Visita do Chef

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Abro os olhos lentamente, ainda não é de manhã, está tudo tão escuro

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Abro os olhos lentamente, ainda não é de manhã, está tudo tão escuro.

De repente a cama abana, apenas por um segundo, depois a mobília que me circunda, e quando tudo fica silencioso, uma pequena batida na porta faz-se ouvir. É tão delicada que mal a consigo ouvir. A luz lá de fora acende e através da parte de baixo da porta, ilumina o meu quarto. 

Só assim é que posso ver os pés parados à frente da porta, à espera, batendo pacientemente.

Mesmo que seja devagar e baixinho eu sei que a pessoa que está do outro lado não é amigável, ela sabe que estou encurralada, que a única maneira de escapar seria pela porta.

Pondero abrir a persiana para poder fugir, a altura não é muito grande, mas o barulho que faria para abrir a janela e a persiana pode fazer com que a pessoa queira entrar.

Talvez consiga, muito devagar e silenciosamente, andar até à porta para a trancar. Porque a única coisa que está entre nós é um girar de maçaneta.

Atiro os lençóis para o lado e lentamente desço da cama, sempre de olhos postos na maçaneta e nos pés quietos. Estou cada vez mais perto, tão perto que começo a ouvir a sua respiração. É como se respirar fosse a coisa mais difícil deste mundo, como se tivesse algo lhe obstruindo a garganta. É arrepiante e assustador, o que pode estar do outro lado da porta?

Com um som metálico que faço de tudo para não ser ouvido, tranco a porta e rezo para que a pessoa não note. Pelo menos agora posso abrir a janela e o tempo para entrar será maior.

É o que eu penso até os parafusos que mantêm a porta em pé começarem a cair aos meus pés, as dobradiças seguem o mesmo caminho, como se fossem as coisas mais frágeis do mundo. A porta de madeira, sem suporte, deixa-se cair. Só não cai em mim porque me afasto no último segundo.

A ideia de saltar pela janela parece ter evaporado, tanto porque sei que não teria tempo como porque não consigo mover o corpo.

Os olhos completamente brancos fuzilam-me, estão vazios, sem vida.

E a pele do pequeno corpo parece ter apodrecida.

O Bo está irreconhecível, mas desta vez não está roxo nem rugoso como uma passa, está morto, com a pele acinzentada, os poucos cabelos loiros restam na sua cabeça e olhos brancos.

Ele decide avançar um passo, e eu permaneço imóvel, sem forças para me mexer. Quando dá o passo na minha direção o corpo inteiro abana, a carne agita e cai ao chão. 

O grande pedaço da barriga descoberta cai e vibra como se fosse gelatina. Ele parece não notar.

Outro passo, e desta vez um pouco da sua bochecha desliza e esborracha-se. Aos poucos, e ficando cada vez mais perto, o seu corpo já em decomposição séria vai ficando no chão. De ossos à mostra e de cara desfigurada o garoto continua, como se a única coisa que o vai levar de volta à vida fosse eu. 

BruisanOnde histórias criam vida. Descubra agora