Ele colocou o capuz e se aproximou da entrada, dois homens com asas nas costas e algumas penas pelo corpo e rosto nos olharam.
— Visitantes da Vida? —Os dois que eram aparentemente os seguranças da entrada nos olharam, cruzando os braços. Eu só conseguia olhar para as asas enormes deles, encantada.
— Sim, somos apenas turistas. —Vita falou batendo na mochila e o som das moedas de ouro batendo umas nas outras foi audível. Eles sorriram e apertaram um botão, fazendo com que os gigantes portões de metal se abrissem para os lados.
Fiquei paralisada observando, todas as pessoas tinham asas e voavam, todas pareciam muito ocupadas passando rapidamente de um lado para outro. Haviam espécies de prédios gigantes de metal que se encontravam no meio do céu, como se a gravidade tivesse decidido permitir isso, mas nenhuma entrada principal, as portas de cada apartamento pareciam ficar do lado de fora. As ruas eram agitadas e as pessoas falavam alto vendendo as coisas mais diferentes, haviam barraquinhas de comida, vendendo roupas, temperos, jóias, umas pedras brilhantes, plantas, eu andava ao lado de Vita tentando não me perder.
— Ninguém aqui pode te reconhecer?
— As pessoas não se importam muito com Guardiões de outros reinos, eles só sabem que eu existo, é pouco possível que alguém me reconheça nessa roupa de camponês. Já a minha mãe... Tem quadros dela em todas as casas. —Ele falava enquanto andávamos e esbarrávamos em outras pessoas que andavam na rua e outras que pousavam de repente no chão.
— Pra onde vamos? —Ele parou de andar vendo que eu me perdia entre as pessoas na calçada, as vezes simplesmente parando para encarar um cidadão de olhos amarelos e penas no rosto. Ele estendeu o braço pra mim e eu entrelacei meu braço no dele.
— Eu não consigo imaginar como é ver... Como é que você chama? —Ele disse andando um pouco mais devagar. Ao nosso redor não tinham apenas pessoas com penas, algumas também eram feitas de pedras, tipo aquele cara do quarteto fantástico. (eu sempre achei o poder dele o mais tosco). Outras eram como Vita (e eu, não posso esquecer disso), andando sempre em famílias grandes.
— Alienígenas.
— Tá... Mas você precisa se concentrar, o reino é relativamente grande e lotado demais —para a Deusa nos achar, mas ela consegue. —Ele parou em frente a o que parecia um edifício, só que ele se dividia e ia pra várias direções no alto, eu não conseguia ver do chão onde ele terminava no céu. —Seu nome é Floreli, não esquece.
Assenti e o acompanhei, passando pela entrada adentramos um salão grande cheio de vozes e música, com pessoas dançando e bebendo. Por dentro, parecia uma típica taverna medieval. Vita foi comigo até o balcão, uma mulher esguia com olhos amarelos de pupilas finas nos olhou de cima a baixo, seu rosto tinha algumas penas negras assim como a cor de sua pele, diferente do povo de Vita, que eram pálidos e um pouco esverdeados.
— O que posso fazer por vocês? —Ela disse colocando a mão na cintura.
— Um quarto. —Vita disse colocando uma moeda na mesa, apertei o braço dele e ele pareceu entender. —Mas antes duas sopas de orá, por favor.
Franzi o cenho com isso de orá, mas fingi conhecimento e assenti, feliz por ele ter entendido que eu estou sempre com fome. Nossos braços ainda estavam entrelaçados e a balconista ficou nos olhando.
— Lua de Pólen? —Vita pareceu ficar avermelhado e me olhou rapidamente.
— Isso... Vem, vamos sentar. —Ele falou me levando pra uma mesa sem olhar pra mulher nem pra mim.
— O que é Lua de Pólen? —Perguntei me sentando, feliz por estar prestes a comer uma comida quentinha depois de dias andando e comendo pão e frutinhas.
— É uma viagem... Que casais do Reino da Vida fazem depois de se casarem. —Ele falou ainda sem me olhar.
— Você falou que a gente tava nisso? —Falei tentando soar plena, mas meu coração acelerou um pouco. —Lua de Mel?
— Achei mais fácil do que explicar qualquer coisa... Mel?
— É como chamamos essa viagem no meu planeta. —Ele parecia olhar ao redor, especialmente pra uma mesa onde um jovem metade pássaro, as penas azuis e uma espada longa na cintura, estava conversando com um homem pedra, tipo umas 3 vezes meu tamanho. —O que foi?
— A gente teve sorte de vir parar nesse reino, ele é relativamente seguro, pelo menos pra quem não é daqui. Temos que ter reforços pro próximo reino. Você também precisa treinar... Aquilo.
A mulher veio até nossa mesa e trouxe duas tigelas grandes de algo muito cheiroso, colocou na nossa frente e eu dei um berro. Era um líquido roxo vívido saindo fumaça, dentro daquilo, boiando, tinham olhos. A música parou e todos me olharam, Vita estava pálido e com os olhos arregalados.
— E-ela não tem costume... De ver orá... —Vita falou pra mulher, que tinha levado a mão ao coração com o susto. A música voltou a tocar lentamente e as pessoas foram parando de nos olhar, quando a mulher saiu, Vita colocou a mão na boca e pela primeira vez desde que o conheci, ele estava rindo.
Eu olhava pra Vita horrorizada, ele pegou um olho com uma colher e colocou na mesa, partindo aquilo no meio, por dentro parecia um repolho.
— É só uma fruta. —Ele falou, tentando se recompor e parar de rir.
Encarei a sopa mais uma vez, vendo que os "olhos" não pareciam tanto assim com olhos. Vita levantou as sobrancelhas pra mim e fez um sinal com a colher, para que eu experimentasse. Coloquei lentamente um repo-olho na boca e mastiguei. Meu Deus como era bom, fiz o clássico barulhinho da Ana Maria Braga.
— Viu? Maluca... —Ele falou balançando a cabeça, em pouco tempo já tinha ficado sério de novo —Já volto, não se preocupa.
Ele se levantou e foi até a mesa que ele observava tanto, falou algo com os dois homens que eu não conseguia ouvir por causa da música, vi mostrando a bolsa de ouro pra eles. Em pouco tempo Vita voltou a se sentar comigo junto com os estranhos.
— Prazer, moça. —O meio pássaro jovem estendeu a mão pra mim e eu lhe dei minha mão, ele a levou a boca, dando um beijo. —Me chamo Sialia.
Observei ele se sentar à mesa, Vita olhou ele de canto de olho, sentando entre nós dois. Na minha frente sentou o homem pedra gigante. Ele sorriu e assentiu pra mim.
— Eu sou Argon. Menino planta, Miosótis, contratou eu e Sialia. —Ele me olhou esperando que eu dissesse algo, mas eu não disse. —Como chama a menina planta?
— Floreli. —Falei, quase pensei em questionar o Miosótis, mas logo percebi que era o nome falso de Vita.
— Eu também disse para não fazerem perguntas. —Vita disse, sério. —Amanhã de manhã nos encontramos aqui e vamos pro local que combinamos, lá explico mais detalhes. —Ele pausou e olhou pros dois, daí eu vejo se dou o pagamento.
Os dois se olharam e depois assentiram.
— Somos bem treinados, senhor Mios... Mio...
— Pode chamar de Otis, se quiser.
— Bem mais fácil! —Ele deu uma risadinha grossa e levantou o braço gigante, a mulher da taverna veio até a mesa com um bloquinho na mão e uma pena. —Uma rodada pro chefinho na minha conta!
— Você me deve Argon. —Ela falou com a mão na cintura.
— Eu pago, Li. —Sialia disse, pegando quatro moedas de prata do bolso e entregando pra moça, ela dá um sorrisinho quando ele se dirige a ela e pega o dinheiro.
— Obrigado, amigo. —Argon dá um tapa nas costas de Sialia, que parece mais uma porrada, o rapaz só sorri parecendo acostumado com o cumprimento.
Em pouco tempo cervejas chegaram e o homem pedra deu um tapão na mesa, alegre, em meio segundo desceu a bebida toda. Sialia fez o mesmo, em um tempo um pouco maior. Eu dei uma boa golada, já estava acostumada com bebidas depois do que passei com minha mãe e seria bom descansar por um dia e relaxar. Vita deu apenas um pequeno gole.
Todos do bar se levantaram e se organizaram no corredor, mulheres de um lado e os homens de outro, uma música alegre começou a tocar e Argon levantou os braços, feliz, e se levantou.
— O trabalho é só amanhã! —Ele falou correndo até a fila, ficando de frente a outra mulher pedra, que sorriu pra ele. Sialia sorriu vendo o amigo.
— Não posso deixar ele sozinho... Você vem comigo? —Sialia levantou e estendeu a mão pra mim, querendo que eu fosse dançar com ele. Vita olhava de mim pra Sialia.
— Ela tem que descansar pra amanhã. —Vita falou, seco.
— Na verdade, isso me faria muito bem! —Falei levantando, sem pegar a mão do rapaz ainda. —Vem, Otis?
Ele olhou de mim pra Sialia e cruzou os braços, olhando pra cerveja.
— Não.
Franzi o cenho, decepcionada. Peguei na mão de Sialia, que sorriu, e segui ele até a fila.

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Os Oito Reinos
FantastikUma Deusa entediada decide criar oito reinos caóticos e desequilibrados. Seu filho metade planta e mimado teleporta Camila pro mundo deles por puro acaso, o que pode dar errado quando a Deusa está disposta a ir até onde for possível pra matá-la? Cap...