A escola não costumava ser um local barulhento e, sem os alunos, tornava-se digna da fama de mosteiro, dada por alguns professores. Severus tivera o prazer de visitar um no verão de 93, na Espanha, para estudar os manuscritos de um monge bruxo do séc. XV. Sob a sua ótica, a comparação era esdrúxula. Nem um lugar do outro lado transmitia a atmosfera pacífica que Annwn possuía de maneira natural.
Boa parte dos mestres permanecera no local, enquanto outros aproveitaram para desbravar o reino... os reinos — segundo o livro de Aerona — das fadas; um lugar não tão perigoso para mestiços bem versados em magia. Severus ocupava boa parte das horas percorrendo os arredores para entender melhor aquele mundo, estudando a fauna e a flora tão distintas.
Com a autorização dos professores responsáveis, também utilizava o laboratório de Poções e Alquimia sempre que desejado, elaborando experimentos aos quais nunca deitara os olhos após décadas de estudo. Era desapontador e fascinante descobrir que não sabia tanto quanto julgava saber. Não lhe faltava tempo para se dedicar, sobravam estantes de material para se instruir e, de bônus, não tinha que se preocupar com aulas, missões e promessas. Viver em prol de si mesmo era espantosamente prazeroso.
— Com licença, Sr. Snape. — Ele não ergueu o olhar dos livros ao ouvir a voz de Briallen. — Os que o senhor pediu. E antes que eu me esqueça, Duno deixou as vestes para o ritual de hoje à noite na sua cama, caso decida participar. — A bibliotecária depositou uma nova porção de tomos à pilha sobre a mesa. — De nada — disse ela baixinho, porém cristalino aos ouvidos, no silêncio da biblioteca.
Severus crispou os lábios e murmurou um "obrigado" quase ininteligível, que tirou um sorriso discreto, porém satisfeito da garota, que voltou ao posto no balcão, deixando-o sozinho em meio às estantes e ao aroma adocicado dos livros antigos que permeavam aquele santuário do conhecimento.
Quanto tempo havia se passado desde o ritual do Solstício de Verão? "E de que importa o tempo aqui", pensou ele, franzindo a testa. Os dias iam se emendando de modo suave, quase imperceptível. O tópico "retornar ao outro lado" não era mais discutido; a ideia surgindo em intervalos cada vez menores.
O professor coçou os olhos, recostando-se na cadeira e estudando os livros à frente, iluminados de vermelho, verde e azul, graças à luz filtrada pelos vitrais das janelas. As costas doíam de tanto debruçar-se sobre a mesa, e a cabeça latejava após horas de leitura. Ao menos acreditava que horas haviam se passado desde que tomara o café da manhã e se dirigira à biblioteca.
Snape enviou os livros ao quarto com um floreio da varinha e levantou-se, disposto a continuar os estudos depois do jantar.
Após informar a retirada dos livros a Briallen, Severus caminhou sem rumo certo pelo castelo. Apesar dos corredores solitários, nunca se sentia sozinho. Não creditava a sensação de estar sendo observado às pinturas ou esculturas; havia algo mais naquelas paredes, camuflado por entre as árvores. Nada danoso, supunha, pois Aerona nunca permitiria. Ele parou um instante, levando a mão à testa. De alguma maneira, os pensamentos sempre retornavam à diretora.
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Hiraeth ϟ Potterverso
أدب الهواةA Morte pode ter se mostrado como uma velha amiga ao terceiro irmão Peverell, contudo, para Severus Snape, ela surgiu na forma de uma desconhecida, dentro da Casa dos Gritos, negando-lhe o fim. Carregado a uma dimensão que julgava não passar de um m...