Aerona acompanhou a confusão de Snape se dissolver em rubro, que afluiu pelo rosto à medida que ele se dava conta de quem descia as escadas na direção de ambos. Raiva e ressentimento emanavam do professor em ondas que espiralavam ao seu redor feito vapor; o tipo de energia visível aos olhos da diretora, que tratou de se interpor entre os dois para evitar uma discussão acalorada em frente aos alunos.
— Por que não prosseguimos com este reencontro em minha sala — disse ela, encarando Eileen —, do jeito que acordamos em primeiro lugar, Prince? Não queremos distrair as crianças.
As duas se entreolharam, mas não era com ela que Aerona se preocupava. O corte na mão latejou em uma dor intensa, fazendo-a suar frio. A sensação terrível de que seria acometida por um desmaio a qualquer instante.
— Não gosto de soar repetitiva — acrescentou ao vê-los continuarem parados.
— Não tenho nada a conversar com essa mulher. — Snape deu um passo atrás, tencionando retornar à enfermaria ou qualquer outro lugar longe dali.
— Ah, sim. É claro. Dá para perceber isso na sua postura relaxada e semblante sereno. Eileen, por favor.
A bruxa concordou, encarando o filho com uma expectativa visível nas mãos inquietas; os dedos batucando as coxas sobre a saia. Aerona tomou a dianteira, passando por Severus e andando até um dos arcos que dava no pátio. Ela parou quando os sapatos tocaram o caminho de seixos por entre os arbustos de flores e virou-se na direção do professor, dando-lhe um sorriso enviesado.
— Não se esforce tanto para ir contra um conselho meu, Sr. Snape. Verá que sua vida será muito mais fácil aqui, caso siga-os à risca.
— Devo interpretar este "conselho" como uma ameaça? — Ela franziu o cenho, sem desmanchar o sorriso.
— O senhor é professor, não é? Interpretação faz parte do seu trabalho, e nem uma resposta deve ser entregue com tanta facilidade. Acompanhem-me, sim?
Apesar da aparente repulsa, ele a seguiu, escolhendo manter-se próximo a uma desconhecida que de Eileen. O olhar de Severus vagava entre a diretora e os arredores. A maneira que tudo no cenário se encaixava com harmonia era desconcertante. Nada podia ser tão perfeito. E não era, é claro. Não quando a mãe, desaparecida até então, acompanhava-o alguns metros atrás.
Há duas décadas, a Sra. Snape havia sumido do mapa, deixando um marido alcoolista e um filho recém-saído de Hogwarts, disposto a jogar seu destino nas mãos do primeiro que lhe oferecesse o mínimo senso de acolhimento, ainda que deturpado.
Para não se permitir invadir outra vez pela raiva e perder o raciocínio, observou com cuidado a forma que o ambiente se adequava à presença de Aerona; os alunos pausavam as atividades para a cumprimentarem com deferência, a brisa mudava a rota e soprava as plantas de modo que estas se movessem em perfeita simetria ao seu andar.
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Hiraeth ϟ Potterverso
FanfictionA Morte pode ter se mostrado como uma velha amiga ao terceiro irmão Peverell, contudo, para Severus Snape, ela surgiu na forma de uma desconhecida, dentro da Casa dos Gritos, negando-lhe o fim. Carregado a uma dimensão que julgava não passar de um m...