Twelve: Hold on

317 59 34
                                    

O capítulo de hoje tem alerta de gatilho, cenas de sangue e automutilação.

Doze: Aguente

Yeosang adentrou a sala de aula no meio da explicação recebendo um olhar de desaprovação da professora, porém não ligou, andou rapidamente até a mesa enfiando tudo na sua bolsa e saindo ignorando a mais velha que lhe chamava.

Era inacreditável tudo aquilo acontecendo consigo naquele momento, queria chorar por tudo, queria estar em casa no seu banheiro. Fazia algum tempo que não sabia o que era estar sozinho, amava a sensação de não precisar fingir estar bem quando estava desabando.

Já sentia um nó se formando na garganta e ainda estava longe de casa, tentava focar em coisas no meio da rua, se destrair a todo custo, suspirava e tentava selecionar as músicas mais animadas de sua playlist.

- Finalmente te achei sozinho. - ouviu a voz familiar e quis correr como nunca, mas os pés não lhe obedeceram. - Gostou do susto de hoje? O que adolescentes cheios de ódio e com um pagamento não fazem... - comentou tendo a sua atenção. - Não me olhe assim - reclamou e cruzou os braços. -, eu só queria ajudar na realização do seu sonho de partir.

- Você é uma sonsa mesmo, faz isso tudo à troco de quê? - perguntou indignado.

- De ver o sofrimento em seu olhar. - sorriu como uma psicopata. - Te vi com o Wooyoung, não se deixa enganar por ele, logo vai ver mais uma vez o quanto você é um inútil e te deixar de novo. - viu os olhos se encherem de lágrima. - Pobre Yeosangie... sozinho e desamparado, onde está o "Seongie hyung" quando você precisa? Ele nunca está, não é? - disse em falsa tristeza. Respirou fundo virando-se em uma direção contrária à sua casa. - Onde está indo?

- 'Pro mais longe possível de você.

- Não se preocupe, to de saída, outro dia eu volto, já dei uma passadinha lá em casa, deixei um lanchinho em cima da mesa, vi que 'tava faltando um elemento na gaveta de seu banheiro, sem problemas eu deixei uma em cima da sua cama, boa noite, se é que você vai precisar. - deu de ombros saindo.

Tinha a opção de seguir com o caminho contrário, ir parar em qualquer lugar, um bairro desconhecido, ou apenas ir para casa. Óbvio que escolheu a segunda opção.

Em passos fundos e rápidos rumou para seus pesadelos.

O ambiente da sala era empestiado pelo perfume doce demais daquela a qual chamava de tia, observou o mingau naquela vasilha de plástico, o pegando e jogando na pia, não queria nada vindo daquela desgraçada.

Subiu as escadas sentindo o cheiro aos poucos desaparecer, abriu a porta do quarto notando que o lugar estava arrumado.

Se recordou do primeiro contato com o Park do qual ficou com seu guarda-chuva, gostaria de voltar ao tempo em que vivera sozinho e bem, sua tia não lhe incomodava tanto, mas depois que Seonghwa entrou em sua vida tudo piorou.

Não o culpava, para ele a culpa era de si mesmo por ter deixado aquela aproximação ser possível.

Suspirou pela milésima vez. Não queria ter que fazer aquilo. Mesmo sua vida estando uma merda ele tinha um motivo para estar ali, ele queria estar com o Park, mas no fundo sabia que havia o machucado, e que provavelmente ele não queria mais falar consigo.

Se sentia insuficiente demais, se odiava a cada suspiro, a cada batida de seu coração, a cada mínimo movimento.

Largou a bolsa no chão, jogou os sapatos longe, limpou com a roupa a maquiagem feita pelo Jung mais cedo e buscou pelo presente sobre sua cama.

O chão do banheiro parecia um ótimo lugar para estar, o vaso mais uma vez presenciava a cena, do menor brincando com a lâmina em mãos. Tremia mais que o normal, as mangas levantadas e o pulso clamava por aquilo.

Respirou fundo diversas vezes, os pensamentos invadiam a mente à mais de mil, as lágrimas não cessavam, soltou os soluços e uma última vez olhou para as cicatrizes, mordeu os lábios passando ali o objeto afiado vendo a pele se rasgar e o sangue sujar seu braço.

Aquele fora um impulso e quando viu o vermelho já havia invadido suas roupas e o chão.

Se sentiu tonto de repente, a visão embaçou, sem estruturas para sustentar o próprio corpo a cabeça foi ao chão.

Havia dado certo? Finalmente conseguira cortar fundo o suficiente?

***

A perna inquieta de Seonghwa incomodava não apenas Hongjoong na mesa da frente mas também a todo mundo que lhe via daquela forma.

- Senhor Park? Está tudo bem? - o professor parou a explicação para perguntar.

- Não. - disse no impulso mas logo se corigiu. - Sim, 'tô bem sim! - sorriu amarelo.

- Quer ir ao banheiro? - negou. - Beber água? - resposta negativa mais uma vez.

O sinal para troca de professor soou e ele aproveitou a saída do senhor Ju e a demora da senhora Kim para fugir deixando Hongjoong sem explicações e completamente confuso.

Correu como nunca antes, dessa vez não tinha Wooyoung para impedir que Yeosang fizesse qualquer coisa.

Invadiu a casa indo direto ao quarto, varreu o local com os olhos que quando pararam na porta do banheiro fechada, forçou a maçaneta e percebeu que estava trancada.

Bateu várias vezes na porta chamando pelo acastanhado. Sem paciência, soltou a bolsa colidindo seu braço com a madeira que cedeu, logo presenciando uma cena completamente vermelha.

O coração falhou uma batida, sentiu o mundo desabar, a visão embaçou, abria e fechava a boca inúmeras vezes afim de dizer algo que faria sentido, abaixou logo a frente do corpo jogado, lhe puxou para sua perna gritando por seu nome.


Os olhos do menor se mantinham abertos, mas aos poucos foi fechando mesmo com o Park lhe implorando para que não se entregasse.

- Por favor, aguenta mais um pouquinho, eu preciso tanto de você, não me deixa, Sangie. Você é quem acalma meus demônios, em meio as trevas dos meus pensamentos, você é a luz, não consigo imaginar um mundo sem você. - uma cena dolorosa demais, o maior não se importava nem um pouco em estar manchado de sangue, apenas queria o seu garoto de volta. - Espera um pouco, não vai, eu posso segurar sua mão e a gente vai concertar tudo juntinhos. - entrelaçou os dedos deixando um selar na mão mole e ensanguentada. - Eu te amo, te via de longe, era tão frágil, sempre quis cuidar de você, e depois de te conhecer só aumentou ainda mais a necessidade de te proteger.

Ainda passando a mão em seu rosto, chorava desesperadamente pedindo pela sua volta, jamais imaginaria um mundo sem o seu doce garoto.

One Day at a Time (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora