Desabafos libertam a alma

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Por alguns dias eu evitei passar na frente daquele local, eu tive medo de que tudo aquilo que ocorreu fosse somente falhas em minha memória ou se eu aparecesse ele se fizesse de desentendido e não quisesse conversar, o único detalhe que deixei passar é que havíamos trocado número de telefone e por incrível que pareça o mesmo me enviou uma mensagem:

"Olá fã número um, estou sentindo sua falta esses dias... Eu olho para essa enorme janela e não a vejo lá!"

Senti a vergonha novamente me dominar e me senti quente, ele realmente havia sentido minha falta? Engraçado que meus diversos pensamentos me insultavam e rebaixavam pelo que eu fazia quando na verdade o cara havia gostado de ter alguém que admirava seu trabalho, como um passe de mágica me peguei naquela tarde em que conversamos um pouco em sua sala de ensaio e senti meu corpo relaxar com as lindas palavras que saíram de sua boca e em como ele ficou feliz em saber que eu gostava de sua dança e o admirava.

Coloquei a mão no peito e fechei bem os olhos reunindo coragem e me levantando para ir a caminho daquele estúdio de dança, dessa vez eu iria o ver realmente, iria admirar sua dança e não me esconder ou correr como antigamente eu fazia ou como estava com medo nos últimos dias, já ouvi um conhecido falar que é melhor perguntarmos o que passa na cabeça da pessoa do que tirarmos nossas próprias conclusões já que podemos imaginar coisas que não são realidades.

Depois de colocar uma calça confortável e meu tênis de sempre caminhei calmamente rumo a aquele estúdio onde sabia que Jung Hoseok estaria dando aula ou treinando sozinho como de costume, sem saber o porque meus passos começaram a ficar mais rápidos e um sorriso começou a crescer em meu rosto, sim eu estava empolgada, depois de tanto tempo eu tinha alguém para chamar de amigo novamente e isso me deixava mais do que feliz.

Cheguei ao local um pouco suada e respirando fundo para acalmar meu corpo, ele estava finalizando uma aula com crianças e com um aceno de cabeça simples denunciou que havia me visto chegar, assim que algumas mães entraram na sala para buscar seus filhos segui o fluxo e me sentei em uma das cadeiras esperando ele estar livre para iniciar uma conversa, foram cerca de dez minutos de espera e então com passos engraçados o mesmo se aproximou e desabou na cadeira ao meu lado.

- Estou exausto – ele passou de forma charmosa a mão em seu cabelo jogando a franja para trás e revelando sua linda testa

- Ué um dançarino como você cansado? Pensei que não se cansasse fácil... – impliquei

- Dançar é uma coisa, dançar com crianças é totalmente diferente sabia! – um bico junto daquele resmungo me fez rir e o achar mais fofo do que já era. – você tem que ficar de olho para elas não se machucarem, não brigarem ou pior não fugirem.

- Isso me lembra a época que eu treinava – disse sem pensar – meu professor ficava louco quando tinha que dar aula para o nível kid.

- Eu sabia! – tive um sobressalto com seu bater de palma alto e seu corpo se aplumar – você também dança, não é? Por isso fica tão empolgada...

- Na verdade eu dançava, aposentei meus tênis...

Um silencio se instalou entre nós dois, ele me encarando para que eu continuasse a falar e eu pensando se deveria lhe confidenciar tudo que aconteceu nos últimos anos, estranho quando nos sentimos conectados com alguém, mesmo que tenhamos nos conhecido a pouco tempo eu sentia que ele poderia ser alguém que eu poderia confiar e que iria me entender e me ouvir.

- Por que? – ele quebrou meus pensamentos – vejo seu amor pela dança em seus olhos e nem adianta dizer que não...

- Aconteceu alguns problemas na minha vida por assim dizer – olhei meus dedos e comecei a mexer neles para não desabar – faz quase um ano que cheguei aqui, antes eu morava em seu país natal com minha família...

- Você morava na Coreia? Como... Como veio parar aqui?

- Bem é uma história longa, meus pais trabalhavam em um centro de medicamentos e sempre viviam viajando dai acabamos na Coreia quando eu tinha quinze anos, eles trabalharam arduamente lá e eu estudei, foi um pouco difícil me acostumar com algumas coisas, mas até que me sai bem...

- Você deve ter passado por momentos difíceis, acho que se adaptar a qualquer cultura é muito difícil, sinto o mesmo que você quando cheguei aqui nos Estados Unidos.

- Mas eu fiz amizades que me ajudaram muito sabe Hoseok eu me senti bem por todo o tempo que morei lá, porém as coisas mudaram quando sofremos um acidente – sua mão tocou meu ombro em sinal de compadecimento um jeito terno de afirmar que estava ao meu lado. – infelizmente meu pai não resistiu e eu acabei tendo problemas devido ao acidente causado...

- E sua mãe decidiu voltar para cá!

- Sim, quis ficar próximo dos meus avós e não aguentava as lembranças que a casa trazia, então voltamos...

- Me desculpe soar evasivo, mas qual foi o problema que aconteceu por conta do acidente...

- Bem eu... – fiquei em um empasse se contava ou não, mas decidi arriscar e contar – eu pedir uma parte de minha perna... – levantei um pouco a calca mostrando a mais nova prótese que estava usando, que se ajustava a minha idade e tamanho atual e senti seu olhar me seguir e depois se guiar para meu rosto. – não precisa ter...

- É por isso que não dança mais? – ele me interrompeu voltando a olhar minha perna agora novamente coberta.

- Sim!

- Acho que você deveria voltar a tentar, - ele não deixou eu opinar ou reclamar – sabe a gente pode sempre se reinventar, quando tiver tempo passe aqui para me ver e a gente inventa uns passos legais juntos...

- Você ouviu o que eu disse sobre dançar? – me levantei o seguindo, eu sabia que seu intervalo havia acabado, mas queria esclarecer as coisas...

- Sim... Eu ouvi, mas um obstáculo, não é o fim, pense nisso e se quiser tentar venha quando tiver tempo...

Ali Jung Hoseok me deixou sem palavras, ele estava mesmo disposto a me ajudar? O que estava pensando? Eu não sei, mas uma coisa eu tinha certeza, eu voltaria para descobrir!

I wanna dance again | JHOnde histórias criam vida. Descubra agora