Sete e quinze o celular gritou em cima da cômoda, se você estivesse aqui, esticaria seu braço por cima da minha cabeça e o colocaria na soneca de quinze minutos. E ao invés de se virar para o lado e aproveitar aqueles doces minutos de paz antes de sua rotina agitada, você pousaria a mão ao meu lado, ficando em cima de mim e me encarando até eu entender a mensagem. Lembro das manhãs que estava tão ferrado no sono que você teve que pôr o celular na soneca mais duas vezes. Mas nesta manhã, se você estivesse aqui, eu acordaria, mais viril do que nunca, com saudades do seu corpo, com vontade dele.
Mas você não estava, havia partido já fazem três dias, eu senti sua falta todas as setenta e duas horas, todas as três vezes que acordei sozinho neste quarto de hotel, relembrando e imaginado as manhãs em que você montava em mim, me dava energia para o dia, mas você simplesmente parou, cansou, desistiu.
Todas as manhãs eu deslizei minha mão direto para o meu pau quando acordei, fiz porque senti falta, porque era rotineiro. Imaginei você em cima de mim, como todas as manhãs, como se acordasse pronto para isso, cavalgando como se competisse, o prêmio era a endorfina que seu cérebro libera quando tinha um orgasmo, você fazia isso e apenas por isso, você ficava tão mais leve, humorado, raramente brigávamos quando o dia começava assim.
E então de repente você parou de esticar o braço e pôr na soneca, de montar, de ficar humorado. Houve uma manhã que tentei, não seria o mesmo porque você gostava de ter tudo no controle - especificamente pela manhã. Você não aceitou, não insisti.
Brinquei comigo mesmo, por onde você esteve?
Voltei a dormir.
Nos meus sonhos você voltava para mim, diria que sente muito, que estava confuso, e que a melhor coisa foi entender que precisava de mim.
Acordei às onze horas, o celular ainda despertava - porque não fiz questão de desligar as sete horas.
Vou escrever uma música, vou por minha dor em notas, a melodia vai ser calma, as pessoas vão saber que é sobre você, afinal tudo tem sido sobre você.
Numa manhã de domingo acordei com você de pé na frente da porta, vestia aquele moletom que mesmo grande demais, você insistia em usar ao invés de comprar um do seu tamanho, duas malas ao seu lado e um par de tênis da vans nas mãos, pegou suas coisas prioritárias. Mandaria alguém buscar o resto depois. Eu não saberia como começar o anúncio do fim, nem diferenciar o prioritário do não, se eu tivesse que partir naquela manhã. Mas você soube.
Imaginei quanto tempo demorou para fazer as malas naquela manhã, se havia pensado em qual par de meias levaria, se pegaria todos os pares de tênis de uma coleção ou um de cada, afinal eram muitos.
Eram. Porque no dia seguinte, um amigo seu ligou dizendo que iria buscar as coisas que você deixou para trás, na sua fuga apressada.
Na garagem, naquela mesma manhã de domingo, com suas coisas no porta-malas, você disse que eu sempre seria o homem da sua vida. Já que eu serei o homem da sua vida, por que não ligou? Porque era mentira. Não quis me rever, quer me esquecer, para sempre?
O amor da minha vida quer esquecer o homem da sua vida!
"Pessoas mentem para não machucar, machucam, porque mantem", li em um livro.
Fiquei bêbado ao meio dia, não nos falamos desde que você foi embora.
Peguei o celular, digitei seu número, apaguei. Fiz isso nove vezes.
Eu estava em uma luta interna, em te dar um tempo, me dar um tempo, mas não conseguia. Esperava sua ligação a todo instante, pulei quando o celular tocou, era telemarketing.
"Pode ser que você tenha novas mensagens" dizia o viado do Whatsapp, até meu celular sente sua falta, a propósito.
Nunca me senti menos descolado, não me sentia humilhado, não tinha vergonha de sofrer por amor, por você, meu amor. O silêncio confortável é tão superestimado, você consegue me ouvir gritar?
Um pensamento persistia: À quanto tempo? À quanto tempo você aguentou, teria tomado a decisão logo que viu que não daria mais ou já queria ter ido antes? Você nunca foi o primeiro a ceder.
Queria morfina, tem mais alguma coisa para fazer? Apenas me avise, estarei aqui, esperando que você apareça, e talvez possamos resolver isso.
Nos dias que se seguiram andei pelas ruas o dia todo, vi seu amigo do trabalho, ele disse que você está bem. Vejo que deu a ele minha camiseta velha, ainda tinha uma mancha de ketchup na gola, de uma brincadeira idiota que fizemos na cozinha uma vez. Eu fazia questão de lavar a mão para não remover por completo, gostava da lembrança, ele também faz isso? Ou coloca na máquina junto com as outras? A mancha ia sair na primeira lavagem, nossas memórias iriam desaparecer junto.
Vejo o que está escrito, está estampado no rosto dele. Apenas me pergunto se vou seguir em frente, como você fez.
Em uma semana ainda tínhamos chances, em um mês seria suficiente para pensar, pôr as ideias no lugar, e em seis meses pensei na ideia de ser definitivo.
Talvez um dia você me ligue, e diga que também sente muito.
Mas você nunca liga.
Acordei o cara que se parece com você, eu quase disse o seu nome.
Faz três anos, senti sua falta todas as vinte e seis mil duzentas e oitenta horas. Ele sabe sobre você, me viu chorando por você, me abraçou e disse que ficaria tudo bem. Ele não se importa, porque gosta de mim, eu dele, mas não era você.
Não nos falamos desde que você foi embora, mas passado um ano eu liguei, esperei por você trezentos e sessenta e cinco dias, e não ligou. E quando eu fiz, você não atendeu. Me surpreendi com o número ainda estar ativado.
Tentei todas as noites, tentei todas as mil e noventa e cinco noites, e tentarei mais mil.
Talvez um dia você retorne a ligação, e diga que sente muito.
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Inspirado em:
From The Dining Table e Meet Me In The Hallway, música de Harry Styles.
A Segunda Vez Que Te Conheci, livro de Marcelo Rubens Paiva.Escrevi esse one shot pra treinar a escrita 😔😔
obs: talvez você possa ter lido essa mesma one shot mas Harry se lamentaria por uma mulher, a original é essa, mas decidi trocar.