Prologue

603 93 46
                                    

Lá estava ele, novamente sentado na cadeira, aguardando a sua vez de entrar.

Assim que o aluno saiu, o de moletom preto levantou, passando pela porta daquela sala.

- Você de novo por aqui, Yeosang? - a senhora ajeitou os óculos em seu rosto ao ver o garoto.

- Sinto muito por dar tanto trabalho a você. - Abaixou a cabeça envergonhado logo sentando-se.

- Ficar remoendo não vai adiantar de nada, deveria fazer algo. Suas notas estão cada vez mais baixas, eu já nem sei o que fazer.

- Faço o que posso, estou me esforçando, eu juro.

- Talvez devesse se esforçar mais, pois não está adiantando de nada. - Aquelas palavras machucaram o mais novo de tal maneira que o fez segurar muito para não chorar ali dentro da sala de secretaria da escola.

- Não é culpa minha, eu já tentei de tudo.

- Não se preocupe com isso, é apenas uma fase, logo passa. Esses jovens de hoje em dia sempre estão querendo chamar atenção. - sussurrou a última parte, pegando alguns papéis para entregar ao mais novo. - Mande a sua tia assinar, você não entra aqui amanhã sem que eu veja a assinatura dela aqui.

E por fim o garoto colocou aquele pedaço de papel dentro da bolsa junto de outras dezenas que já havia recebido.

Era difícil para si ter sempre alguém pressionando para que melhorasse, ele tentava, mas de algum tempo pra cá parou de esforçar-se e mais do que nunca as notas despencaram novamente. A verdade era que ele não ligava. Não mesmo! Apenas fingia que sim.

Odiava ter que enfrentar os alunos que o olhavam torto. E ter sempre alguém lhe dizendo que gostava de chamar atenção, o que não fazia sentido algum, já que estava sempre escondendo-se de todos, porém não era suficiente já que sempre o encontravam para azucriná-lo.

Naquele momento tudo passou a lhe incomodar. O som do seu sapato chocando-se com o chão soando pelo corredor vazio, o "tic-tac" do relógio, o barulho do amontoado de alunos que vinha do refeitório, as palavras ecoando pela sua cabeça. Foi quando notou sua respiração estava descompassada, beirando um ataque de ansiedade, o coração disparado, a sensação de enjoo, e sentia que a qualquer momento desabaria.

Correu pelos corredores sentindo as lágrimas grossas caindo, chegou no banheiro, trancando-se em uma das cabines soltando tudo o que havia segurado.

Milhões de coisas invadiram a mente, toda a dor que sentia, não poderia mais suportar, apenas queria acabar logo com aquilo.

- Por que eu não posso simplesmente sumir? - disse com certa dificuldade.

Logo foi interrompido por passos no banheiro, tentou prender o choro, o que foi quase impossível pela situação ao qual se encontrava.

- Está tudo bem? - um tempo depois, escutou a voz do outro lado da porta, seguida de algumas batidas. - Pode abrir aqui, 'pra eu te ajudar? - o silêncio reinou novamente.

- Me deixa em paz! - soltou seguido do choro.

- Ok... - ainda que contra sua vontade, apenas saiu do local deixando o outro para trás chorando.

A voz não lhe era estranha, no entanto não teve tempo para pensar sobre isso naquele momento.

A mente voou um pouco, e quando deu-se conta procurava desesperadamente pela gilete guardada no bolso. Assim que achou puxou a manga da blusa e vendo as cicatrizes parou a si próprio.

- O que eu 'tô fazendo? - perguntou mesmo que não iria obter resposta alguma. - Eu não posso. Eu não vou. Não quero depender de você. To indo bem, já até cicatrizou. Você precisa parar de me chamar. - suspirou. - Por que eu to falando com um pedaço lâmina afiada? Viu só? 'Tô ficando maluco. - e antes que cogitar sequer encostar aquilo em seu pulso, a jogou no vaso dando descarga, que por sorte desceu.

Já não aguentava ter que fazer aquilo, odiava depender da lâmina, e prometeu que não faria mais aquilo, jogar-se de um prédio, ou na frente de um carro, estava tudo bem, mas aquilo não. Nunca funcionou mesmo. Era só um atraso, uma perda de tempo.

Enxugou o rosto com a manga do moletom, fungou algumas vezes e olhou seu reflexo.

- Tudo igual sempre. - riu sem humor.

Olhos vermelhos, expressão cansada, e as olheiras se faziam presentes, mas sempre fora assim, era algo normal.

Agora iria voltar a viver sua vida monótona e entediante, sofreria bullying dos garotos maiores que ele, e vida que segue.

Não era o melhor dia a dia, mas era o que tinha, e não poderia fazer nada pra mudar.

É isso aí, espero que tenham
gostado, e até o próximo.

One Day at a Time (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora