Na segunda-feira as aulas demoraram uma eternidade para acabar. Estava muito ansioso. Quando bateu o sinal da saída, me despedi rapidamente do Marlon e fui para o endereço que Carla me passou.
Cheguei vinte minutos antes, e acabei pedindo um café preto enquanto esperava.
Às cinco em ponto ela chegou.
— Vejo que realmente gosta da minha filha.
— Sim, eu a amo, por isso estou aqui. Mesmo pensando que tudo isso é uma loucura.
Ela se sentou, pegou um envelope antigo de sua bolsa, e começou a falar:
— Primeiramente quero dizer que me sinto um pouco culpada por tudo isso, se tivesse cortado o relacionamento de vocês no começo, não estaríamos aqui, nessa situação, mas cada vez que a via sorrindo após se encontrar com você, não conseguia destruir o momento de felicidade dela.
— Eu não sabia disso — comentei.
— Ela te ama de verdade, e esse envelope que estou segurando, dentro dele há uma carta, que foi escrita por minha avó Noemy, em 1964. Quero que você a leia primeiro e depois eu continuarei. Tá bom?
Após eu ter confirmado, ela me passou o envelope com a carta. Abri cuidadosamente, e comecei a ler.
Valentine,
Estou escrevendo essa carta para você, não como uma forma de desculpa ou de perdão.
Se essa carta chegar até você, saiba que você foi a maior felicidade na minha vida.
Sei que você não entende o motivo agora, mas logo entenderá.
Por muitos anos eu vivi uma vida de infelicidade com seu pai. Você já deve ter percebido também que não existia amor entre nós. Cansada de tudo isso, resolvi me separar dele.
Sei que foi muito triste para todos, mas era algo que eu precisava fazer.
Agora vou tentar viver o meu verdadeiro amor. Algo muito ruim pode acontecer comigo, mas eu tenho que tentar.
Embaixo da minha cama tem uma caixa, e dentro dela tem um livro, que foi escrito por sua falecida avó.
Após ler essa carta, quero que pegue essa caixa e leia o livro, e então achará a resposta para tudo.
Sei que vai ser difícil, mas continue. Sempre continue em frente.
Com muito amor,
sua mãe Noemy.
— Mas o que aconteceu com ela? — perguntei.
— Minha mãe contou que pouco tempo após isso, certo dia minha avó estava com o seu grande amor em uma praça, por coincidência ou destino, no momento em que eles estavam lá, houve uma troca de tiros entre policiais e alguns bandidos que roubaram um banco que ficava bem em frente à praça. Eles ficaram bem no meio do fogo cruzado, foram atingidos e acabaram morrendo abraçados juntos.
O jeito que ela contava a história, parecia que estava vivenciando o momento, dava para sentir a sinceridade em seu olhar.
— Você deve estar pensando que foi só uma coincidência, mas essa coincidência aconteceu duas vezes, e quem me garante que não pode acontecer de novo? Na época foi bem difícil para minha mãe entender que eles tinham morrido por causa da maldição.
— Eu sinto muito, não fazia ideia que essa maldição tinha feito tanto estrago nas vidas de vocês.
— Tudo bem. Eu acho você uma pessoa incrível e gentil. Sinto muito também por vocês não poderem ficar juntos, mas só peço que acreditem em nós. Ela nunca mentiria para você, mas a vida é assim, uma caixa de surpresas.
Naquele momento eu percebi o quanto fui egoísta. O quanto pensei só em mim. Não quis entender o lado dela. Agora sei que ela está sofrendo.
— Mas não tem como acabar com essa maldição? — perguntei.
— Não tem. No livro conta de um rapaz que achou o descendente do xamã. Esse descendente assim como nós, também tinha um livro dos seus ancestrais, ele contou que nele estava escrito que o único que podia quebrar a maldição era o próprio xamã que a lançou, ou seja, era impossível, pois ele já havia morrido muitos anos atrás.
— Eu não aceito que não possa ter solução. Vou tentar quebrar essa maldição, nem que leve a minha vida toda.
— Gostei da sua atitude, mas sinto muito dizer que você vai perder um bom tempo em vão. Tenta esquecer tudo isso e viver a sua vida de outra forma. Há muitas garotas boas por aí, e você é um bom garoto, merece uma pessoa boa.
— Mas ninguém nunca vai ser ela.
Após nossa conversa, fiquei confiante que acharia um jeito para quebrar a maldição, pelo menos tinha que tentar. Senão, eu não merecia nem olhar mais para ela. No caminho de casa resolvi passar na praça para refletir sobre a vida.
Quando estou bem próximo de lá noto que a Carol, está sentada no mesmo banco de sempre escrevendo no seu diário. Ela me viu, se levantou e começou a ir embora.
— NÃO, ESPERA!!! — gritei.
Ela caminhou mais um pouco e parou, dando assim tempo para alcançá-la.
— O que você quer? — ela perguntou.
— Quero te pedir desculpa, sei que fui um egoísta, idiota, tonto… Mas após conversar com sua mãe eu te entendo. Por favor, me desculpe? — disse com uma voz profundamente de arrependimento.
— Então ela contou sobre a minha bisavó? Entendi. Tudo bem, eu te desculpo, mas isso não muda nada entre nós, ainda não podemos ficar juntos — disse ainda de costas.
— Então você desistiu de nós?
— Não é questão de desistir, Enzo, é que nada pode ser feito. NADA! Isso é o que mais dói.
— EU NÃO DESISTIR DE VOCÊ! Vou encontrar um jeito, não importa como, e o tempo que vai levar. EU VOU DAR UM JEITO! Só peço que até lá, não desista de mim. Não desista. POR FAVOR, NÃO DESISTA!
— Você realmente é um bobo — disse, se virando, sorrindo e chorando ao mesmo tempo.
— Você que é uma boba. Pode parecer toda durona, mas no fundo é uma chorona — disse rindo.
— Mas como você vai conseguir? Ela deve ter dito que é só o xamã que criou, que pode quebrar a maldição.
— Sim, ela falou.
— Sendo assim é impossível.
— A única opção que consigo pensar no momento é acreditar que ainda exista descendentes do xamã vivo, e que o antigo agiu de má-fé, mentindo. Pelo menos temos de acreditar nisso.
— Se ainda existir algum descendente, como vamos encontrá-lo?
— Essa é a parte difícil, mas eu lembro que no dia do seu aniversário você citou um nome de um deles, se não me engano era “Alba Shelton”. Vamos pesquisar pessoas com esse sobrenome.
— Mas existem milhares de pessoas com esse sobrenome.
— Por um acaso no livro cita a região onde foi lançada a maldição?
— Sim. Foi em uma cidade não muito longe daqui.
— Então vamos limitar nossa busca dentro dessa área.
Ela gostou da ideia. Combinamos de pesquisar e compartilhar as informações sobre o que achamos na hora do intervalo no colégio.
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Cabelos Cacheados
РазноеEnzo é um jovem apaixonado por músicas, e leva uma vida comum de um estudante do ensino médio, mas sua vida comum mudou completamente após conhecer Carol, uma linda jovem, com charmosos "Cabelos Cacheados".