006

180 25 10
                                    

O grito de dor ficou preso na garganta quando Snape se deu conta de que tudo não passara de um pesadelo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O grito de dor ficou preso na garganta quando Snape se deu conta de que tudo não passara de um pesadelo. As lembranças da noite na Casa dos Gritos roubavam sua paz até mesmo nas horas de descanso, fazendo-o desejar os sonhos confusos com Aerona. Agitado, levantou-se em um pulo e alcançou a jarra suada de metal na mesa de cabeceira, junto aos miosótis.

Dentro do quarto escuro, o ar se adensava, dificultando a respiração já ofegante do professor que, após vestir o roupão, buscou refúgio na brisa noturna do lado de fora.

Apesar de quase sarado, o pescoço formigava e doía de leve, refletindo a tensão que o antigo mestre de Poções tentava controlar. Não teria que se julgar "antigo" caso aceitasse o convite inusitado da diretora para lecionar no seu lugar, porém não podia aceitar quando tinha certeza de que ela só o convocara para mantê-lo preso na escola Annwn. Creditava a resistência que encontrava, para ser levado de volta, a Eileen. Como Aerona dissera, a mãe não descansaria até enchê-lo com desculpas quanto ao sumiço.

Apoiado contra os arcos de uma das janelas, encarando a cicatriz que ficara no lugar da marca de Voldemort, Severus foi surpreendido por uivos tão altos que pareciam vindos do corredor. Ele se aprumou de imediato, retornando ao quarto em busca da varinha ao cogitar a presença de um lobisomem. O professor andou pelo andar em busca da ameaça, mas não havia vivalma ali.

E com o retorno do som enregelante, descartou a ideia de um licantropo; tinha mais de um. Eram nove no total, cruzando as terras cobertas em um tom perolado graças ao plenilúnio. Assemelhavam-se a cachorros, de pelagem branca até chegar às orelhas avermelhadas. Nove cães enormes, com pequenas luas brilhantes no lugar dos olhos, e que seguiam alguém encapuzado em direção à orla da floresta.

Severus não teria conseguido ignorar a situação singular que se desenrolava a sua frente nem se quisesse, por isso correu na direção dela, esperando que o senso de direção fosse o bastante para não se perder no castelo e terminar sendo flagrado por alguém. A motivação que o movia era intensa, mais forte que a aflição que o fizera despertar. Era fácil lidar com aquela sensação tão familiar de alerta.

Ao atingir o ponto onde avistara os cães, não encontrou rastros das patas, como se os animais nunca tivessem existido. Contudo, apesar de muito leves, os passos humanos o guiaram rumo às árvores. Em contraste com a Floresta Proibida, aquela possuía uma luminescência própria, salpicada de pequenas esferas brilhantes — feito vaga-lumes — que se moviam sincronizadas com a melodia feérica ecoada acima do farfalhar suave das folhas. Se não fosse pela sua habilidade de concentração, teria se deixado levar pela confluência de atrativos.

A caminhada se estendeu por minutos, talvez horas, já que o tempo se moldava de maneira distinta à outra dimensão. Só parou, escondendo-se atrás de uma das árvores, ao avistar a pessoa parada em frente a um córrego, cujas águas apresentavam uma cintilação rósea responsável por iluminar uma Aerona despida da capa e de qualquer outra peça de roupa. O primeiro instinto de Snape foi desviar o olhar, e assim o fez. Uma coisa era seguir uma possível ameaça e contê-la se necessário, outra muito diferente era observar a "ameaça" nua na floresta.

Mesmo sentindo-se desconfortável em espreitá-la daquele modo, a excentricidade da cena fê-lo voltar a olhá-la. Os cabelos derramavam-se pelas costas, cobrindo a curva das nádegas, e mexendo-se com leveza enquanto a diretora elevava as mãos em perfeita harmonia com as palavras que entoava em galês. De repente, saída do córrego, uma bacia surgiu, modelada em quartzo e de contornos impolidos. Sem o auxílio de uma varinha, Aerona manejou o objeto, fazendo que a água contida nele refletisse o luar.

Severus analisava tudo por um viés lógico. Não a lógica dele, é claro, mas a da diretora. Ponderando sobre o lugar onde estava, era de se esperar circunstâncias únicas como aquela. Trancado no quarto não era capaz de experimentar da magia ancestral que nascia daquele solo fértil, em ramificações que atravessavam a terra e se enroscavam nos calcanhares; agilmente absorvidas através da pele, correndo nas veias feito o ciclo interminável do rio.

Quando se deu por satisfeita, a bacia voltou a estabilizar a sua frente e a bruxa se aproximou, concentrada na superfície imperturbada. Aproveitando a movimentação dela, Snape também se mexeu, visando a árvore próxima onde estaria melhor abrigado e com uma visão menos limitada. Junto aos sons da floresta, a voz de Aerona soava como na noite na Casa dos Gritos; o tom melífluo, as palavras quase cantadas em galês, gerando pequenas ondulações de energia acima da água.

Não foi possível discernir as imagens que se formavam naquele espelho natural, tampouco as reações da diretora, que parecia estar em uma espécie de transe, hipnotizada pelo que via.

— Por que busca uma resposta que já possui? — A voz rascante pegara Severus de surpresa, de um jeito que ele não imaginava ser possível.

E diferentemente do professor, Aerona não esboçou espanto ao erguer o rosto e encarar a velha, coberta em trapos escuros e densos, parada na margem oposta. O professor não se julgaria um bom espião duplo caso se permitisse ser surpreendido com facilidade, entretanto a anciã alcançara esta proeza.

— Você se apega às dúvidas por medo e sabe disso.

— E se deu ao trabalho de vir aqui só para me dizer isso, crone? — As palavras saíram tremidas, em tom de murmúrio. — Por isso rondou a escola nos últimos dias?

— Não mais. Você me roubou o prazer de falar "eu avisei". — Os punhos de Aerona se fecharam com força. — O retorno do rapaz foi vaticinado e cumprido. Não procure nas águas o que está na sua frente... — "Ou atrás de você", a voz da velha ecoou apenas na mente de Severus, que se forçou a continuar estático apesar de o olhar dela vagar até o ponto escuso onde se escondia. — Algumas criaturas são teimosas demais para se contentarem com os desígnios imputados a elas.

A anciã suspirou; o som fatigado se misturou aos uivos altos dos cães e, entre uma piscada e outra, ela desapareceu da mesma forma que surgiu por entre as árvores, abandonando Snape e Aerona com muito a refletir.

A anciã suspirou; o som fatigado se misturou aos uivos altos dos cães e, entre uma piscada e outra, ela desapareceu da mesma forma que surgiu por entre as árvores, abandonando Snape e Aerona com muito a refletir

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Notas

Vocês já deram uma olhadinha na playlist que criei para Hiraeth? Ela ficou tão fofa

★ https://bit.ly/35hfU1O ★

Amanhã tem aquele capítulo extra, com informações sobre o universo da história ♥

Hiraeth ϟ PotterversoOnde histórias criam vida. Descubra agora