A música era tocada rapidamente no violino por um homem pássaro colorido, enquanto duas mulheres tocavam flauta e um tambor, as pessoas começaram a dançar em casais, com minha palma da mão encostada na de Sialia, eu tentava acompanhar o ritmo rápido deles. Nós trocávamos de pares sorrindo, até que voltei ao meu, que me girou algumas vezes enquanto eu ria.
— Você até que dança bem pra ser do Reino da Vida, sei que não são muito de festa. — Sialia falou, enquanto girávamos ao redor um do outro com as palmas encostadas, ele sorria assim como eu.
Trocamos de pares novamente, eu dançava com homens pedra e pássaros até que cheguei em Argon, que parecia incomodado.
— Acabei de saber o que aconteceu com Vita, sinto muito.
— O que? — Perguntei assustada enquanto trocava de par, ele só me olhou triste. Procurei Vita nas mesas e lá estava ele, de braços cruzados... Me olhando. O olhei de volta preocupada e ele só desviou o olhar para o copo de cerveja.
Quando retornei a Sialia, ele me girou de novo e me puxou para ele dançando animadamente, mas agora eu estava preocupada, ele sabia que Vita estava ali?
— Argon me falou... De Vita? — Eu tentei falar baixo.
— Sim, você não sabe? Seu Guardião fugiu com a noiva. — Eu suspirei aliviada e ele sorriu de lado. — Também não gostava dele? Quer dizer, o que se espera de alguém como ele?
Imediatamente parei de dançar e ele me olhou confuso.
— Está cansada?
— Quem você pensa que é pra falar assim do... De um Guardião? — Eu olhei de relance pra Vita, que olhava desanimado pro próprio copo, quase vazio. Sialia sorriu, como se eu tivesse dito uma piada.
— Ele não faz literalmente nada pro próprio reino, é só uma sombra da mãe. — O que? Não tinha sido Vita que criou toda a fauna e flora? — Dizem que ele ia forçar a garota a se casar com ele, deve ter fugido com ela sequestrada. A Deusa está devastada, é o que dizem.
— Cala a boca. — Eu falei, sentindo minhas bochechas queimarem, a música tinha terminado e a nossa conversa estava audível. — Você não pode falar desse jeito dele... Você...
— Deve falar pior. — Vita apareceu atrás de nós. Tomei um susto, colocando a mão no peito. — Flo sempre fica um pouco em negação falando do nosso Guardião, queria tanto que ele... — Ele deu um sorriso forçado. — Fosse melhor, sabe?
Sialia olhava dele para mim, parecendo ainda um pouco confuso.
— Que tal subirmos, Flo? — Ele estendeu o braço pra mim e eu imediatamente entrelacei no meu, Sialia assentiu com a cabeça, parecendo decepcionado, e virou as costas indo para uma mesa.
Ao chegar no quarto, ele era razoavelmente grande, com uma cama fofa e a cabeceira de metal. Em frente a ela, uma lareira de pedra. Perto da janela, uma poltrona grande coberta por uma manta, do lado de uma mesinha de canto com um lampião.
— Esqueci de te avisar que eu não sou um bom Guardião. Pelo menos pelo que meu povo sabe. — Ele abaixou em frente a lareira, tentando acendê-la. — Minha mãe pegou o crédito de tudo de bom que eu criei pro reino. Eu sou só um acessório.
Ele nem parecia triste falando aquilo, parecia mais que tinha aceitado.
— Nós vamos destruir ela. — Eu falei casualmente, me sentando na cama e sentindo ela afundar, Vita me olhou curioso.
— Achei que você só queria ir pra casa. — Ele disse finalmente conseguindo acender a fogueira e se sentando ao meu lado.
— Eu... Posso ir depois. — Falei tentando sorrir e encorajar ele. — Pra onde vamos amanhã com aqueles dois?
— Quero ver eles lutando, além de treinar você. — O olhei curiosa. — Seu dom só funciona de noite, com a Lua. De dia você precisa saber se defender do que a Deusa vai mandar atrás de nós.
— Por que ela mesma não vem? — Enchendo-o de perguntas como sempre, também né, o cara nunca me contava nada com detalhes.
— E chamar atenção? Ela não quer que saibam que está desesperada pra me encontrar, sem mim o Reino da Vida não vai durar muito. — Ele se levantou e pegou um pouco de lenha ao lado da lareira, com uma pequena faca ele começou a talhar a madeira, voltando a se sentar na poltrona. — Agora, descanse.
— Por que não duraria? — Falei deitando e me cobrindo com o lençol que coçava um pouco.
— Eu sou seu guardião. Quanto mais tempo eu fico longe... Mais fraco o cristal e mais fraco o reino, o povo pensa que ela é a fonte de energia, não eu. — Ele falou suspirando triste. — Mas tudo vai compensar no final, ela dividiu o poder dela entre os cristais, não é tão invencível quanto todo mundo pensa.
Dei um pequeno sorriso ao ouvi-lo com esperança de tudo dar certo e fechei os olhos, tentando dormir. Eu ouvia o barulho baixinho das labaredas e de Vita talhando a madeira, me sentia segura.
Acordei com Vita encostando no meu ombro e sorri ao ver que ele parecia animado, me espreguicei na cama dando um bocejo alto.
— Acordou na hora do almoço, anda, já deu até tempo de eu ir na feira. — Ele jogou uma roupa em mim e percebi que ele próprio usava uma roupa diferente. Usava uma capa com um capuz, sua roupa completamente de couro, assim como suas botas. Atravessando suas costas estava seu arco junto com um conjunto de flechas que ele provavelmente passou a noite talhando.
Levantei da cama animada e olhei a roupa que ele me deu. Era igual a dele, totalmente de couro, um colete, uma calça, bota e luvas. Ele se virou e eu me troquei.
— E aí? — Perguntei pra ele, que me olhou de cima a baixo e depois olhou pra janela rapidamente.
— Hã... Ficou legal. — Ele falou rápido. — Cadê o Lo, hein? Ele saiu voando do meu ombro assim que chegamos e depois não voltou.
Como se tivesse ouvido seu nome, o gato chegou voando pela janela e pousou na cama, soltando um longo miado.
— Ele deve ter gostado de ver todo mundo voando que nem ele. — Falei rindo e pegando um biscoitinho de gato mágico na mochila de Vita e entregando pra ele, que comeu satisfeito.
— Chegou na hora, amigo. — Lo voou para o ombro dele e saímos do quarto e do hotel, andando mais uma vez pela rua abarrotada de gente enquanto Vita segurava minha mão para eu não me perder, ele segurava um papel na mão, imaginei que fosse um mapa.
Andamos um tempo para fora da cidade e fora da redoma, a vegetação pela qual passávamos lembrava muito uma savana, até que chegamos num ponto onde Vita parou, olhando pro papel. Bem na nossa frente, havia uma árvore especialmente grande com vários arbustos ao redor, quando nos aproximamos, vimos que logo em baixo dessa árvore tinha uma espécie de alçapão. Vita bateu nele três vezes.
Uma mão gigante de pedra abriu o alçapão e logo vi Argon com um grande sorriso.
— Bem vindos, amigos!

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Os Oito Reinos
FantasiUma Deusa entediada decide criar oito reinos caóticos e desequilibrados. Seu filho metade planta e mimado teleporta Camila pro mundo deles por puro acaso, o que pode dar errado quando a Deusa está disposta a ir até onde for possível pra matá-la? Cap...