Capítulo II - Vila da Farinha

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Interior de Portugal, 2180:

O presente não era tão bom quanto se imaginava, praticamente 300 anos após o nascimento de Reiji, o mundo havia passado por um apocalipse tecnológico que causou imensurável destruição, mais de dois terços da população mundial morrera em decorrência disso, a realidade distópica e caótica escondia oásis de paz e refúgio pelo mundo, um desses lugares era a Vila da Farinha, uma paisagem paradisíaca, com lindas árvores ao fundo, e grandes campos plantados de trigo que sustentava a vila e sua economia. Num mundo que voltara praticamente à era medieval isso era muito importante para a prosperidade da região. Muitas crianças corriam por ali, um homem passava pela rua.

-Oi dona flor, a senhora viu o Rafael passando por aqui? Estou o procurando a horas.

-Oi Márcio meu docinho! - falava extremamente carinhosa - Aquele alcoólatra ingrato nem sequer passa aqui mais para fazer um agrado ao meu bolso, as vendas de bebidas caíram consideravelmente depois que ele parou de vir ao meu bar e...

- Calma dona flor- Márcio foi logo interrompendo, sabia que se permitisse ela falaria uma eternidade- estou sem tempo agora ok? Você viu Rafael?

-Perdão meu bem, ele foi para a estrada das almas, deve ter ido para a cidade verde, e você, não quer fazer um agrado para meu bolso?

-Quero, por favor me dê um copo de cerveja.

Rafael e Márcio eram dois amigos inseparáveis, com uma amizade que datava desde a infância, o destino teve de separar os dois e Rafael passou um tempo considerável estudando fora, quando retornou a cidade verde, Márcio já havia partido para a Vila da Farinha, se consolidando como um grande militar. Márcio tinha algo importante para tratar e havia urgência, por isso imediatamente foi atrás de Rafael na Cidade Verde. Ele foi pela estrada das almas que tinha esse nome por vários viajantes se perderem em seus caminhos escuros e fechados por árvores, porém Márcio já conhecia aquele trajeto como a palma de sua mão e nem se preocupava mais com as histórias contadas sobre ela, acreditava que no auge de seus 26 anos não deveria mais confiar em lendas.
Durante sua ida o céu começou a escurecer e uma incessante e forte ventania se iniciou, amedrontando o cavalo no qual estava montado, que saiu correndo disparado para dentro da floresta, muitas folhas batiam em seu rosto por causa da ventania e pela distração o cavalo o derrubou. Márcio ficou estirado no chão sujo de folhas e lama e ficou marrom de sujeira, sua perna esquerda doía muito e os pingos da chuva vinham como o fechamento de uma sequência no mínimo desgraçada, ele gritou e um raio caiu, sem reação permaneceu deitado por mais alguns minutos maldizendo o cavalo porém esperando que ele voltasse.
Aparentemente desacreditar em lendas o trouxe um karma inacreditável, cansado de esperar, Márcio resolveu tentar se levantar, mas logo se arrependeu e seu corpo involuntariamente o fez voltar à posição inicial, não aguentou tamanha dor, sua perna estava quebrada. Olhou para todos os lados, deitado no chão, agora ainda mais sujo e molhado, lembrou que para aqueles lados da floresta havia um rio, apesar de estar completamente perdido se conseguisse escutar o barulho das águas correndo poderia chegar ao rio e subir por suas margens até a Vila da Farinha ou descer até a Cidade Verde. Apurou bem os ouvidos, mas em vão, não ouviu nada, na verdade ouviu um fiasco de correnteza, mas parecia tão distante, seu ouvido normalmente não conseguiria ouvir aquilo, achou que seu corpo estava pregando uma peça, mas resolveu ir.
Não acreditar em coisas primitivas já lhe havia causado muita coisa ruim, não prosseguiria com isso. O caminho foi doloroso, se arrastar por um chão molhado com folhas secas e uma perna quebrada não era a mais fácil das missões, se não fosse a resiliência de touro que Márcio tinha não conseguiria aquilo decerto. Ele prosseguia tranquilamente, à medida do possível, quando de repente um grande galho caiu em suas costas e ele assustado pulou, Márcio gritou tão alto que até mesmo Rafael poderia ter ouvido.

Cavaleiros da noite: a ascensão da escuridão Onde histórias criam vida. Descubra agora