Um Pai com um Plano

68 24 25
                                    

A primeira coisa que faço é endireitar as costas, é como um instinto, não sei se o faço porque me assustei, se porque senti a necessidade de me fazer mais alta do que estava

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A primeira coisa que faço é endireitar as costas, é como um instinto, não sei se o faço porque me assustei, se porque senti a necessidade de me fazer mais alta do que estava. É como se o meu cérebro quisesse se sentir superior sabendo o quanto ele me intimida.

Sinto um imediato arrependimento que, há medida que o seu olhar se prolonga, vai desaparecendo. O seu olhar devia assustar-me, mas só o faz nos primeiros momentos de surpresa. Eu sabia que o ia encontrar, sabia que seria ele a dar o primeiro passo, preparei-me para isto.

Pelo menos pude me despedir dela antes de isso acontecer.

Ele deve estar a vestir o fato mais caro que tem, está perfeitamente engomado, como sempre. É uma ocasião especial, tem que estar impecável para os convidados o verem.

Não parece sentir dor alguma por estarmos em frente à sua falecida esposa, o sorriso continua intacto, direcionado a mim, na tentativa de me deixar alerta.

— Está igual. — Está falando da minha aparência, cinco anos não parecem ter sido suficientes para me fazer parecer mais velha. 

Acho que ele tem razão, tenho mais experiência de vida, coisa que acho que precisava desesperadamente correndo o risco de acabar como estas pessoas que me rodeiam, mas não posso dizer que tenha mudado. O meu cabelo continua castanho e mesmo que na altura em que fugi o tenha cortado pelos ombros acabou por crescer. Acho que o fiz por uma questão de rebeldia, como se isso fizesse alguma diferença, na minha cabeça fazia, é como se me libertasse de todas as regras rígidas, como se agora fosse dona do meu nariz. 

Dona do comprimento do meu cabelo, neste caso. 

Também não posso dizer que tenha crescido após os meus 18 anos, ou que tenha aumentado ou diminuído de peso, acho que aos seus olhos continuo igual.

Só eu sei o quanto mudei, por dentro, para mim é o mais importante.

— Você também.— Respondo, e sei que ele sabe que não me refiro à sua aparência e sim à sua personalidade. O facto de estar aqui esta gente toda prova as minhas palavras, incluindo aquele sorriso trocista.

— Obrigada. — Ele puxa o seu blazer para cima, orgulhoso. Está a fazer troça de mim, sei muito bem que percebeu o que quis dizer. — Gostaria de pôr a conversa em dia. Vamos ao meu escritório?

— Não, obrigada. Só me vim despedir da minha mãe.

— Só uns minutos com o seu pai, se há coisa que entendi com a morte da sua mãe é que devemos passar tempo com os que nos são próximos.

— Podia só ter insistido, sabe que não precisa de mentiras dramáticas para me convencer. — O sorriso que me aparece no rosto é inesperado, sabia que tinha raiva guardada, só não sabia que era tanta assim. Aquele momento anterior de carência trocada com a minha mãe desapareceu, deu lugar a uma parede que cresce a cada segundo que passa.

BruisanOnde histórias criam vida. Descubra agora