6. Confiança

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No intervalo do dia seguinte, ela decidiu se juntar a nós. Foi o primeiro passo para a formação do nosso grupo.
O Marlon e a Lory ficaram bem surpresos com a presença dela na mesa.
— Foi bem espantoso quando o Enzo falou que você se juntaria a nós hoje — Marlon falou.
— O Enzo é bem persuasivo quando quer — disse ela.
— Tirando as brincadeiras, ficamos felizes com você aqui. Não é, gente? — comentei.
— É bom ter mais uma garota, agora podemos tomar decisões iguais — Lory falou rindo.
— Eu agradeço pelas palavras, às vezes sou uma pessoa complicada e difícil de lidar, mas com o tempo construiremos uma confiança, e isso que espero compartilhar e receber de vocês. As outras coisas são apenas detalhes.
As palavras dela foram bem sinceras.
Foi bem interessante aquele almoço, rimos bastante e compartilhamos histórias sobre cada um. Diria que foi um dos dias mais felizes da minha vida. Para alguém como eu, que passou o fundamental sozinho, foi bem marcante tê-los como amigos. Pode parecer besteira, mas sinto que minha vida de colegial começa agora.

Os dias que se passaram foram como um amor de verão. Três semanas, onde tudo foi incrível. Em casa as coisas tinham dado certo, tudo parecia ter se alinhado.
Minha relação com a Carol tinha progredido bastante. Realmente pareciamos amigos de longas datas.
Marlon e Lory, de uma forma estranha, estavam bem. Pensei que eles não fossem durar muito, mas fiquei surpreso de uma forma positiva.
A nossa amizade em grupo estava ótima. Íamos sempre juntos ouvir músicas. Era nosso hobby favorito.
Era mês de outubro e consigo chegou o outono, com seus ventos longos e frios. Umas das estações que eu mais gostava. Época em que as folhas e flores caíam. Pode parecer triste, mas para mim é algo incrível, as árvores e plantas estavam perdendo um pouco da sua essência e cores, mas é extraordinário como sempre na primavera, elas recomeçaram, mesmo sabendo que haveria outro outono.

Era sábado, tinha marcado de encontrar o pessoal na loja às três horas. Cheguei um pouco antes, mas a Carol já estava lá.
— Pensei que seria o primeiro a chegar — comentei.
— Estava um tédio em casa, então, resolvi vir mais cedo — disse mexendo nos discos da prateleira.
Estava linda como sempre, com uma jaqueta, jeans da Hard Rock Café, e com camisa toda preta por baixo, calça jeans rasgada no joelho e seu All Star preto. Estranhamente estava usando batom vermelho, mas não muito forte, só o essencial para ser algo a ser notado.
— Batom vermelho… gostei. — Tive que comentar.
Ela riu.
— Sempre notando os detalhes, e você também não está muito mal com essa jaqueta.
Estava com uma jaqueta de couro preta, e camisa branca por baixo. Bem no estilo vintage.
— Ganhei ela do meu pai quando fiz dezesseis anos. Por falar em aniversário… quando é o seu? — perguntei para ela.
— Se eu falar, promete que não vai me dar nada de presente?
— Por que, Carol? Ganhar presente é bem legal, demonstra um sentimento que outra pessoa quer passar, pelo mais simples presente que for.
— Sei lá. Nunca gostei de ganhar presentes, mas promete, vai!
— Está bom. Está bom, mas fala logo. Tô curioso.
— Dia 09 de outubro — disse colocando sua mão no rosto.
Seria em uma semana.
— Por que não me falou antes? Tinha me preparado melhor para comprar um prese-… ops! Não era para eu ter falado — disse fazendo uma careta.
— Ah! Não vale. Você me enganou — disse fazendo um bico.
— Você fica tão linda fazendo bico, mas calma vai ser algo bem especial, garanto que vai gostar.
— Se for assim tudo bem então! Me fala quando é o seu?
— Dia 25 de março, ainda está longe, e diferente de você, eu amo presentes.
Demos risadas, e após isso o “casal perfeito” chegou.
Enquanto estávamos na loja, fiquei pensando no presente que iria dar para ela, e a única coisa que vinha na mente era um disco. Mas qual disco? Não consegui chegar a uma conclusão, e a única solução no momento era perguntar ao meu pai, já que ele conseguiu conquistar minha mãe dessa forma. Ele deveria saber o que fazer.
Por volta das cinco horas, fomos embora.
Marlon foi acompanhar a Lory até a casa dela, e eu acompanhei a Carol até a sua, algo que virou rotina nos nossos encontros.
No caminho falávamos sobre várias coisas. Era incrível o quanto ela tinha a acrescentar. A parte triste, era a despedida. Várias vezes pensei em confessar meus sentimentos para ela, mas o medo de estragar tudo, me fazia pensar duas vezes.

