Silêncio incômodo

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-ei, ei, espera- Jae correu para me alcançar e segurou a minha mão, tentei falar alguma coisa entre as lágrimas mas ele se limitou a me abraçar
-tá tudo bem, fica calma- concordei respirando fundo para controlar o choro, não havia adiantado muito, meus soluços só aumentavam
-eu estraguei a sua noite- falei baixo, ele não merecia isso, nem a Amelie que provavelmente estaria chateada novamente
-não estragou não, vamos pra casa e você pode contar o que houve- concordei, eu não teria como falar o que aconteceu e guardar tudo aquilo para mim começava a pesar, eu queria meus amigos. Entramos no meu quarto e eu tranquei a porta, Jae sentou comigo na cama colocando minhas pernas sobre a suas
-o que houve? Vocês brigaram?- fiz que sim com a cabeça, não era bem uma briga mas eu sentia como se ele me odiasse agora, lembrar do Zayn com os olhos marejados sempre me fazia voltar a chorar
-acho que eu devia ir embora-
-você não quer isso, eu sei que adora viver aqui-
-eu atrapalho tanto-
-se estiver falando dele com a Amelie nem precisa se preocupar, eles estão nisso a anos e o Zayn sempre deixou bem claro o que sente, acho que ela tem esperanças de que ele mude de ideia de um dia para o outro-
-mas se eu não tivesse vindo...- parei antes de completar, o que eu falaria? Não podia contar isso para ele, mesmo sendo uma das pessoas mais compreensivas do mundo
-escuta, por que não descansa? Amanhã eu levo a Amelie bem cedo e vocês conversam- concordei com a cabeça incapaz de falar, nós provavelmente não conversaríamos tão cedo mas pensar nisso apenas me deixaria mais triste. Jae passou a mão pelo meu cabelo, notei que ele estava se esforçando ao máximo para não dormir antes que eu e sorri com aquilo mas logo o peso voltou nas minhas costas, eu estava o enganando? Iludindo? Se eu pudesse escolher alguém para estar naquele momento seria ele? Mordi o lábio me sentindo a pior pessoa do mundo inteiro, eu era uma idiota.

Algum tempo depois ouvi a porta sendo aberta e passos em direção a minha porta, a maçaneta virou lentamente, tive que me esforçar muito para não correr e me jogar em seus braços, queria dizer tanta coisa... Zayn desistiu e foi para a tv, ele com certeza estava assistindo a um filme de ação com muitas explosões
-ei, vou te quer ir- Jae disse passando o polegar na minha bochecha, alguns poucos raios de sol entravam pelas frestas da cortina
-eu te levo até a porta- levantei preguiçosamente, Zayn dormia no sofá usando apenas uma bermuda, ele devia estar com frio
-não se preocupa, vocês vão se acertar- Jae disse quando notou que eu o olhava, concordei meio incerta
-espero que sim, obrigada por ficar-
-por nada, se precisar de mim pode ligar- nos beijamos e o garoto acenou antes de dar as costas.

Tranquei a porta e fui pegar uma coberta para o Zayn que dormia encolhido no sofá, o cobri e encarei seu rosto, parecia que ele havia chorado. Voltei para o meu quarto mas não consegui dormir, será que ele e a Amelie haviam brigado? Se eles tivessem discutido por minha causa eu... tentei tirar isso da cabeça mas vários pensamentos me invadiam ao mesmo tempo, tantos que eu mal podia respirar, levantei no dia seguinte e encontrei Zayn na sua cadeira habitual, do lado esquerdo, comendo um sanduíche enorme
-bom dia- falei baixo sentando na sua frente enquanto pegava uma banana
-bom- ele respondeu sem tirar os olhos do sanduíche, travamos aquele silêncio pertubador por todo o sábado, eu queria gritar. Quando fiquei com fome, perto das sete da noite, sai do quarto para preparar algo, Zayn assistia a uma luta na televisão e não virou os olhos para mim em nenhum momento, aquilo partia o meu coração, fui virar meu omelete do mesmo jeito que Malik fazia, apenas jogando para cima, e esbarrei com uma panela que estava do lado no fogão
-merda- falei alto quando senti o óleo quente caindo na parte interna do meu antebraço, peguei um pano para limpar a enorme bagunça que havia feito
-você se queimou?- Zayn perguntou de pé na entrada da cozinha, levantei dando de ombros e mostrei meu braço, estava mais feio do que eu esperava. Sem me avisar, o garoto pegou meu braço e colocou debaixo da pia, mordi meu lábio com força para não gritar de dor, aquilo ardia muito, algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto, tentei limpá-las mas estava tão sensível que em pouco tempo já soluçava, Zayn me encarou e aquela sua expressão fechada se desmanchou
-tá doendo, não é?- ele me puxou para um abraço e eu me permiti chorar ainda mais, meu braço realmente doía mas não era por isso que eu estava chorando, eu não aguentava mais
-eu não quero mais brigar com você- falei entre soluços e ele concordou, eu sabia que Zayn faria de tudo para que eu não chorasse mais
-desculpa, não vou mais brigar com você-
-você nem me chamou pra ver a luta- respondi ainda chorando enquanto sentia sua mão pelo meu cabelo, eu parecia uma criança idiota
-vou preparar algo pra você, certo? Vem cá- Zayn me conduziu para a sala e indicou o sofá para que eu sentasse, continuei chorando incapaz de parar, algum tempo depois ele voltou com outro omelete e um suco de laranja. Comi em silêncio, eu amava sua comida e ele sabia disso, conseguia ver pelo jeito que ele me encarava, depois que eu terminei Zayn me levou para o seu quarto e passou uma pomada a base de água na queimadura
-pronto, vai melhorar- concordei novamente secando os olhos, Malik sorriu e passou as costas da mão na minha bochecha
-obrigada, Z- falei dengosa, eu estava com vontade de chorar mas nesse momento era de felicidade
-você precisa parar de se machucar-
-pelo menos você tá falando comigo- ele passou a mão na nuca incerto
-eu não sabia o que dizer-
-pode dizer qualquer coisa mas... eu pensei que não me queria mais aqui-
-eu sempre vou te querer aqui, acha que eu fui implorar pra você voltar por que?- sorri lembrando do dia que Zayn foi me buscar no meu novo apartamento, nem havia tido tempo de assinar os papéis
-eu nem acreditei quando você apareceu todo suado na porta-
-eu fiquei em pânico por causa daquele bilhete, quase ameacei o Jae para que me dissese onde você estava- rimos juntos
-que bom que fez isso, eu realmente me sinto em casa aqui-
-sabe... você bem que... podia dormir aqui hoje, digo... pra que eu cuide do seu braço- concordei olhando meu braço coberto de pomada, cheirava a menta
-é, acho que não é uma má ideia- deitamos juntos na cama, eu havia mantido uma distância segura para a minha sanidade mental mas Zayn logo tratou de quebrá-la. Malik me puxou para perto, passou o braço sobre mim e enterrou o rosto na curva do meu pescoço, eu sentia sua respiração quente e aquilo era tudo que eu precisava.

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