Capítulo 8

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— Oi Argon! — Falei acenando e ele sorriu pra mim.
— Venham, entrem antes que alguém veja. — Ele indicou com a mão para entrarmos e sumiu na entrada. Vita e eu seguimos por uma escadaria de pedra até chegarmos num grande porão.
— Olá novamente. — Sialia andou até nós, fazendo uma pequena reverência para mim e Vita, depois sorriu pra mim. — É bom te ver de novo, Flo. Oi gatinho! — Ele estendeu a mão e passou com cuidado a mão na cabeça de Lo que estava no ombro de Vita. Apenas acenei com a cabeça, ainda chateada pelo que ele disse de Vita.
— Agora você pode dizer por que dois cidadãos da Vida estão aqui procurando segurança extra? Ou seja lá o que seja o trabalho que vocês tem pra gente. — Sialia perguntou.

Olhei ao redor do porão, era meio úmido e não cheirava muito bem. Tinha uma mesa no centro com copos de cerveja em cima e dois bancos, o resto do local parecia um centro de treinamento, com sacos de areia pendurados, alvos, espadas e arcos, além de alguns equipamentos que pareciam feitos para mineração, como picaretas e capacetes com lanterna.

— Vejo que vocês vão com frequência na mina. — Vita disse, ignorando a pergunta de Sialia, ao ver os equipamentos assim como eu.
— É o único jeito de ir pro reino meu, Otis deve saber. — Argon respondeu. — Seu gato não é muito normal, né? — Ele falou observando o mesmo voar até a mesa e começar a se lamber... Em vários lugares.
— Sim, eu sei. Por isso escolhi um homem pedra. — Argon olhou pra Sialia e depois para Vita, que ignorou as perguntas sobre Lo.
— O senhor Otis sabe o quanto é perigoso ir pros próximos reinos? Perigoso passar pela mina! —Argon disse. Vita colocou a mão no rosto, parecendo pensar no que fazer para convencê-los de ajudar.
— Nós apenas precisamos passar pela mina, estou pagando o suficiente para não fazerem perguntas. —Argon olhou parecendo desconfiado e Sialia deu de ombros. — Só precisamos ficar um tempo aqui pra Flo... Se preparar.
— A mina não é lugar pra ela. — Argon me olhou e depois olhou pra Vita, eu revirei os olhos.
— Eu posso decidir onde é meu lugar. — Falei saindo de perto deles e indo para perto das armas. Olhei as armas, espadas medievais de metal com cabos simples, alguns arcos e flechas simples de madeira, sentei no chão olhando os alvos. Eu não sei por quanto tempo Vita vai conseguir fingir que somos normais, se a mãe dele chegar a nos encontrar vai ficar tudo muito óbvio, e caso ele tenha que usar a Vida? Ouvi passos se aproximarem e olhei Vita sentar-se no chão ao meu lado.
— Nós vamos trazer comida, então fiquem... À vontade. — Sialia falou nos olhando e subiu pela escadaria com Argon.
— Como vamos fazer isso, Vita? — Perguntei depois que tive certeza de que eles já estavam longe.
— Vamos evitar usar nossos dons perto deles até que seja necessário. — Ele disse se levantando e colocando a mão nas minhas costas, percebendo que eu parecia triste. — Eles não vão descobrir por um tempo, tá tudo bem.
— Não é isso... Você disse pra eles que ia me preparar. — Ouvi ele tomar um gole do cantil que agora sempre ficava pendurado no pescoço dele e tirar duas adagas da parede.
— Eu vou. Você tem que saber se proteger sem usar o dom, principalmente se não estiver de noite e não dar pra você invocar as sombras. — Ele estendeu as adagas para mim.
— Eu... Só posso invocar a noite? — Falei me levantando e pegando as pequenas espadas um pouco curvadas.
— As suas sombras não aparecem na luz, a não ser que seja a luz da Lua. — Ele pareceu se preparar e suas mãos começaram a brilhar na cor verde, nas paredes do porão tinham pequenos matinhos que começaram a crescer violentamente. — Agora se defende. — Folhas compridas e esguias como cordas vieram na minha direção enquanto Vita movia os braços rapidamente na minha direção, vi uma delas agarrar meu pé e me jogar no chão com tudo.
— O meu dom... — Ele falou enquanto eu me levantava e mais uma folha agarrou meu pé, o que me fez cair no chão de novo. —... É o mesmo que o da minha mãe, talvez mais fraco...
— PARA, MERDA! — Falei caindo de novo, dessa vez tentei cortar a folha antes que chegasse em mim, sem sucesso.
— Então, você precisa saber... Caso ela se desespere ao ponto de vir atrás da gente. É claro que ela não vai usar algo tão inofensivo quanto folhas. — Ele balançou a cabeça quando eu caí de novo.

Com todo ódio que eu juntei depois de cair umas 10 vezes, finalmente cortei uma das folhas antes que me fizesse cair, fui correndo na direção do Vita, que sorria.

— Eu vou te matar! — Gritei correndo na direção dele e ele riu, puxando meu pé com uma folha enquanto eu corria, me fazendo derrapar e cair de cara no chão. Levantei o mais rápido possível e corri até ele de novo, cortando algumas folhas no caminho e pulando quando via que iam agarrar meu pé. — Filho da puta!
— Não posso discordar! — Ele falou sorrindo. Corri até ele mais uma vez, cheia de ódio, tentando evitar as folhas o máximo possível até que uma agarrou minha cintura com força, outras folhas foram subindo, segurando meus braços e pernas e subindo até meu pescoço.— Se solta. — Vita falou, com os punhos cerrados brilhando verdes, assim como seus olhos. Eu me mexia mas não conseguia, as adagas caíram da minha mão e eu sentia a folha apertar mais meu pescoço.
— Vi... — Eu tentava falar mas minha voz não saía, eu sentia o medo... A aura negra começava a emanar suavemente de mim, eu sentia vontade de vomitar. Olhei as folhas ao redor de mim começarem a morrer e me soltei. Vita sorria, agora sua aura verde tinha sumido e a minha também dissipava enquanto eu me recuperava. Vita se aproximou de mim e tocou meu ombro, o que fez eu dar um empurrão nele.— Por que você me forçou a fazer isso? — Falei com raiva, as folhas dele viraram pó e se misturaram ao chão já sujo do porão.
— Camila? —Ele falou confuso. — Você tem que saber usar isso ao seu favor! — Ainda magoada, não soube mais o que dizer, sentei sentindo meu corpo doer das quedas. Nosso treinamento já tinha durado algumas horas provavelmente. Ele me olhava sério.
— Me desculpa, tá bom? Eu só quero que você saiba o que fazer caso...
— Tá. Já entendi. — Interrompi e fui sentar num dos bancos. Fiquei fazendo carinho em Lo enquanto Vita parecia meditar, uma pequena aura verde parecia emanar dele... Mas não me fazia sentir mais do mesmo jeito que antes. Além da sensação de paz eu também sentia algo a mais, uma espécie de aura quente, uma sensação de poder... Quase como se fosse o oposto do medo que a minha aura me fazia sentir.

Ouvi um baita barulho do alçapão pesado abrir e vi Vita abrir os olhos, parando de meditar. Argon e Sialia entraram, com Argon carregando um grande saco que colocou sobre a mesa. Ao abri-lo, colocou na mesa um pedaço enorme do que parecia carne seca, alguns pães e frutas do tamanho de maçãs, mas de cores variadas.

— ALMOÇO NA MESA! — Ele falou alto e sentou com tudo no pequeno banco, que envergou um pouco. Fui correndo me sentar no outro banquinho, cheia de fome. Sialia sentou no chão ao meu lado, comendo uma fruta redonda de cor azul bebê.
— E aí? O que fizeram enquanto saímos? — Ele falou me olhando e dando uma mordida na fruta. Olhei de lado pra Vita, que vinha na nossa direção.
— Treinamos um pouco. — Ele olhou pra espada pendurada na cintura de Sialia. — Talvez seja melhor você ensinar ela a usar as adagas mais tarde.

Sialia sorriu largo e assentiu. Ele tinha a pele negra por baixo das penas, assim como todo o espaço de seus olhos, da íris a esclera. Suas penas iam de azul claro a escuro, quando ele me olhava, parecia que tentava olhar dentro da minha alma, era difícil encará-lo. Peguei uma fruta da mesma cor e mordi, tentando esconder minha cara de surpresa quando o sabor azedo invadiu minha boca. Apenas Vita notou, me deu um pequeno sorriso e mesmo ainda um pouco chateada, não pude evitar sorrir de volta.

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