Desistir do meu sonho?

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Achei que as coisas não poderiam ficar piores, que as dores não poderiam ser mais fortes, mas foi totalmente ao contrário, elas ficaram, com o passar dos dias tive de lidar com a triste realidade de não ter mais minha perna esquerda e nem meu pai ao meu lado e também com o enorme pesar de ter que lidar com todas as perdas que aquele novo problema me causaria.

Por mais que os médicos fossem positivos comigo eu me encontrava na zona escura, preto e branca e deprimida, tudo aconteceu de uma vez só que não consegui engolir e passei a me culpar por tudo que estava acontecendo mesmo sabendo que a culpa era do causador do acidente e não minha ou de minha família.

Os médicos disseram que estavam na tentativa de conseguir uma prótese para ajudar em minha locomoção, mas mesmo com ela eu teria que fazer fisioterapia para me acostumar com aquele novo membro que em parte não era realmente meu, de inicio achamos que seria impossível conseguir a obter pelo preço que foi dado era uma peça muito cara, minha mãe me prometeu que faria de tudo para conseguir a obter e me devolver uma vida normal, mas eu não queria que a mesma se sacrificasse para aquilo e tivemos uma longa conversa para decidir o que faríamos.

Por destino alguém da empresa que minha mãe trabalhava como biomédica se compadeceu da dor que estávamos passando e  acabou fazendo a doação de uma peça para meu uso pessoal, ela era de um material difícil de estragar e bonita aos olhos, me senti feliz por ter pessoas que se importavam e queriam o nosso bem estar e grata pelo esforço que a pessoa também fez para conseguir a prótese.

Foi um longo período para me readaptar, sem contar o tempo que passei no hospital para cuidar e tratar da área que havia sido amputada, graças a meus amigos não perdi o ano letivo, eles gravavam as aulas e me visitavam para repassar a matéria e sempre tentavam me distrair mentalmente para eu não me sentir triste ou pensar nos problemas que surgiam.

Acabei também tento que visitar uma boa psicóloga onde acabei sendo tratada e ajudada sobre a culpa e arrependimento que sentia dentro de mim mesmo não sendo a causadora dos fatos que aconteceram, o final dos meus dezessete e o início dos meus dezoito passei dentro do hospital cuidando de minha saúde, de minha vida e de meu psicológico.

E naquele espaço de tempo infelizmente tive que desistir de algo que amava e gostava muito, dançar, por mais que falassem para mim que eu poderia voltar a dançar, me exercitar e fazer qualquer atividade como antes eu não conseguia ainda me dar muito bem com a prótese que tinha na perna e muitas vezes acabava caindo ou me machucando.

Lembro-me que a psicóloga disse que isso era algo mental que eu possuía e não realmente culpa da minha nova perna, algo que me deixou realmente incomodada e uma das razoes de me fazer desistir.

- Se você continuar se impedindo, nunca vencerá barreiras! – lembro de suas palavras duras, mas significativas.

O problema era que eu não estava pronta para as vencer e simplesmente resolvi desistir, abandonar e focar em algo mais fácil e cômodo para minha vida, Joshua disse que depois de tudo que passei eu mudei e me fechei e Nana afirmava que sentia um pouco de falta da minha alegria animadora, mas para ser sincera eu ainda me sentia ferida e acho que demoraria até ela cicatrizar e sarar.

Comecei a me focar em ter um trabalho na área de contabilidade ou administração, algo que eu passasse o tempo sentada e escondesse o que mais me incomodava, sim eu passei a querer me esconder e ter medo do que as pessoas falariam quando vissem o que eu tinha, no popular eu comecei a ter preconceito comigo mesma, não comentando, não mostrando e negando.

Com o passar do tempo meus sonhos foram sendo esquecido e substituídos por uma realidade totalmente diferente do que eu realmente queria e imagina quando era mais nova, mas eu achava ser melhor assim, não causaria dor nem sofrimento, no entanto eu não entendi como eu ainda continuava triste mesmo me dando tão bem na nova área que queria.

Eu procurei cursinhos para entender melhor a profissão que queria ingressar depois da escola e pensei na possibilidade de voltar ao meu país de origem para cursar uma boa faculdade lá, contudo eu não queria abandonar minha mãe sozinha e me sentia dividida, não falávamos mais da dança, ela entendia que aquilo era um assunto delicado para mim e tentava ser o mais compreensiva possível, mas ainda demonstrava querer que eu me dedicasse aquilo.

Já não queria mais sonhar, queria manter meus pés no chão, viver com cuidado e ter algo que não pudesse me sacrificar demais, uma personalidade que desenvolvi para me proteger e distanciar de tudo que pudesse ser perigoso ou que possuísse adrenalina.

Simplesmente resolvi me fechar e não brilhar como antes!

I wanna dance again | JHOnde histórias criam vida. Descubra agora