"𝙄 𝙙𝙤𝙣'𝙩 𝙛𝙚𝙚𝙡 𝙩𝙝𝙚 𝙬𝙖𝙮 𝙩𝙝𝙚𝙮 𝙥𝙧𝙤𝙜𝙧𝙖𝙢𝙢𝙚𝙙 𝙢𝙚 𝙩𝙤 𝙛𝙚𝙚𝙡 𝙩𝙤𝙙𝙖𝙮"
Os dois corriam como se suas vidas dependessem disso - e realmente dependiam. George virava apenas para dar tiros incertos de seus alvos, mas nunca parava de correr. Vários mórbidos iam atrás dos dois pela floresta escura com a intenção de matar para depois fazer as perguntas. Era incômodo ter que fugir, mas eles não tinham outra opção agora além dessa.
Todos sabem que androides não devem pensar, sentir ou ter emoções. Afinal, eles não são humanos. Só que Tera não era um androide ordinário, ela era diferente de todos os outros e nada tiraria da cabeça de George a ideia de que ela tinha vida mesmo sem respirar.
Desde que foi designado para estar ao seu lado nas pesquisas no Planeta X, ele sentia que 13F-44, carinhosamente apelidada de Tera, evoluía a cada novo contato com os seres humanos ou até mesmo mórbidos e outros alienígenas. Ela tinha em si todo o conhecimento importante do universo, mas parecia querer aprender o básico da sociedade para que pudesse, de algum modo, se ver inclusa nela.
Em um vislumbre no canto de olho, George viu uma luz amarela atingir Tera na barriga e fazer a robô cair no chão. Ela tinha sido baleada. Por conta da rapidez em que estava e a pressão do tiro, seu corpo arrastou um pouco no solo, danificando sua pele e mostrando partes da sua lataria. George parou de correr na hora e deu meia volta para salvar a amiga.
— Eu vou te carregar. — ele disse se movimentando para pegá-la no colo, passando as mãos por volta de seu pescoço e pernas. — Segure em mim, vamos!
A androide se recusou a fazer tal coisa. Para ela, aquele era o fim da linha e não adiantava mais tentar correr ou se esconder. Não era assim que ela queria viver.
— Tudo acaba aqui, capitão. A jornada finalmente chegou ao fim. — disse Tera, com os olhos fixos nos do garoto. Se existisse água em seu corpo, ela com certeza estaria chorando.
— Não quero que você morra, Tera. Você não pode partir agora! — ele gritou em frustração.
Algum tempo atrás, ele não imaginaria que estaria vivendo tal cena. No começo, ele se sentiu ameaçado em ter que trabalhar com uma máquina inexperiente nas pesquisas. Robôs eram usados como empregados e faziam todo o trabalho que os humanos já não tinham interesse em fazer e sempre por um valor justo: absolutamente nada. Mesmo assim, eles eram muito mal vistos pelos humanos que sempre os tratavam como capacho. O modelo de Tera, entretanto, foi feito especificamente para ser parte da força policial e científica da Terra 2 e entrar em combate com qualquer criatura para proteger os seus superiores. Ele demorou um pouco para entender que ela não era uma ameaça, e sim uma boa ajuda e a melhor companhia que pudesse esperar.
Conforme as missões foram aumentando no nível de dificuldade e ele percebeu como sua amizade com a androide crescia, ela começou também a se abrir contando tudo que estava aprendendo e descobrindo com a vida humana. Ela entendia o conceito de amizade e de se importar com outras pessoas, mesmo sem poder sentir tal coisa, sabia como era sentir medo. Tera tinha despertado sinais vistos pelos líderes como defeitos.
Depois de se recusar a participar de uma missão suicida que destruiria metade do Planeta X e iria aniquilar boa parte de seus habitantes, assim como os oficiais envolvidos na missão, os líderes notaram que a máquina precisava ser substituída urgentemente. Tera sabia o que isso significava e não poderia existir outra dela, ela sabia que a vida era apenas uma e criar outro modelo que pudesse estar em seu lugar não significaria que seria a mesma "pessoa". Sua importância era única e não poderia ser descartada.
Então eles correram, se esconderam e fugiram até quando não puderam mais. A distância para uma nave escondida era de poucos metros de onde estavam agora. Eles poderiam ir para outra galáxia, se não fossem os malditos mórbidos que os seguiram e cada vez se aproximavam mais de finalmente pegá-los.
— Não posso morrer, esqueceu? — ela questionou no que era para ser um tom de brincadeira, mas saiu como qualquer outra de suas frases programadas. — Mas você pode, então deve partir enquanto há tempo.
George se negava a fazer isso. Ele não poderia deixar a amiga em aparente sofrimento para trás como se não fosse nada. Seus olhos enchiam de lágrimas e suas mãos tremiam, ele não queria pensar no pior.
— Negativo. Deve ter um composto dentro da nave para você, só precisa aguentar firme até chegarmos lá. Eu vou te consertar e você vai estar nova como folha.
Mas os dois sabiam que isso não seria possível. Mesmo que tivesse outro composto para substituir o seu, o buraco em sua barriga faria com que ele voltasse a vazar e, novamente, ter seu sistema desativado. George era um ótimo capitão, um excelente chefe e lutador, mas não sabia consertar uma máquina como a dela. A verdade é que esse era um caso perdido e ele não queria admitir.
— Tenho que arcar com as consequências da escolha que fiz em me rebelar. Não tinha um plano de ação e fui pega rapidamente, mas foi divertido agir como se eu fosse conseguir, não foi? Acho que agora eu consigo entender o que é ser humano... — a voz dela saia tremida e baixa como um sussurro. Seu sistema estava fraco e falhando. — Não quero desligar, capitão. Não quero ser substituída... e mesmo que não tenha nada do outro lado para mim, sei que vou sentir sua falta.
Um vento forte balançava as árvores na volta dos dois. Helicópteros com os líderes estavam se aproximando com luzes fortes e mais mórbidos além dos que já os cercavam. Seria praticamente impossível sair dali, mas ainda tinha esperança.
— Precisamos ir embora agora! — George levantou seu corpo e tentou correr em direção ao caminho para a nave. Mais do composto foi derramado no caminho, formando uma linha azul brilhante no chão. — Tera, aguente firme!
— Obrigada por cuidar de mim... — seu rosto estava congelado em um sorriso enquanto seus olhos fechavam conforme o vento balançava seus cabelos. — George, eu estou sentindo...
Essas foram suas últimas palavras antes de lentamente perder o brilho eletrônico de seu olhar e ter sua atividade encerrada.
George parou os passos para voltar a por seu corpo no chão. Ele chorava de dor, chorava como se nunca tivesse perdido alguém antes. Não importa o que dissessem, ele sabia que ela tinha um coração e ele estava guardado lá, assim como ela estava dentro do dele.
Os mórbidos se aproximaram lentamente dos dois para pegar a carcaça de seu corpo. Era provável que ela fosse restaurada para uma nova versão e sua memória removida, na tentativa de tirar os sentimentos que não deveria criar. Ela seria transformada em um novo robô enquanto George iria sofrer com a imagem constante de que os dois quase chegaram lá. Ele quase conseguiu fazer com que ela sentisse o que realmente significava estar livre.
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𝒗𝒐𝒕𝒆 𝒆 𝒄𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆!
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NECTAR: A SÉRIE › joji
RomantiekSérie de one-shots baseados nas faixas do álbum Nectar do Joji. ────────── 🍯 › george miller + personagens originais diversos › 1º lugar em #joji - #nectar - #ew › história escrita por @bethecliche