Capítulo XVII - Desafios do amor... (parte 1)

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   Margarida corrigiu:

   - Talvez, não seja verdade. Mas, tu estás muito mais disposta a fazer com o teu amor por eles muito mais do que o que eles estão dispostos a fazer com o amor que sentem por ti. Talvez seja o mesmo amor, só que em almas diferentes, estimulando a atitudes boas, pessoas com personalidades muito distintas. Talvez por isso deias mais de ti do que eles dão de si, porque tu procuras amor e eles o repudiam.

   Laila contra-argumentou com o argumento mais forte que lhe ocorreu:

   - Então, segundo a tua ideia recentemente desenvolvida, Deus não nos pode amar infinitamente, porque nós não o amamos na mesma proporção.

   Margarida sorriu:

   - Deus é a própria definição de Amor, na Sua alma não existe sombras, apenas luz. Por isso, há n'Ele amou incondicional e absoluto. Quando eu falo das relações humanas, talvez nós criemos barreiras na geração de sentimentos um dos outros, através da dor que existe em nós. Numa primeira estância, podemos ver o crescimento do amor por nós no coração de outra pessoa encontrando um obstáculo ao tocar na dor que existe dentro da alma da outra pessoa e ainda não foi enfrentada. Isso bloqueia-nos a geração do amor pela outra pessoa em nós mesmos. Vencer esse obstáculo, utilizar o amor para vencê-lo é muito importante, porque a partir daí, criamos um amor mais forte e pessoas mais felizes e indo de encontro a si mesmas, ao encontro de Deus.

   Laila pensou sobre o assunto:

   - Talvez, faça um pouco de sentido, porque acho que se os meus pais conseguissem resolver o seu conflito com o álcool, eu poderia aproximar-me mais deles e amá-los mais, embora a relação a relação com o meu pai esteja fraturada por vários motivos, além da bebida.

   Margarida continuou:

   - Mesmo assim, acho que quem tem mais amor dentro de si está mais apto a lutar pela geração de amor autêntico e forte, porque o amor que existe pelas outras pessoas em si leva-o a não ter medo de amar outra pessoa, a perceber que vale a pena lutar por aquele amor para que ele se torne mais forte, porque esse sentimento tem sim, o poder de derrotar dores e a vitória sabe melhor, quando pode ser festejada em conjunto. De certa forma, apesar de o amor pela outra pessoa ser proporcional ao que ela sente por ti, a demonstração desse sentimento por parte de quem tem a sua alma muito iluminada, através do que ela está disposta a arriscar pela pessoa amada pode ser muito mais significativa. Porque os vários amores que habitam o seu coração acabam a lutar à beira daquele que é mais recente e naquele momento, está mais desprotegido. De certa forma, é como se nos fosse possível amar os outros como a nós mesmos. Porque, o amor é aquilo que nos define, a peça principal de quem somos, uma dádiva do nosso Criador para nós, algo que nos identifica em muito com Ele. Só amamos em nós aquilo que nos define, que é intrinsecamente nosso, o que de melhor conhecemos em nós. Não podemos dizer que a dor nos define, mesmo que ela grite, às vezes, muito alto em nós. Ela é uma oferenda desonesta do mundo externo e raramente se agrega a nós com peso de alguma coisa. Acaba sempre a retirar-nos algo e não a acrescentar nada, porque embora exista dentro de nós, como tu disseste há um pouco, a sua presença é feita de vazio. O amor, por sua vez, é algo que nos complementa, algo que se agrega e que nunca poderá ser-nos retirado. Que vive dentro de nós e uma vez que tenha conquistado a nossa alma, de lá nunca sairá, porque ele faz parte de quem somos e de quem poderemos vir a ser. Ele alegra a nossa alma, torna-nos destemidos e gruda, porque nasceu para ser parte de nós. É através dele que temos presença, que nos descobrimos e podemos, sem ainda sequer, conhecer o Seu nome, aproximarmo-nos de Deus. Estamos aqui, neste mundo, para nos descobrirmos, e descobrimo-nos através do Amor. Portanto, como o amor faz parte da nossa essência, um pedacinho do Amor maior que habita os outros, quando se cria amor, com auxílio do nosso pedacinho de bem no coração das outras pessoas, ele se agrega aos restantes que existem e dão identidade à pessoa que ama, algo que em parte perdemos e temos de encontrar urgentemente, neste mundo. Pelo que, a quantidade de bons sentimentos que temos dentro de nós acaba por ser quem nós somos, quão longe chegamos no conhecimento de nós mesmos. Então, quando existe um amor que se quer tornar ainda mais forte e ele ultrapassa obstáculos, porque unimos todo o amor que existe em nós em prol de uma pessoa, não estando a pensar essencialmente nela, mas nela como pessoa, acabamos por amar os outos como a nós mesmos, como o tanto que já amamos em nós. De amor em amor, chegamos ao amor de Deus, mas Ele tem de ser maior do que todos os outros. Ele é a razão por todos os outros amores existem e a soma de todos eles juntos. Porque, sem Ele, não teríamos a capacidade de amar, não seriamos nós, não existiríamos.

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