Two: Umbrella

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Dois: Guarda-Chuva


O barulho da chuva sempre fora um de seus favoritos, era relaxante e o fazia querer dormir, mas naquele momento não conseguia nem mesmo pregar os olhos.

Pensava no garoto de cabelos pretos, que por algum motivo quis o levar para casa, o que não foi possível já que no caminho eles acabaram chegando na casa do moreno, que insistiu para que Yeosang ficasse com o guarda-chuva até que chegasse em seu próprio teto livre da chuva e de um possível resfriado.

Virava de um lado para o outro, mas a cama onde sempre dormiu não parecia confortável o suficiente naquele momento, era como se espinhos o furassem, e passou a se perguntar que horas aquela maldita chuva acabaria.

Já nem se reconhecia mais, sempre amou os dias de tempestades, mas agora estava o incomodando e no fundo do coração tinha uma pontinha de medo. Assustou-se assim que um forte relâmpago atravessou o céu clareando o quarto pela janela de vidro embaçada.

O olhar fixo no seu teto passou a procurar algo para se destrair, foi então que os olhos pararam no guarda-chuva

"Por que ele foi tão gentil? Por que quis me ajudar? Por que?" Em sua mente apenas rodavam vários "por quês" sem resposta alguma.

Escultou barulhos vindos do andar de baixo e sabia que era sua tia. Puxou a coberta até o pescoço, virando de lado e fechando os olhos, para fingir que dormia.

Após um tempo a porta de seu quarto fora aberta, semi-cerrou os olhos vendo a mulher recolher a roupa que usou para ir à escola.

– Veio de baixo de chuva e ainda deixou as roupas encharcadas jogadas no chão. E eu sei que não está dormindo Yeosang. – abriu os olhos diante da fala da mais velha. – De quem é? – se dirigiu até o objeto escorado na parede que pingava por ainda estar molhado.

– Eu não sei. – respondeu baixo.

– Não minta pra mim garoto. De quem é o guarda-chuva? – insistiu.

– Eu já disse que não sei! Foi um garoto que me deu, ok?

– Não levante a voz pra mim! E não aceite as coisas de estranhos dessa forma, seus pais foram péssimos na sua educação. – falou e por fim saiu batendo a porta de maneira que soltasse um estrondoso barulho que fez o Kang fechar os olhos.

Uma enorme vontade de chorar lhe invadiu, mas ele não faria aquilo. "Ela não merece uma lágrima se quer vinda de mim." queria se convencer daquilo.

Mas no fim chorou até que dormisse.

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Já se passava das seis horas, Yeosang foi um dos primeiros a chegar, o guarda-chuva em mãos e uma certa inquietação tomava conta de seu corpo.

Estava realmente nervoso em devolver o objeto para o dono? Sim, estava.

Logo mais a frente observou quando o moreno vinha conversando com um gatoro de cabelos azuis, e junto deles estava Wooyoung, o menino que o Kang ja conhecia, e que assim que o viu mudou de direção inventando qualquer desculpa aos mais velhos.

– Oi. – o Park cumprimentou assim que se aproximou mais da entrada.

– O-Oi... – gaguejou em sinal de nervosismo oferecendo o guarda-chuva para si. – Você deixou comigo, e eu quis te devolver, muito obrigado por ontem  e tenha um bom dia. – fez uma breve reverência, assim que o objeto ja estava na mão do maior, e saiu correndo dalí.

O Park ficou estático no seu lugar, como se uma onda de choque o envadisse por ter tido mais um diálogo com ele – mesmo que não tenha rendido assunto.

Yeosang estava tremendo em nervosismo, não sabia exatamente o por que mas estava, e a respiração havia pesado.

– O que ta acontecendo comigo? – já tinha virado costume conversar com si próprio. – Deve ser algo normal pra alguém que ta a tanto tempo sem conversar com outras pessoas... – pensou alto enquanto bebia água.

Ver Woo depois de certo tempo, lhe fez sentir todas as sensações que antes compartilhava com ele, mas aos poucos aquilo se tornou uma dor insuportável, para si.

Parou alí mesmo de frente pro campo de futebol sentando na arquibancada colocando os seus fones se aproveitando do silêncio e que estava sozinho, passou a pensar e deixou-se chorar.

Chorar sem motivo. Era o que ele queria acreditar, no fundo sabia o motivo. Sentia aquela sensação ruim, e chorar lhe acalmaria.

Sentiu uma mão em seu ombro, pulou no banco tapando a cara com ambas as mãos após puxar um dos fones de seu ouvido.

– Você ta bem?

– Ta, ta tudo ótimo. – não conseguia ver o rosto da pessoa, mas o pouco que conseguiu enxergar através das mãos foi o seu guarda-chuva.

– Precisa conversar? Eu to aqui com você Yeosang. Se quiser me contar o que aconteceu...

– Eu já falei que to bem! O que há com você? Está me perseguindo? Por que insiste em me ajudar?

– Porque eu quero te ver bem. Quero ver o seu sorriso. Me deixa te ajudar.

Aquelas palavras foram como o ápice para o choro do acastanhado, que foi puxado para o peito confortável do mais velho enquanto recebia um carinho na cabeça e botava todo aquele sentimento para fora.

Depois de anos sem ter ninguém perto de si, sem ter um ombro para chorar, sem ter um ouvido para lhe escultar, lá estava um cara que ele nem sabia o nome – mas que estranhamente sabia o seu – lhe dizendo que queria o ajudar, e lhe oferecendo o próprio peito para que o outro chorasse.

Em Seonghwa, um turbilhão de sentimentos. Era a primeira vez que estavam tão próximos e ainda tocava os fios lisinhos do menor que desabava em seus braços. Por tanto tempo apenas o olhando de longe e com vergonha de se aproximar, agora estavam até próximos demais.

Estava feliz pelo mais novo ter ficado em baixo de seu guarda-chuva no dia anterior.

Aqui eu quis fazer uma referência a música Umbrella, original da Rihanna mas que eu prefiro escultar ela na voz da Ember Island, assim como eu vou colocar em todo capítulo o nome de uma música e vocês podem ver a tradução depois ou até antes de começar a ler.

Espero que estejam gostando do resultado, porque eu sinceramente estou muito orgulhosa de mim mesma.

Até o próximo capítulo, bjs

One Day at a Time (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora