5. Angústia e Meditações

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No outro dia na escola fiquei ansioso para vê-la. Tínhamos aula de matemática no último horário, e isso era uma tortura.
Durante o intervalo, não a vi, achei bem estranho. Talvez tivesse ido almoçar em algum lugar diferente.
Quando tinha começado a última aula, e ela ainda não tinha aparecido, entendi que tinha faltado.
Fiquei bem chateado.
— Estranho a Carol ter faltado, ela ainda está nos primeiros dias — Marlon comentou.
As aulas demoraram uma eternidade.
Enfim, eram quatro horas.
Me despedi do Marlon e da Lory, e no caminho de casa pensei em parar na loja. Quem sabe, eu não a encontro lá? Mas para minha decepção, também não estava. Fui para casa com a sensação de um dia incompleto, já que não tinha visto aquele lindo sorriso e seus charmosos “furinhos” na bochecha.
Cheguei em casa por volta das quatro horas e vinte.
Fui direto para o quarto e fiquei procurando um disco para animar. Talvez mudasse meu ânimo. Encontrei o perfeito para a ocasião, Kenny Loggins – Footloose. Impossível alguém escutar essa música e não se animar.
Por volta das seis horas, criei coragem e mandei uma mensagem para a Carol.

“Oi. Pode parecer ridículo, mas fiquei pensando em você hoje. Espero que esteja bem.”

Pouco tempo depois, ela respondeu:

“Estou bem. Fico feliz por pensar em mim.”

“Que bom! Está onde agora?”

“Estou na praça, você pode vir, aqui agora?”

Estranho, o que será que ela quer?

“Claro! Já chego aí.”

Dei um pulo da cama, exagerei no perfume, peguei minha bicicleta e fui ao seu encontro.
Quando cheguei, ela estava no mesmo banco que da última vez.
— Oi! — falei me sentando ao seu lado.
— Chegou bem rápido — disse dando aquele sorriso.
— Pois é — falei rindo também.
Para muitos o dia começa quando nós acordamos, mas ultimamente o meu dia só está começando a partir do momento que a vejo.
— Eu conheço você há poucos dias, mas parece que somos próximos há um bom tempo. Que estranho, não acha? — comentei.
— Sinto isso também. Sabe… eu vim para essa cidade com a intenção de não conhecer ninguém, mas você apareceu, e de alguma forma, eu me sinto bem.
Fiquei feliz ao ouvir suas palavras, gradualmente ela ia confiando mais em mim.
— Acho que agora posso confiar em você.
— Falando assim, parece que eu sou uma pessoa ruim — comentei rindo.
— Você é incrível — disse ela. — Por isso quero te falar o motivo de eu ter me mudado para essa cidade.
— Se acha que esse é o momento certo, saiba que sou todos ouvidos.
— Eu vim morar aqui porque meus pais se separaram, isso foi depois de um ano após o falecimento dos meus avós. Minha mãe ganhou uma casa nessa cidade como herança. A cidade na qual eu morava não é muito longe daqui, e eu gostava muito de lá. Tive que deixar minhas amizades, meu pai. Esses dias têm sido bem difíceis. Por que as coisas são tão complicadas?!
Quando eu a vi falar daquela forma, fiquei sem saber o que fazer ou falar para confortá-la, mas eu me lembrei de um conselho do meu pai.
— O meu pai tem uma fala, que eu sempre lembro. Ele diz que: a vida não é fácil, e nunca vai ser, e que o grande segredo para superar isso é encarar os problemas com a cabeça erguida. Vai ser difícil? Vai! Mas tão certo como o sol vai voltar amanhã, essa dor vai passar.
De repente, lágrimas começaram a cair de seu rosto.
— Desculpa, pareço uma boba chorando na sua frente — disse se levantando e virando de costas.
Lentamente, eu levantei, dei a volta, fiquei de frente para ela e a abracei.
— Estou sujando… toda a sua camisa branca… com a minha maquiagem — disse com a voz falhando.
— Eu não me importo. Eu não me importo.
Ficamos naquele abraço até suas lágrimas cessarem. Devia estar guardando tudo isso por muito tempo. As pessoas podem parecer duras ou sem sentimentos, mas no final somos todos humanos, cheios de defeitos, virtudes e amores alheios.
— Desculpa novamente, é que de repente me deu vontade de chorar ao ouvir suas palavras.
— Eu entendo, essas palavras também significam muito para mim.
O celular dela começou a tocar:
— Tenho que atender, é a minha mãe — disse ela.
Se afastou um pouco, e não demorando muito, voltou.
— Eu tenho que ir agora, ela é do tipo superprotetora, até demais. Não sei por que.
— Elas são sempre assim, mas deve ter um bom motivo. Quer companhia até sua casa? — perguntei para ela.
— Não sei se isso seria uma boa ideia. Talvez minha mãe não vá gostar de me ver acompanhada. Acho que você ainda não entendeu o quanto ela é protetora.
Eu insisti e ela acabou aceitando.

No caminho, rimos bastante sobre músicas, parecia estar bem melhor! Sua casa era bem perto da praça, morávamos no mesmo bairro.
Quando chegamos em frente à sua casa, a mãe dela estava na frente da porta — ela era realmente como minha mãe tinha descrito.
Consegui ouvi-las sussurrando sobre mim.
— Quem é esse garoto? — perguntou para ela.
— Ele é do meu colégio.
Fui até elas e me apresentei.
— Meu nome é Enzo, e faço algumas aulas com sua filha. Muito prazer.
— Carla. Prazer, Enzo — disse apertando minha mão, com um sorrisinho estranho. — Estavam juntos na praça?
— Sim, estávamos falando sobre alguns assuntos — disse nervoso com sua pergunta.
— Que assuntos, Carol?
— Músicas… estávamos falando sobre músicas — Carol falou arregalando os olhos para mim.
— Muito bem! Se despede do seu amigo e entra depois.
Sua mãe entrou enquanto nos despedimos.
— Até que não foi tão ruim. Queria te agradecer por mais cedo, você foi incrível e super gentil. Estou bem melhor agora. Eu nunca vou esquecer esse dia. Obrigada — disse me abraçando.
A sensação do seu abraço era única, e seu perfume doce, mexia com meus sentidos.
— Fico feliz ao ouvir isso. Você é incrível também, e pessoas incríveis, só devem chorar se for de felicidade. Antes de eu ir embora, queria te pedir um favor…
— Você é um bobo, mas o que seria esse favor? — perguntou curiosa.
— Amanhã na hora do almoço, queria que você se sentasse com a gente na mesa. O que me diz?
— Hum! Só se você não contar que me viu chorando. Certo?
— É como dizem: “o lobo perde o pelo, mas não perde o vício.”
Demos risadas juntos, e nos despedimos. Fui para casa com um enorme sorriso no rosto.

Cabelos CacheadosOnde histórias criam vida. Descubra agora