Capítulo XIV - Sobre emoções e sentimentos... (parte 1)

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   Laila ficou um pouco perdida com aquela pergunta, uma vez que Margarida respondera às suas perguntas com outra pergunta. Também já não sabia muito bem tudo o que abordara com a garota naquela conversa. Se lhe tinha dito que os pais estavam juntos novamente ou não. Esse era um conhecimento que Margarida, no começo daquela conversa, não tinha. Era um dos principais problemas porque Laila não queria que ela e Vitória fossem para a sua casa. Porque, seria constatar perante elas, que todos os recém-avanços que ela havia feito tinham retrocedido. A verdade é que nem sequer valia a pena entrar por aí, o importante era que já não havia esse segredo perante aquela que Laila acreditava ser a sua melhor amiga. Um alívio veio sobre ela. Margarida conhecia-a tão bem que conseguia perceber as suas meias-verdades e no meio ao caos, formular pensamentos concretos. As conversas com Margarida eram sempre estranhas, mas traziam ensinamentos, coisas sobre o que ela refletir em momentos de silêncio ou ao som de uma música calma. E, em muitas coisas, Laila tinha de admitir que a sua amiga tinha razão.

   Acenou que "sim" com a cabeça para Guida e ela continuou respondendo à pergunta anteriormente colocada, com serenidade:

   - Para mim, não há nenhuma em veracidade em dizer que o amor e o ódio andam de mãos dadas, não quando se fala de amor e ódio vinculados à mesma pessoa e nem quando, se fala de muito amor direcionada a umas e um ódio gritante em relação a outra. O amor combate o ódio e é mais forte do que este! Então, mesmo que, numa situação hipotética, ódio e amor se estivessem a formar lado a lado, em iguais proporções, o amor destruiria o ódio e seria apenas ele a prevalecer quando essas forças antagónicas se confrontassem, devido à sua natureza boa. Só temos um Deus! Não existe um Deus do bem e do mal, apesar de existir o mal neste mundo, aquele que consome a alma das pessoas em forma de dor e as entrega a um vazio debilitante e entristecedor! Apenas existe um Deus do bem, um Deus que é bondoso! Pelo que na luta entre os bons sentimentos que são sinal da nossa criação por este Deus e os maus sentimentos que são o resultado de dores mal resolvidas provocadas por este mundo, entre sentimentos que nos vem de Deus e aqueles que são fabricados pelo mundo, com certeza que os que alcançam vitória são os primeiros. O que te disse há uns minutos sobre este assunto, é o que te digo agora novamente, o amor não convive com o ódio, mas é possível que amemos uma pessoa e sintamos raiva dela em algum momento. É uma emoção, facilmente controlada pelo sentimento e que não te leva a fazer mal intencionalmente à pessoa amada, porque é o sentimento, que existindo, molda a emoção. Em relação ao que já disse também anteriormente, tenho a dizer – e abanou a caixa de analgésicos com uma das mãos - que dor e amor podem, sim, conviver um com o outro. Mas, o amor não provoca dor, ao contrário daquilo que dizem.

   Laila ficou irrequieta.

   - Como assim? Quer dizer, eu amo a minha mãe, o meu irmão, os meus amigos e por isso, sofro por isso. Se não os amasse, não sofreria e, nesse ponto de vista, só consigo dizer que o amor provoca dor, sim.

   Margarida olhou para ela com entendimento, mas não com concordância:

   - Entendo o que queres dizer, porque, de certa forma, parece lógico. Seria como eu dizer que só sofri estes anos todos e ainda sofro com a ausência dos meus pais, porque os amo. Mas, o que eu te tenho a dizer é que não é pelo amor que lhes tenho que sofro, é antes pelo amor que lhes tenho, que tenho esperança no futuro. Sei que é difícil perceber, mas há uns tempos para cá tenho pensado cada vez mais nisto, por um lado por causa de alguns poemas que tenho tido o privilégio de ler naquela plataforma de que te falei em que podes ler e publicar textos, por outro pela necessidade que tenho de analisar algumas situações na minha vida, inclusivo toda esta situação que envolve os meus pais, que me levaram a refletir. E comecei a perceber que a dor e o amor são de condições tão diferentes que não se podem associar, não diretamente. O amor não cria dor, mas a dor, sempre à espera no mundo externo para nos seduzir, pode-se aproveitar de algumas situações que impedem a real manifestação do amor no mundo externo para adentrar na nossa alma, mesmo na presença do amor. Também quando amamos, o que nos pode afetar não passa a ser só aquilo que afeta o nosso mundo exterior, mas também o que afeta o mundo exterior da pessoa que amamos, que no lhe pode causar dano no seu interior, na sua alma. O amor torna-nos amplos, abrangentes e destemidos!

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