O Regresso

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Lace

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Lace

Cheguei a um ponto em que nunca pensei que ia chegar.

Não sei o que sinto. Nem o que sentir.

Foi me dada a notícia de rajada, como uma estalada bem dada, como se uma bomba tivesse explodido à minha frente e o meu corpo tivesse voado.

O impacto foi demasiado para a minha mente.

E por isso acho que ela desligou.

Apanho o relógio de horas em horas, como se estivesse noutro sítio e só voltasse à realidade passado muito tempo. Quando regresso ao mundo real não me lembro do que fiz nem como o fiz, não sei o que pensei nem para onde fui.

Só sei que me encontro vestida de preto, e à minha frente ergue-se a minha antiga casa, onde eu cresci, de onde eu fugi.

Sinto uma coisa que se assemelha a dor no meu coração, é como se alguém o estivesse agarrando, espetando as unhas com força, me obrigando a sentir algo. Mas ao mesmo tempo, acho que não consigo nutrir nenhum sentimento.

Isso faz sentido?

A minha cabeça diz-me que devia estar a sentir mais do que estou, que talvez devesse derramar umas lágrimas, gritar para os céus, perguntando porque me tiraram a mãe, batendo com os punhos no chão, ou talvez pedindo para ser confortada por alguém. Mas o meu corpo nada faz, é como se tivesse corrido uma grande maratona, a única coisa que quer é estar quieto e descansar. As lágrimas não saem, nem os gritos, por muito que tenha a garganta a querer se fechar.

Então não sei se estou triste, se estou indiferente. Não sei como estou.

Perder uma mãe devia ser uma coisa traumática, especialmente com 24 anos.

Mas como devia ser essa experiência quando eu fugi de casa? Quando eu escolhi não a ver mais para o resto da minha vida? Sendo que estou moldando o meu futuro para estar o mais longe possível dos meus pais?

Agora que a perdi, acho que penso nela como duas pessoas.

A mulher que me criou, que esteve comigo na sua barriga durante meses, que me trouxe para este mundo, que tratou de mim e me deu tudo o que eu precisava.

A criadora da minha vida. A qual eu devia estar agradecida.

E aquela mulher que me fez fugir de casa, que me magoou ao ponto de fazer uma garota de 18 anos fugir e passar fome para ficar longe da própria mãe.

Qual deve ser a memória que devo manter? Porque neste momento tenho sentimentos variados e opostos.

Não amo, mas amo-a.

Não quero ir me despedir dela, mas quero vê-la uma última vez.

Porque por muito que queira odiá-la, foi ela que me fez. Mãe há só uma, não terei outra, e por muito que esta me tenha feito sofrer tanto... está no meu direito dizer-lhe adeus.

BruisanOnde histórias criam vida. Descubra agora