Quando tinha chegado em casa, encontrei meus pais sentados no sofá da sala. Era a oportunidade perfeita para falar sobre o presente e conselhos sobre o que eu estava sentindo.
— E aí, filho. Como foi com seus amigos? — meu pai perguntou.
— Foi bom, e o dia de vocês dois? — perguntei me sentando no sofá com eles.
— Foi ótimo. Só ficamos em casa vendo filmes. Estávamos precisando de um dia de sossego — respondeu minha mãe.
— Queria perguntar para vocês sobre relacionamentos…
— Está gostando de alguma garota, Enzo? — eles perguntaram.
— Digamos que sim — respondi, mas na realidade estava apaixonado.
— E quem é essa garota, como ela é? — perguntaram.
— Ela é do meu colégio, e como ela é? Como eu posso descrevê-la… ela é a melhor garota do mundo, ela me faz sentir especial, ela é maravilhosa. Resumindo, ela é a garota mais linda do mundo. Depois de você, mãe, é claro.
— Modéstia sua — ela respondeu rindo. — Ela deve ser bem especial mesmo. Você pode trazer ela aqui em casa, quero muito conhecê-la.
— Qual era a sua pergunta? — perguntou meu pai.
— É, que semana que vem, é o aniversário dela. Eu queria dar um presente especial, que de alguma forma mostrasse que eu gosto dela. Ela tem um gosto musical parecido com o meu, então pensei em dar um disco, mas seria muito previsível, e também não sei se mostraria meus sentimentos. Não acham?
— Na verdade, filho, eu não sei… Mas se ela é tão especial para você, por que não faz uma música para ela, e grava em um disco? — meu pai falou.
— Não sei se consigo escrever.
— Claro que consegue! Eu ajudo você na produção. Ela vai gostar, né, Ane?
— Vai sim, e também dê flores, qualquer mulher ama flores. Eu ia amar receber uma música feita para mim — falou olhando para o meu pai, mas acho que ele não entendeu a indireta.
Os agradeci, e subi para o quarto, cheio de energia para escrever a música.
Sentado na cama, batendo cabeça para escrever algo. Pensei que realmente não ia conseguir, e um detalhe dela foi a minha salvação, sua pele morena. Com isso comecei a escrever.

Morena da pele doce e suave…
Outro detalhe era seu olhar misterioso.
Ah! Qual é o mistério do seu olhar?
[...]

Daí para frente as frases foram surgindo e incrivelmente acabei de escrever a letra no mesmo dia.
Eram quase onze horas. Notei que não tinha jantado. É como dizem “o amor não te dá fome.”
Desci até a cozinha para comer algo rápido e voltei para dormir. Ainda bem que era domingo o próximo dia.

Na manhã seguinte, entreguei a letra da música para o meu pai. Ele leu e gostou.
— É uma bela letra. Você sabe em qual estilo vai colocar a batida? — ele perguntou.
— Pensei, em como ela gosta do Soul, vou colocar nesse ritmo e tenho até uma música na cabeça para tirar a sonoridade.
— Qual música?
— Smokey Robinson – Cruisin.
— Uma bela música. Nesta em específico o baixo faz a melodia, então essa será sua referência. Depois nós fazemos os arranjos em cima. Vai se ocupar hoje?
— Hoje não. Por quê?
— Podemos ir ao estúdio e gravar a voz guia. Como durante a semana você estuda, seria melhor nós irmos hoje e gravar pelo menos a sua voz. Eu tenho uns amigos que tocam instrumentos, e durante a semana posso chamá-los para gravarem em cima da sua voz e na quarta-feira depois que você chegar da escola, podemos gravar com a banda. Para poder dar tempo de fazer a edição até sábado.
— Perfeito, vamos lá então.
— Ok. Vou chamar sua mãe para irmos juntos.
Passamos o domingo inteiro no estúdio. A minha falta de experiência gerou risadas dos meus pais, mas no final deu tudo certo.  Agora era só esperar dar quarta-feira para gravar com a banda.

Cabelos CacheadosOnde histórias criam vida. Descubra agora