassom datado de duas semanas antes, com o nome da paciente Sofia Cabello Flynn. Ela se queixou da irmã no happy hour, mas colocou a foto do sobrinho no porta-retratos.

Atrás do sofá, havia um recanto com as janelas mais altas que já vi; tinham pelo menos uns três metros de altura e começavam a um metro ou um metro e meio do chão. O vidro tinha painéis de chumbo coloridos e a luz fluía, irradiando um prisma de caleidoscópio de cores na sala. Debaixo das janelas havia prateleiras de livros. Vi os títulos – pode-se saber muito sobre uma pessoa pelo que ela lê. Steve Jobs: a biografia; Stephen King; David Baldacci; alguns clássicos e... Nossos valores em extinção: a crise moral da América, de Jimmy Carter.

Hã?

Vestida, Camila entrou na sala e gemeu quando o celular tocou. Ela pediu desculpas, dizendo que precisava atender a uma chamada internacional. Eu realmente não me importava. Me intrometi duas horas mais cedo, e ter vislumbres de sua vida era algo fascinante para mim.

CAMREN: Minha Chefe Criativa (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora