I. nothing else matters

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"So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters"
- Metallica

         Cantarolo alegremente ao som de uma música romântica do bon jovi que tocava na rádio, o centro de Chicago estava uma bagunça então acabei pegando as estradas secundárias para ir até o hotel onde seria o tal encontro

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         Cantarolo alegremente ao som de uma música romântica do bon jovi que tocava na rádio, o centro de Chicago estava uma bagunça então acabei pegando as estradas secundárias para ir até o hotel onde seria o tal encontro.
          Na minha frente vejo o painel do carro assumir todos os tipos aviso, sinto o carro perder potência enquanto continuo andando.

— droga, droga, droga! - xingo enquanto encosto o carro em uma vaga na rua e ligo o pisca alerta.
           Desligo o carro e tento ligá-lo novamente, o motor engasga e solta um rugido que não é nada normal. Ótimo, meu carro quebrando era tudo que eu precisava agora. Pego meu telefone já sabendo que vou encontrar uma área sem sinal, essa parte de Chicago era péssima em telefonia.
           Olho pelas janelas a procura de algum estabelecimento e vejo a placa do bar do joe piscando há uns 250 metros. Pego minha bolsa e desço da cherokee 99 trancando-a. Não nevava mais na cidade desde a semana passada, mas uma chuva fina estava caindo no momento, o que dificultava minha caminhada até o bar nos saltos scarpin.
          O bar do joe, lugar em que passei a maioria das noites da minha adolescência, era uma lembrança antiga na minha vida, da época em que eu usava calças justas demais, casacos de couros e uma identidade falsa.
           Entro no bar e aproveito da temperatura quente proporcionada pelo aquecedor, passo a mão pelo meu cabelo solto arrumando o frizz causado pelo chuva. O local não estava muito lotado, apenas algumas mesas com amigos aqui e ali, rumo até o balcão para fazer meu pedido.
- Boa noite, do que você gostaria? - o barman se aproxima.
- O que você tem mais próximo de água? - pergunto ao cara, uma coisa que aprendi ao longo das minhas noites aqui era que água daqui era tudo menos potável.
- Bud light
- Pode ser - eu respondo e logo ele me entrega a cerveja gelada, eu o pago. - posso usar o telefone daqui ? A minha operadora não pega aqui.
- Claro, por aqui. - ele anda até um canto do balcão e eu o sigo pelo lado de fora, ele me entrega o telefone fixo e eu agradeço.
Disco o número de lexie e a aviso o que aconteceu com meu carro e que não conseguiria chegar a tempo, ela pede para que eu a avise quando chegar em casa, mando um beijo pra ela e desligo. Ao devolver o telefone me deparo com a visão mais inesperada de todos os tempos.
Parece que eu voltei há 11 anos atrás, quando entrava no joe e buscava pelo homem de cabelos loiro escuro e sorriso encantador nos lábios. Eu nunca conseguiria não reconhecê-lo, mesmo depois de tanto tempo.
- É como seu tivesse entrado em uma máquina do tempo e voltado para quando Kyle warner tinha 18 anos e só era encontrado em um bar! - falo assim que chego ao seu lado, ele larga o uísque no balcão lentamente e se vira com os olhos verdes arregalados.
- Jay? Meu Deus quanto tempo! - ele se levanta e me puxa para um abraço. Seus braços são forte e tenho a impressão de que deixei o chão por alguns segundos. - Você está linda!
- Você também não está nada mal, ky. Mas você já sabe disso. - respondo rindo. Na verdade ele continuava o mesmo, apenas o fato de que algumas rugas se mostravam no canto dos olhos, existiam mais sardas agora ao longo da bochecha e ele tinha braços fortes de puro músculo.
- Veio relembrar os velhos tempos aqui no joe? - ele pergunta enquanto eu bebo da minha cerveja.
- Não, na verdade meu carro pifou aqui perto e eu vim usar o telefone. - respondo a ele me apoiando ao balcão do bar. Me lembro que teria que perguntar ao barman depois se ele sabia de algum guincho ou oficina para eu ligar depois.
- Desde quando você dirige? Pelo que me lembro você mal conseguia andar em linha reta sem invadir o quintal de alguém. - ele ri e eu reviro os olhos. - Não sabia que existia aulas de direção na grade de Stanford.
- Não existe, mas dirigi alguns conversíveis para aprender. - retruco e o vejo assentir.
- Bom posso dizer que hoje é seu dia de sorte. - ele diz depois que termina sua bebida e se levanta. - Estou acostumado a ter que vistoriar os caminhões da estação, posso dar uma olhada no seu carro.
- Estação? Você...
- Sou bombeiro, e você parece surpresa. - ele diz enquanto caminhamos até a saída, suas mãos pousando nas minhas costas.
- É que quando eu fui para Stanford você estava indo fazer engenharia mecânica na upen. Mas bombeiro... nossa! É uma profissão incrível. - falo sem conseguir expressar meus sentimentos sobre isso. Fazia sentido Kyle decidir essa profissão, e eu sabia o quanto isso significava pra ele.
- Eu fiquei um semestre na upen, mas não era muito o que eu queria, então voltei pra Chicago e me inscrevi nos bombeiros. Onde está seu carro?
             Aponto para o começo da rua e ele assente, ele diz que vai pegar umas ferramentas no carro dele e sai correndo em direção a uma ram azul marinho enquanto eu espero na marquise do estabelecimento. Ele volta vestido com uma jaqueta mais quente e uma bolsa na mão, enquanto a outra voltava para as minhas costas.
            Caminhamos silenciosamente até meu carro, nos concentrando para não derrapar por causa da chuva. Olho para Kyle e vejo as gotas finas de chuva descendo sobre seu rosto, ele era um bombeiro agora e eu nunca tinha visto uma profissão se encaixar tão bem com alguém.
             Quando Kyle tinha quatro anos sua casa pegou fogo, e enquanto seu pai acordava sua mãe foi Kyle o responsável por tirar seu irmão de um ano da casa. Ele disse uma vez pra mim que era desesperador, as portas estavam bloqueadas pelo fogo e se um bombeiro não tivesse o chamado pela janela da sala ele não saberia onde ele e o irmão mais novo estariam. Um bombeiro salvou sua vida e agora ele salvava outras vidas.
          Depois do fogo seus pais começaram a brigar muito, querendo se culpar pelo incêndio, então eles separaram e deixaram Kyle e Jack no meio do fogo cruzado. Ky foi praticamente o pai de Jack, era ele que garantia que o irmão tivesse comido, ido à escola, feito as tarefas, porque os pais estavam muito ocupados se odiando.
             Era por isso que Kyle ia ao bar com uma identidade falsa quando éramos mais jovens, porque as vezes ele precisava de um tempo pra ele mesmo, para descansar.
             Eu não sabia porque comecei a ir ao bar do joe, eu só ia. Como toda adolescente normal eu tinha problemas em casa, mas nada muito grave.
Eu perdi meu pai com 5 anos para um acidente de carro. Meu pai era corretor de seguros e deixou uma boa reserva pra mim e minha mãe e também um pouco para a faculdade. Minha mãe era dona de casa, uma expressão muito educada, porque na verdade podia-se dizer que ela era uma  dondoca que não se importa com um diploma. Era por isso que não nos dávamos muito bem, porque enquanto eu queria estudar e manter meu currículo perfeito para a faculdade, ela queria que eu aprendesse a me maquiar e arrumar meu cabelo, e ficar linda para achar "um lindo marido rico". Então a gente brigava, e eu ia ao joe.
- O que aconteceu mesmo? - ele pergunta assim que chegamos no carro.
- Eu estava dirigindo e então um monte de luz acendeu no painel e daí ele parou. Eu tentei ligar de novo mas o motor fazia um barulho que não era normal. - falo enquanto abria o carro, jogo a bolsa pra trás e entro no jeep, coloco a chave na ignição e viro apenas o primeiro estágio, mostrando as luzes. - olhe, eu não entendo nada disso.
- Deixe eu ver. - ele se inclina pra dentro do carro, seu rosto fica perto do meu e sinto seu perfume de canela com hortelã-pimenta. - radiador e temperatura. - ele aponta para as figuras no painel.
