O Observando de longe

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De volta aos Estados Unidos comecei a faculdade de administração conforme tinha planejado, no primeiro dia conheci pessoas novas, pessoas que talvez me ajudassem na vida cotidiana dentro daquela enorme faculdade e expressei a minha mãe como estava satisfeita por ter conseguido aquilo que planejei.

Sim satisfeita, eu não estava de completo feliz, estaria definitivamente feliz se pudesse ter continuado na dança, conseguisse uma vaga em um bom estúdio e exercesse aquilo que sempre amei, mas devido a certas coisas do meu passado esse futuro não poderia ser cumprido, então apenas segui um atalho, ficando pelo menos satisfeita com aquilo que eu ainda podia fazer.

Meus avós moravam em Nova Jersey, para ser mais exata na cidade de Paterson e eu amava aquela cidade, mesmo sendo cheia de pessoas e movimento me sentia calma ao transitar por aquelas ruas e receber olhares das pessoas, era algo diferente e comum, não me sentia fora da concha ou algo diferente apenas me sentia em casa. A faculdade não era muito longe de casa e tudo que eu queria ou precisava tinha fácil acesso, no entanto algumas coisas haviam mudado desde a ultima vez que estive naquela cidade, como por exemplo: um estúdio de dança havia sido construído no centro da cidade.

Segundo o conhecimento dos meus avós um renomado artista havia se aposentado e aberto aquele local para quem quisesse aprender e desenvolver sua capacidade de dança ele ensinava tudo desde jazz até hip-hop e era bem elogiado na cidade por sua educação e carinho por todos.

Admito que me senti curiosa com a conversa, mas não quis me intrometer, eu não queria distrair minha mente e nem sentir a dor e falta que a dança me fazia, cheguei sozinha a conclusão que quanto menos eu pensasse menor a dor e a saudade de dançar seriam...

Até eu o ver dançar;

Se não me engano era domingo, meu avô estava com dor nas costas então minha mãe pediu para eu ir ao centro comprar alguns legumes e ingredientes para o almoço em família que teríamos mais tarde, como eu queria sair de casa e dos livros que me cercavam aceitei, uma chance de me distrair e espairecer a mente cansada de tanto fazer resumo.

A caminho para o mercado acabei passando por aquele estúdio de dança, ele era um pouco diferente dos outros, a parede de algumas salas eram de vidro dando para os transeuntes admirarem o trabalho que alguns profissionais faziam dentro daquele lugar, eu achei aquilo incrível e acabei admirando as duas salas que possuíam esse vidro, na primeira uma bailarina tentava cumprir alguns passos apoiada em uma barra, ela repetia tentando não cometer nenhum erro e fiquei encantada com sua disciplina e postura.

Já em outro um rapaz executava um free style, a batida do hip-hop era alta ressonando para quem quer que estivesse passando, muitos iam e viam e não prendiam a atenção nele, porem comigo foi diferente, mesmo dançando aquele tipo de música ele conseguia ser leve, objetivo e preciso e o mais bonito que achei em tudo aquilo era o sorriso que ele mantinha no rosto como se estivesse amando o que estava fazendo, estivesse feliz por estar dançando, como se aquilo fosse parte dele.

Acabei sorrindo junto e mexendo meu corpo movida por sua animação – mas tudo que é bom dura pouco e assim que a música terminou e ele se jogou ao chão respirando fundo e sorrindo largo por ter conseguido executar o que queria, permaneci ali admirada e apaixonada por seus movimentos, me lembrei de como eu me sentia quando dançava e senti vontade de estar ao seu lado também fazendo o mesmo.

Foi então que acordei para realidade, o rapaz estava me encarando, confuso por eu estar o olhando, pensei em fazer um elogio, falar alguma coisa, no entanto seria em vão por conta da parede de vidro, então mesmo sentindo meu rosto queimar de vergonha aplaudi o mesmo e levantei os polegares em sinal de elogio vendo seu sorriso se abri novamente e sua cabeça sacudir em resposta, assim sai dali a passos largos tentando esconder minha vergonha e imaginando que ele poderia pensar mil coisas sobre mim naquele momento sem me conhecer.

Contudo uma coisa era certa, sua dança, seus movimentos não sairiam nem tão cedo de minha cabeça.

I wanna dance again | JHOnde histórias criam vida. Descubra agora