Único

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— Ei, InuYasha, o que você está fazendo?

— Keh! Fique quieta, Kagome, ou vai espantar os animais — repreendeu-a.

— Animais?

— Você disse que estava com fome, não é? Então fique quieta e não me amola.

"Entendi, ele está caçando", a morena concluiu mentalmente, dando uma risadinha.

InuYasha e Kagome se separaram do restante do grupo há alguns dias. Miroku e Sango foram até a vila dos exterminadores para restaurar o Osso Voador que estava gasto; Shippo permaneceu na casa da senhora Kaede junto de Myoga, para ajudar a velha pulga em alguma tramoia. No fim, restaram somente os dois, como nos velhos tempos.

"Velhos tempos...", Kagome se pegou em pensamentos nostálgicos.

Ao olhar para trás, para o momento onde tudo começou, era significativa a mudança que ocorreu em sua vida ao longo dos meses.

No início, ela e InuYasha não se davam nada bem. O hanyo a tratava como um fardo, ele a via como uma humana inútil que o lembrava de alguém ao qual ele, supostamente, detestava.

"Kikyou...", se perdeu por um tempo no rosto daquela que diziam ser sua vida passada.

Se tomasse isso como verdade, sua alma já estava impregnada por uma forte ligação com InuYasha. Claro, ela era quem era, não via nenhuma semelhança entre si e a outra, a não ser pelo fato de se sentir estranhamente atraída por aqueles olhos dourados.

O que mais a incomodava, era o fato de que mesmo na época em que o rapaz jurava odiar a tal Kikyou, ele sempre carregou olhos gentis e saudosos ao se referir a ela. Já com Kagome, ele era como uma criança; pirracento, implicante e teimoso.

A cada dia, pouco a pouco, vagando sem direção certa em busca dos fragmentos da jóia, aquela implicância inicial ia se transformando em uma amizade peculiar.

Mesmo que ele ainda a provocasse verbalmente, suas ações demonstravam que o coração gentil que ele carregava a havia aceitado como uma companheira; alguém com quem ele podia ser ele mesmo.

"Eu quero estar sempre com InuYasha, caminhando ao seu lado...", dizia a si mesma em momentos como esse, nos quais ele, mesmo de uma forma rabugenta, zela por ela.

No ritmo com que o tempo ia passando, aquele sentimento se intensificou e, antes que pudessem se dar conta, algo mais profundo surgiu.

Ela não era a Kikyou que ele amou. Ele não era o cara por quem ela imaginava que se apaixonaria, mas o amor é uma coisa curiosa.

Foi viajando por vastas planícies e densas florestas que um sentimento cresceu em seus corações e que agora gritava a cada segundo em seu interior.

— GARRAS RETALHADORAS DE ALMAS! — O platinado rosnou ao desferir um golpe acertando sua presa em cheio.

InuYasha caminhou vitorioso com um cervo nas costas, trazendo-o como um troféu.

— Veja, Kagome, nosso jantar!

— O quê? Ele era tão lindo... Coitadinho, InuYasha, eu não quero comê-lo. Vamos enterrá-lo!

— Mas o quê?! Eu demorei muito a encontrar algo que pudéssemos assar. Vamos comer sim!

— Não, não vamos!

— Vamos sim!

— Não vamos!

— Eu já disse que vam-

— SENTA!

Sempre ao seu ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora