— Tá bom, eu fico. — Respondi.
Me despedi da Júlia e avisei ao Caio que iria até o banheiro. Encarei meu rosto no espelho como sempre fazem todas pessoas que estão levemente alcoolizadas. Lavei as mãos e despojei meu cabelo. Eram 23h da noite. E eu continuei pensando se iria mesmo pra um lugar com alguém que acabei de conhecer. Apesar disso, decidi ir, não era completamente um desconhecido, visto que, metade daquela festa deveria saber quem ele era.
O Léo ainda estava lá. E quando saí do banheiro, olhei pra todos os lados com muito receio de encontrá-lo novamente. Na verdade, eu também estava procurando o Caio, porque quando voltei para onde estávamos, ele não estava mais lá. Tentei procurar até onde meus olhos permitiam. E acabei me cansando por não encontrar. Passei no bar para pegar uma caipiroska e fui ouvir a atração que tocava naquele instante. Eu estava sozinha, mas não me importava com isso. Nunca me importei em frequentar lugares só. Acho que a gente acaba tendo que lidar, ainda mais, com o fato de ter que falar com pessoas para conseguir as coisas que queremos. E isso, consequentemente, nos faz conhecer pessoas novas o tempo inteiro, além das muitas experiências especiais chegam para nossa vida por meio de laços repentinos. Fora que, sair sozinha, aumenta gradativamente nosso autoconhecimento. E a melhor parte, é sobre não ter que se prender de fazer qualquer coisa por conta de outra pessoa que está conosco.
Minha voz já estava praticamente rouca. Foi quando a banda deu uma pausa, e eu trocava poucas palavras com dois meninos que estavam ao meu lado. Eles não pareciam querer amizade. Então só ficamos falando sobre como o lugar era incrivelmente foda e como só tinha gente maravilhosa ali.
De repente, senti um braço cutucando as minhas costas. Quando me virei, era um rapaz todo de preto com a frente da camisa escrita "staff".
— Oi, gente. Perdão pela interrupção... você é a Cecília? — Ele perguntou virando-se para mim.
— Sim. — Respondi.
— Me pediram lá do camarim para te chamar. É logo aqui ao lado, na sala de número 7. — Ele informou apontando para esquerda.
— Obrigada... chego lá em um instante. — Respondi com um tanto de dúvida.
Disse para os meninos que iria ver o que era e perguntei se eles iriam ficar ali ainda. Ambos assentiram com a cabeça, e eu fui.
Passei pelo enorme corredor de camarins, vendo os números das portas um em sequência do outro. Estava escuro. Apenas luzes coloridas vindas de vários ângulos iluminavam, mas consegui enxergar a porta com número sete. Encarei-a, e bati três vezes. Recuei e esperei que alguém abrisse. E então, alguém de lá de dentro gritou "Pode entrar!"
Quando a abri, umas dez pessoas com a mesma camisa do rapaz que tinha me informado para vir, passavam apressadas para lá e para cá, carregando fios e instrumentos. Me aproximei, e quando abri a boca pra perguntar para um deles quem havia me chamado, alguém apareceu rapidamente na minha frente.
— Oi! Me desculpa, acabei tendo que vir resolver um problema. Não sabia se iria te encontrar de novo, daí pedi ao funcionário daqui para tentar procurar você. Que bom que ele te achou. — Ele disse.
Era o Caio.
— Pois é... eu até te procurei, mas não consegui te encontrar mais. — Respondi.
— Ainda está de pé o convite? — Ele perguntou.
— Acho que sim. — Respondi olhando para relógio do meu celular. Eram 23h40.
Alguém instantaneamente pulou em meus braços aos berros. Com o susto, só depois de três segundos reconheci a voz. Era da Joana. Minha amiga em comum com o Gael. Ela continuava tão linda como todas as vezes que já a encontrei. Cabelo preto brilhante até o ombro, franja que tomava somente metade da testa e lindos olhos castanhos... Joana era encantadora.
— Cecília, meu Deus! Não acredito que te encontrei aqui! — Disse ela segurando em minhas mãos com um sorriso estampado sem tirar os olhos de mim. — Você está LINDA! Como eu senti saudade! — Falou me dando mais um abraço.
— É você que está maravilhosa, como sempre... que bom te encontrar também! E aí, me conta! Tá fazendo o que por aqui?! — Perguntei.
— Eu namoro com a baterista do Caio. — Falou apontando para uma mulher com chapéu de cor palha e macacão vermelho. — Vim acompanhar ela hoje porque tive folga do trabalho. Vocês se conhecem? — Olhou para Caio e depois para mim com curiosidade.
— Na verdade a gente só se conhece há 3 horas — Caio falou e sorriu. — Joana, eu estava chamando ela agora mesmo para ir com a gente para o sítio onde a banda está hospedada... é a noite da roda de violão. — Disse Caio.
— Poxa, que bom! Você vai, não é? Pensei que esse mês nem ia ter com tanta correria que vocês estavam. Eu só via Maria Luíza de noite, quase na hora de dormir... e no café da manhã antes dela sair atrasada para mais um ensaio. — Disse Joana empolgada.
— Se vocês insistem... então acho que vou! — Falei.
Fiquei conversando com a Joana enquanto eles não saíam. Ela me apresentou a namorada dela e me contou sobre as coisas que tem feito. A conversa estava tão boa, que poderia ficar ali horas. Joana é tão engraçada e animada, que contagia todo mundo que está perto. No fim, ela me apresentou ao restante da banda que ela conhecia, e depois disso fomos para a van que iria nos levar até o sítio.
Na rua, poucas pessoas caminhavam. A noite estava fria e também silenciosa. Exceto dentro da van, já que todo mundo conversava sobre várias coisas fazendo ser impossível acompanhar os assuntos e a rádio tocava música alta [música do momento "Dança Diferente", de Maglore].
Devia ter umas 15 pessoas dentro da van. Acho que contando comigo, apenas três não conheciam quase ninguém, mas Caio e Joana estavam sentados perto de mim. E fomos conversando durante uma parte do caminho.
Quando o assunto deu trégua, comecei a olhar, pela janela da van, as luzes dos prédios que se tornavam minúsculas vistas de tão longe. O vento forte fazia meus olhos encolherem.
Por que tudo parece cena de filme quando estamos dentro de um carro enquanto toca uma música?
Instantaneamente alguém interrompeu meus pensamentos.
— Consegue ver o tamanho daquele círculo ali? O que você acha que é? — Caio se aproximou do meu rosto e apontou para a rua oposta à qual nós estávamos quase dobrando.
— Aham. — Falei. — Que estranho... parece ser um lugar enorme, mas por que está tão escuro? — Questionei.
— É, eu também não sei. Passei por aqui nos últimos dias tentando descobrir o que é, e como a gente faz o caminho oposto, nunca dá para passar mais de perto para ver. Quer saber? Tive uma ideia. — Ele disse.
— O quê? Acho que se a gente procurar no mapa a gente descobr... — Fui interrompida.
— Paulo! Vira à esquerda! Rápido! Rápido! — Caio deu um grito ensurdecedor.
Ligeiramente, quem dirigia a van dobrou a esquerda, fazendo um barulho de drift que atirou todo mundo para o lado, seguido de um freio repentino que fez todo mundo se jogar para frente.
— PORRA, CAIO, que susto! O que foi? Está todo mundo bem? — Perguntou o menino que dirigia.
Ajeitava o meu corpo sobre o assento novamente, sem entender direito o que tinha acontecido.
Todos começaram a gargalhar sobre a situação e afirmar ao menino que dirigia que estavam bem.
— Desculpa! É que se eu falasse quando já tivéssemos virado à esquina, ninguém ia topar... Paulo, segue reto até aquele círculo ali na frente. Tenho quase certeza que é um dos teatros mais antigos que tem aqui em SP, e que provavelmente está abandonado com todas as suas coisas lá dentro. — Disse Caio esperançoso.
Todos ficaram curiosos para descobrir o que era.
Então, Paulo ligou a van novamente e foi dirigindo em direção ao círculo.
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Todas As Dimensões De Amar
Historical Fiction- ROMANCE - Cecília, uma brasileira, artista plástica e publicitária, que atualmente mora em Veneza. Cheia de sonhos, gosta de conhecer lugares e pessoas novas para ganhar inspirações para suas pinturas. Com um ano trabalhando duro para conseguir u...