- Isso é grave ? - pergunto olhando pra ele.
- Não, eu tenho líquido pra radiador no meu carro, eu vou lá buscar e já vou devolver a bolsa de ferramentas, não vou precisar delas. - ele diz colocando a mão no teto do carro. - me espere aí dentro e tranque o carro.
            Ele fecha a porta e eu tranco o carro, agradeço mentalmente por não ser nada grave no carro, faltavam apenas 10 meses para as parcelas do empréstimo acabar e então eu poderia finalmente trocar essa lata velha por um carro melhor. Essa lata velha nunca te deixou na mão, jade, não se esqueça disso.
         Ky volta com uma garrafa e lanterna nas mãos, aperto o botão para abrir o capô e desço do carro. Ele pede para eu segurar a lanterna enquanto abre o capô, então eu ligo ela e pergunto onde precisa do foco.
- O motor ainda está quente, vou ter que esperar um pouco pra mexer. Você poder esperar no carro se quiser. - ele se apoia na parte da frente do carro.
- Não me importo de esperar aqui com você! - aperto mais o casaco no meu corpo e me sento ao seu lado.
- Você vai congelar aqui fora... - ele diz num tom de aviso.
- Você também! - retruco e vejo suas orbes verdes rolarem, ele se aproxima mais e passa seu braço esquerdo sobre meu ombro, seu corpo está quente e isso é confortável como moletom e pantufas. - obrigada. - eu sussurro e ky apenas assente.
- Era a van do petshop, não conversíveis! - confesso depois de um tempo em silêncio, mesmo depois de todo esse tempo nunca consegui mentir pra ele.
- O que ? - Kyle pergunta, não entendendo o que eu disse.
- Eu aprendi a dirigir porque o único emprego que achei em Stanford era dirigir a van do petshop para buscar os cachorros. - explico pra ele.
- Pra quem mal dirigia um carro você se arriscou muito indo direto para uma van! - meu melhor amigo de infância ri da minha cara.
- Vai a merda, idiota!
- Sua boca continua suja pelo jeito. - ele se vira e você volta com a lanterna para ajudá-lo. - bom, vamos arrumar seu carro para que você possa voltar pra casa.
            Ele se inclina sobre o motor do carro, abre a tampa de um reservatório e despeja o líquido da garrafa dentro e depois o fecha. Esperamos mais alguns minutos e então Kyle pede para eu tentar ligar o carro de novo.
- muito obrigada, ky! Você me salvou! - eu o agradeço assim que o deixo na frente do bar após o motor pegar.
- Não foi nada, só estava ajudando uma amiga. - ele da de ombros.
- Me dá seu telefone. - eu peço saindo do carro e ele franze as sobrancelhas. - vou te dar meu número.
Ele estende seu telefone depois de desbloquear a tela, salvo meu numero e mando um oi para o meu celular.
- Estou te devendo uma, posso te pagar um jantar amanhã ou um dia depois do dia dos namorados significa deixar você com esperanças? - pergunto e ele ri, aquela risada que eu não escutava a tempos.
- Não, nada de esperança por aqui.
- Bom, mas agora falando sério, você está livre amanhã? Nenhum plantão louco como bombeiro? Ou com alguém em casa te esperando? - eu tinha que perguntar se tinha alguém em casa esperando por ele, quer dizer era dia dos namorados e ele estava sozinho em um bar, mas eu precisava precaver.
- Não e não, estou livre pra você amanhã. Mas você sabe que não precisa, realmente. - ky diz sem jeito.
- Eu sei, mas quero colocar as coisas em dia com meu amigo! - respondo sinceramente. - tchau, ky! Muito obrigada!
- Tchau, Jay! Dirige com cuidado! - ele me abraça mais uma vez e eu não queria sair nunca daquele abraço quente, cheiroso e confortável. Ky se afasta e beija minha testa.
- ky? - ele me olha, a mão ainda na minha bochecha - foi bom ver você, eu senti sua falta!
- Eu também senti sua falta, Jay! Mais do que imaginava. - ele afaga meu rosto e me dá um lindo sorriso antes de se afastar.
          Eu entro no carro e espero ele entrar no bar novamente para então dar partida e poder enfim ir para casa.

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