Capítulo XVI - Uma viagem por emoções, sentimentos e arte...

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   Margarida respondeu, simplesmente:

   - As emoções, às vezes, confundem-nos e levam a que compliquemos algo tão simples como os sentimentos. Viver neste mundo não é simples e quem te disser o contrário, está-te a mentir, como bem sabes.

   Laila colocou, então, o pensamento que realmente a azucrinou quando ela ouviu o que a amiga lhe disse.

   - Guida, entendo o que dizes. Mas, o processo de luto não pode ser apenas um processo de saudade, como tu dizes. Mesmo quando encaro a Deus e sei que existe vida após a morte do nosso corpo neste mundo, existem três coisas que me tirarão o sono depois de encarar essa realidade. São três caminhos, segundo a Igreja Católica. Chamam-se Céu, Inferno ou Purgatório.

   Margarida completou com a pergunta, a ver se tinha entendido direito:

   - Para qual caminho a pessoa foi encaminhada?

   Laila acenou com a cabeça que "sim".

   - Sabes, Laila, eu não sei muito sobre esses três caminhos, nem sequer como é feita a seleção. Sei que, nesta terra, devemos esforçar-nos por seguir os mandamentos de Deus de forma a enveredarmos pelo primeiro. Não estou a falar propriamente dos Dez Mandamentos, mas dois que os resumem: "Amar a Deus com todas as tuas forças e todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo". – e após uns instantes de silêncio – Para mim, o inferno já existirá na terra, se não te esforçares e não viveres, de algum modo, cada um destes mandamentos. A existência longe de Deus é uma existência de vazio, a dor já consome a tua alma se não te esforçares para ir de encontro a Ele. Porque, ir de encontro a Ele é ires de encontro a ti mesmo, a quem realmente és. Como podes ser feliz se não te reconheces a ti mesmo? Como podes ser feliz se não tens Aquele que te ama, acima de tudo, por perto? Como podes ser feliz ao perceberes que foste tu quem fez estas maldades todas a ti mesmo? O inferno é choro e ranger de dentes, é tristeza absoluta e crónica, é dor sem fim, mas é tudo o que podes buscar para ti ao afastares-te de Deus! No outro plano, inferno, sem mais nada, será não teres parte com Deus e por isso, viveres sem O conhecer, sabendo que Ele existe. Será Ele não te reconhecer como Sua criação, quando não és nada sem Ele! Viverias na maior das perdições! Estando perante a presença pela qual o ser humano mais pode ansiar e não podendo contemplá-la, porque, perderam na terra a sua conexão com Ele, já não são parte com Ele! Estar perante o Pai e o Pai renegar-te, deserdar-te da fortuna que inicialmente te estava destinada, não uma fortuna constituída por joias e outros tipos de riquezas mundanas, mas uma fortuna constituída por uma felicidade eterna e plena. De repente, olhas ao teu redor e todos estão felizes com o Pai, mas tu estás sozinho ou então, na companhia de outros como tu, que é o mesmo que estar no vazio, porque para além do corpo que já jaz numa sepultura qualquer, as pessoas que se deixaram ir pelo caminho da perdição e chegaram ao fim deste com sucesso, não tem nada dentro de si. Vislumbram almas vazias, porque foi nisso que a dor que consumiu toda a sua alma os tornou: seres vazios. Pode ser tão ruim que eles nem sequer reconheçam a Deus, quando ele é o único capaz de aliviar as suas dores. Não é passível que pessoas assim tenham deixado muitos amores na terra, porque amar pressupõe conhecimento da pessoa que se ama e amar o vazio é quase uma missão impossível de se realizar. Existe também o purgatório e pelas pessoas que se encontram lá, podem-se juntar ao teu coração algumas dores, porque algo ainda ilumina aquela alma e quando não é apenas o pedacinho de bem que nasce connosco, até pode ser o amor que essa pessoa tem por ti e os amores costumam ser correspondidos. Segundo a Igreja Católica, essas são as almas que embarcam na grande viagem sem estar completamente preparadas, mas te ainda podem um dia vir a ver e conviver com Deus. Acho que é o medo de algumas pessoas que nos amam estarem nessa categoria que nos assombra, assim como o facto de podermos derivar para ela ou outra ainda pior. – e depois de um curto silêncio – Mas, agora, se não te importas, gostava de falar sobre outra coisa, porque este não é um assunto que me agrade muito: o fim da vida. Gosto de quando a viagem ainda está a ser traçada. Não vivendo com medo do que pode ser o nosso fim, mas percebendo antes que nenhuma existência é plena se Deus não estiver a realizar um importante trabalho nela. Não devemos ter medo da punição, mas antes lutar pela recompensa, porque a recompensa é encontrarmo-nos a nós mesmos.

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