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Inspirar e expirar é um movimento involuntário mecânico que aprendemos a realizar nos primeiros segundos de vida. Teoricamente, a coisa mais fácil que se pode fazer enquanto saudável e... vivo.

Não para Luna.

O simples movimento de soltar o ar que estava em seus pulmões parecia urgente, mas quando uma pequena remessa de ar saia entrecortada pelo choro, seu corpo exigia mais ar. Ela inspirava. Precisava ser rápida. Mas então o ar se misturava com a tristeza que o som, que seria inaudível, tornava-se soluços.

Tio Guildo estava preso. Em Azkaban. Ela nunca o veria de novo. Tio Guildo estava preso.

Tio Guildo nunca mais a ninaria.

Nunca mais a cobriria e daria um beijo estalado em sua testa.

Ele nunca mais comeria sua comida favorita.

Nunca mais tocaria um violão.

Nunca mais a abraçaria novamente.

Seu pensamento acelerado sempre a beneficiara nos testes e nos duelos. Mas agora era seu pior inimigo.

No percurso corrido entre o salão até a saída da escola para a floresta, sua mente já havia criado inúmeras histórias tristes sobre seu tio. Sobre como o descobriram. Sobre como arrastaram seu corpo machucado até a prisão.

Sentia suas vísceras doerem. Ele estava com fome? Ele sentia frio?

Entrou na floresta. Galhos arrebatando em sua face molhada. Tinha torcido o pé pela segunda vez, mas não parara de correr. Tinha que correr.

E se eles tiverem batido tanto nele que ele estava desacordado? E se estivesse machucado? E sua namorada? Com certeza estaria preocupado com ela.

E se estivesse morto?

O pensamento a fez parar abruptamente. Com a boca arreganhada em espanto, os olhos em pânico, teve que usar as mãos para abafar o choro alto que arranhou sua garganta e escapou para o mundo num tom desesperador.

Suas pernas não funcionavam mais. Ela caiu de joelhos em cima das raízes das árvores um baque que só foi ouvido pelo cão que corria em seu encalço. Não sentia dor. Não sentia frio. Não sentia a brisa congelante balançando seus cabelos.

Tentou buscar o ar. Ele não veio.

Sentiu um par de mãos a segurar firmemente pelos ombros. A voz dele parecia estar debaixo d'água. Ela olhou pra frente, mas não sabia quem era. James? Peter? Sirius?

Ele estava falando com ela, mas ela não ouvia nada. Era como se estivesse submersa em um oceano turbulento e tempestuoso.

Ele a abraçou. E só então ela conseguiu distinguir uma palavra dentre as que ele disse próximo a seu ouvido.

- Respira.

Eles a levaram caminhando até algum lugar. Luna não sabia dizer como andou, mas andou. Não sabia onde estava, nem com quem. Se eram professores, os marotos ou Romina.

- Romina? - ela disse apertando o grosso cobertor que estava em volta de seus ombros. Olhou ao redor tentando encontrar a melhor amiga.

- Lu... A gente tá aqui com você. - ela sentiu um carinho no joelho e logo sentiu uma fisgada incomoda que a fez recuar. - Acho que ela se machucou, gente...

Peter Pettigrew. Luna conseguiu identificar o amigo a sua frente examinando seu joelho.

- Eu vou pegar alguma coisa pra passarmos aí... Tenho uma poção preparada no quarto.

Ran Before The Storm - Remus LupinOnde histórias criam vida. Descubra agora