Era um dia frio e chuvoso numa cidade ao oeste do estado do Paraná, Cascavel. Não posso lhes dizer que era um dia agradável, apesar do clima gostoso e do barulho da chuva que eu tanto adorava. Naquele dia eu tinha um sentimento mórbido, sombrio. Nenhum daqueles trovões, que eu sempre disse que eram explosões no céu, tiveram o mesmo efeito. Uma vez que eles me despertavam, me tranquilizavam à cada explosão, naquele instante eu senti medo. Não posso lhes dizer o porquê dessas sensações, aliás, meus sentimentos nunca foram algo que eu realmente pudesse explicar com clareza e facilidade. Sempre tive dificuldade de me entender, eu conversava com as pessoas, as entendia e ajudava com seus problemas mas não fazia ideia do que fazer com os meus, apenas os colocava numa bagagem e os carregava para todo lado. Mas lá estava eu, deitada no sofá de um apartamento pequeno que eu alugara há um ano e meio. Eu estava sozinha e com uma agonia em meu peito de tirar o fôlego. Tomei um último gole de vinho, me levantei e caminhei em direção ao banheiro. Liguei o chuveiro e deixei a água morna percorrer meu corpo, regando cada poro. Tentei fazer com que toda a minha angústia fosse embora pelo ralo como toda aquela água, mas era inútil. Seja lá o que for, aquilo insistia em ficar. Naquele momento eu estava quebrada demais para ser concertada.
Após quase dez minutos debaixo do chuveiro, percebi que estava gastando muita água. Saí do banheiro e coloquei minhas roupas. Olhei pela janela e a chuva tinha parado, o sol já começava a ganhar força sobre as nuvens pesadas e escuras que agora se dissipavam. Resolvi sair um pouco, caminhar, beber alguma coisa. Desci os três andares pelas escadas, não gosto muito de elevadores. Tirei minhas chaves da bolsa, abri o portão e saí. Estava meio frio fora do apartamento, algo que finalmente me agradou. Caminhei umas duas quadras e parei num bar que eu costumava ir sempre que pudesse. Música boa, ambiente agradável, pessoas vazias. Eu era apenas mais uma. Me sentei num banco próximo ao balcão e pedi uma dose de uísque com gelo.
--- Cavalo Branco. Boa escolha. --- Disse um rapaz se sentando ao meu lado. Olhei pra ele e sorri. --- Prazer, meu nome é Jack.
--- Liv.
--- Legal. Liv vem de quê?
--- Olivia. Olivia Wolf.
--- Wolf? Sobrenome legal. Um uísque por favor --- disse ao barmen.
--- O que faz por aqui, Jack? --- perguntei tomando um gole do uísque.
--- Aqui em Cascavel ou aqui no bar? --- dei um leve sorriso e não respondi, ele prosseguiu --- bem, eu faço faculdade de engenharia civil. E agora eu resolvi caminhar um pouco na cidade, passei aqui em frente e resolvi entrar. E você, senhorita Liv, o que faz por aqui?
--- Fugindo do tédio da minha antiga cidade e cursando música. E aqui no bar vim pra me distrair um pouco. --- concluí virando todo o uísque de uma vez. Estava entediada.
--- Musica? Serio? Que legal. O que toca?
--- Violino e piano. Por que a surpresa?
--- Por que eu jurava que era médica. --- disse sorrindo.
Nós conversamos por um bom tempo sobre a faculdade, música, livros. Ele era bem interessante e bonito. Ele era alto, olhos castanhos bem claros com pigmentos esverdeados. O cabelo dele era liso com um tom loiro escuro e meio bagunçado, caía nos olhos toda hora. Era muito bonito. Um perigo. Já eu não tinha muitos atrativos. Cabelos ruivos, lisos e bem cumpridos, era muito branca olhos azuis e um pouco mais baixa que ele. Até que era uma aparência agradável.
--- Nossa, já anoiteceu eu nem percebi --- eu disse olhando lá pra fora. --- acho que preciso ir embora.
--- Me passa seu número, acho que você não é o tipo de pessoa que eu queira perder de vista.
--- Não me culpe se estiver errado. --- sorri e anotei meu número num guardanapo. Paguei a conta e saí sem perceber que ele vinha logo atrás.
--- Então posso te ligar pra a gente marcar pra, sei lá, caminhar por aí?
--- Tudo bem, pode sim. --- um aperto de mão e saímos para lados opostos.
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As Cores do Infinito
RomantizmE quem foi que disse que o amor não existe? Ou que ele não vale a pena? Ele pode mudar totalmente a vida de alguém e Olivia Wolf é a prova disso. Qual será o limite do amor?