Havia um brilho diferente na escola, uma energia excepcional se desprendendo das paredes e alunos, facilmente sentida no ar. Por mais que amasse a época do Solstício de Verão, Aerona não conseguia evitar a nostalgia precoce advinda da partida iminente dos alunos e do adeus aos setimanistas. A diretora absorvia toda a ansiedade dos jovens adultos prestes a adentrarem um mundo onde corriam o risco de, na melhor das hipóteses, serem rejeitados. Confiava nos ensinamentos transmitidos na escola, porém nada se comparava à experiência a qual eles não possuíam.
Do alto da estufa, um sorriso surgiu ao ver a irmã e o professor de Herbalismo cuidarem das plantas que seriam usadas na festividade que se aproximava, cercados pelas borboletas e abelhas que faziam daquela casa de metal o seu lar. Seriam três dias regados a boa comida, fogueiras e histórias que apaziguariam a tristeza da partida. A diretora se segurou ao guarda-corpo de madeira, lembrando-se que Alban Hefin também significava a ida de Severus para o outro lado. Ainda tinha esperanças de que ele escolhesse ficar, embora não encontrasse um motivo sincero para o professor fazer tal escolha.
Apesar dos esforços para inclui-lo no dia a dia da escola, Snape continuava a se mostrar reticente, tão arisco quanto os cães de caça espectrais que protegiam os arredores de Annwn. E após o encontro com a anciã na floresta, na tentativa de confirmar as suspeitas quanto ao mestre de Poções, fora confrontada com expectativas que a perseguiam há décadas. Diante da constatação indubitável, sentiu-se perdida. "O retorno do rapaz foi vaticinado e cumprido", reafirmara a gwyll. Aerona só não esperava que o "rapaz" seria tão rabugento e cheio de assuntos mal resolvidos, que o condenavam a enxergar cada oportunidade com desconfiança em sua vida amargurada.
— Cerys — a bruxa ergueu o rosto do molho de artemísia recém-amarrado —, separe alguns ramos de verbena para mim, por favor.
A irmã a estudou dos pés à cabeça, tentando encontrar um significado oculto por trás do pedido de Aerona. Quando se deu por satisfeita, concordou com um aceno rápido, voltando a encarar as artemísias que seriam usadas no ritual do Solstício. A diferença de idade entre as duas perdera a importância há décadas, mas Cerys sempre se metia a agir feito a mais velha. Não a julgava por isso, depois dos percalços que enfrentaram juntas.
Enquanto saía da estufa, avistou Snape ignorando os acenos de alguns alunos, caminhando a passos rápidos com um livro embaixo do braço. Ela o seguiu de longe, misturando-se aos adolescentes e cortando caminho até vê-lo parar no gazebo em frente ao lago, camuflado por arbustos. Mesmo de longe, reconheceu a encadernação desgastada do diário que transformara em uma espécie de enciclopédia.
— Elucidativo, eu espero — comentou, aproximando-se ao vê-lo se sentar no chão, junto a um dos pilares da estrutura caiada. — É bom vê-lo aproveitando a escola para ocupar sua mente.
— A escassez de escolhas tem grande influência nos meus hábitos atuais.
Severus folheou o livro até parar na página em que Aerona abordava as crones, e a diretora aproveitou para se acomodar a certa distância, erguendo a barra do vestido até os joelhos e mergulhando as pernas nas águas escuras do lago, onde os degraus de uma escadaria de pedra se perdia da profundidade sombria. A luz morna do Sol entre nuvens beijou sua pele, fazendo-a arrepiar.
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Hiraeth ϟ Potterverso
FanfictionA Morte pode ter se mostrado como uma velha amiga ao terceiro irmão Peverell, contudo, para Severus Snape, ela surgiu na forma de uma desconhecida, dentro da Casa dos Gritos, negando-lhe o fim. Carregado a uma dimensão que julgava não passar de um m...